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10 de abril de 2018
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16:09

Ato pela liberdade de Lula marca segundo encontro por unidade da esquerda no RS

Por
Luís Gomes
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Ato pela liberdade de Lula marcou o segundo encontro do seminário “Desenvolvimento Nacional: Dilemas e Perspectivas” | Foto: Ronaldo Quadrado/Sul21

Luís Eduardo Gomes

Deveria ser apenas o segundo encontro do seminário “Desenvolvimento Nacional: Dilemas e Perspectivas”, que está ocorrendo às segundas-feiras na Assembleia Legislativa em uma promoção das fundações dos partidos PCdoB, PT, PDT, PSOL e PSB para a construção de um programa político e econômico comum, mas, dada a conjuntura, acabou se transformando em um ato em defesa da liberdade do ex-presidente Lula, preso desde sábado na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR). Apenas em um segundo momento, também se discutiu o tema original do evento, a soberania nacional e a integração internacional não subordinada.

O começo da atividade foi marcado pelo canto de um trecho do samba-enredo da escola Imperatriz Leopoldinense, campeã do carnaval em 1989, cuja letra exige “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós e que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz”. Na sequência, houve a declamação de um poema em que se pedia aos cidadãos e cidadãs que gritem para que os fantasmas que governam o país voltem às trevas.

Presidente estadual do PCdoB, Adalberto Frasson destaca que o seminário teve o objetivo de denunciar a “ilegalidade da prisão do Lula”. “O nosso sentido é iniciar um processo de mobilização que possa inclusive envolver os setores democráticos que entendem que a Constituição está sendo rasgada”, disse Frasson, que destacou que participaram do ato representantes do PCdoB, do PT, do PSOL e do PSB — o primeiro painel do seminário teve a presença de Jairo Jorge (PDT), pré-candidato ao governo do Estado, mas o evento ocorreu simultaneamente à participação do presidenciável Ciro Gomes (PDT), no Fórum da Liberdade, o que acabou atraindo a cúpula do partido no Estado.

Frasson destaca que o seminário tem por objetivo dar corpo ao manifesto lançado em fevereiro por PT, PCdoB, PDT e PSOL em defesa de um novo projeto nacional. Apesar de o partido não ter aderido formalmente, setores do PSB também estão participando dessa tentativa de construção de um programa mínimo comum, baseado em valores como a soberania nacional e a defesa de direitos sociais.

Foto: Ronaldo Quadrado/Sul21

O deputado estadual Tarcísio Zimmermann (PT) pontuou que o seminário acabou se convertando em ato de apoio ao ex-presidente por se tratar de um primeiro momento institucional aberto ao público no RS após a prisão de Lula. “Se colocou a perspectiva de discutir o futuro do País diante dessa realidade de prisão injusta do presidente, inclusive para começar a organizar de forma mais efetiva um processo de resistência frente ao agravamento do estado fascista no Brasil”, disse.

O deputado estadual Edegar Pretto (PT) defendeu que a unidade no campo progressista passa por uma mobilização contra a “prisão ilegítima de Lula”. “É necessário que haja uma ampla mobilização, não só do PT, não só do PCdoB, tem que ser de setores nacionalistas — que podemos encontrar inclusive em partidos de centro –, que sejam a representação de setores da sociedade que não sejam vinculados a partidos políticos, mas que pensam o Brasil como nação soberana, democrática, porque, nesse momento, sim a democracia nacional está muito fragilizada”, afirmou.

O ex-deputado Raul Carrion (PCdoB) disse que a Constituição Federal e outras agressões de direitos humanos foram “deixadas de lado” com a prisão de Lula. Segundo ele, a soberania nacional “está sendo pisoteada por essa quadrilha que se encontra governando o Brasil” e somente a mobilização popular “pode vencer a luta contra todas as injustiças”. Carrion lembrou que “a Ditadura Militar no Brasil não caiu por nenhuma decisão do Supremo Tribunal Federal. “Essa e outras instituições se dobraram ao poder dos generais”.

Já o dirigente do PSOL e representante da Fundação Lauro Campos, Mario Azeredo reafirmou posições oficiais do partido: houve um Golpe no Brasil; o impeachment de Dilma Rousseff foi uma farsa; a vereadora Marielle foi assassinada; querem manter o Lula preso para tirá-lo da disputa eleitoral; e o PSOL estará junto em todas as trincheiras de esquerda

O vice-presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTTB) e representante da Fundação João Mangabeira (PSB), Vicente Celistre disse que “os tempos são de provação e a unidade nunca foi tão necessária e desafiada”. “Nós, que defendemos a democracia, estamos mais desafiados pelos tempos que estamos vivendo e o desafio que está pela frente é programático. Esse ato é mais um para alertar o país”, disse.

Foto: Ronaldo Quadrado/Sul21

O lado oposto do Fórum da Liberdade

Um dos palestrantes originalmente escalados para participar do debate, o pré-candidato ao governo do Estado Miguel Rossetto ressaltou o papel do evento de expressar a unidade política dos partidos do campo de esquerda, mas defendendo que ela ainda precisa ser ampliada. “É uma unidade construída em cima de compromissos, de um país construindo com democracia, com liberdade. E o Brasil com projeto de desenvolvimento para todos. Um Brasil participando numa comunidade latino-americana no mundo inteiro, com altivez, colaborando com a paz e com o desenvolvimento de todo o mundo. Uma agenda de paz, de solidariedade, de desenvolvimento”, disse.

Contrastando com outro evento que ocorria no mesmo horário, o debate de presidenciáveis no Fórum da Liberdade, em que a defesa de privatizações foram repetidas como mantras, Rossetto destacou que a defesa da soberania passa justamente em um posicionamento contrário às privatizações, especialmente de recursos naturais. “A privatização de bens naturais, da nossa água, da nossa terra, é inaceitável. “São bens comuns que devem ter a utilização e o cuidado regulados a partir da sua função social e do seu interesse para a sociedade brasileira”, afirmou.

Falando à reportagem antes do evento, Zimmermann também contrapôs os projetos defendidos no seminário dos partidos de esquerda e no Fórum da Liberdade. “Essa Fórum da Liberdade se apropriou da palavra liberdade, que na verdade é a liberdade para exploração, para o capital, nunca foi a liberdade para os povos. Aqui nós discutimos outra perspectiva, de solidariedade, da inclusão, das oportunidades para todos e não da maximização dos lucros do mercado”, disse.

Ainda serão realizados mais quatro debates nas próximas segunda-feiras. O próximo terá como tema a Política Macroeconômica Desenvolvimentista, Inclusiva e Sustentável. Participarão o senador Roberto Requião (MDB), o economista Luciano Coutinho e o ex-deputado federal Hermes Zanetti, representando a Fundação João Mangabeira.


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