Últimas Notícias > Política > Areazero
|
26 de março de 2018
|
21:31

Henrique Meirelles: ‘Presidência não é meramente uma questão de desejo. É oportunidade e destino’

Por
Sul 21
[email protected]
Apesar de confirmada por Temer, ministro da Fazenda disse que decisão sobre possível candidatura à presidência só será anunciada semana que vem | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Fernanda Canofre

No final da manhã desta segunda-feira (26), Michel Temer (MDB) anunciou que estava acertando a ida de Henrique Meirelles para seu partido e a saída do Ministério da Fazenda, para alinhar sua candidatura. Durante encontro com empresários na Federasul, em Porto Alegre, porém, o ministro mediu palavras como “tranquilidade”, “cautela”, “seriedade”, “coerência” e hesitou em confirmar se será ou não parte da chapa presidencial do partido nas eleições de outubro.

Segundo ele, a decisão final será anunciada no início da próxima semana. Ela estaria baseada no resultado de uma série de pesquisas qualitativas, encomendadas pelo próprio Meirelles em várias regiões do país, para entender “o que pensa, o que quer o brasileiro, o que deve ser levado em conta numa decisão dessas”.

“A minha consideração é evidentemente a presidência, é o que estou considerando. Agora, evidentemente que temos que olhar a questão do que quer a população, todas as questões eleitorais, visando evitar que ocorram resultados que sejam negativos para o país”, disse ele em coletiva.

Em entrevista à revista Época, publicada neste final de semana, o ministro disse que se não for candidato, gostaria de estar com Temer em sua posse, em janeiro de 2019. Em Porto Alegre, deu a entender diversas vezes que pretendem seguir trabalhando juntos. Meirelles se esquivou de responder se aceitaria ser vice do atual presidente da República.

A decisão também dependeria de qual partido terá ele como filiado. Na mesa, estariam o MDB de Temer, o PSD e “partidos menores”, que Meirelles não quis nomear. A decisão de qual seria seu destino será anunciada “na hora certa”, segundo ele.

“Não é o momento de dizer ou um ou outro. O PSD está em outro projeto, não acredito que vá ter candidato próprio a presidente. É uma decisão que não está tomada, mas uma questão de tamanho do partido, de estrutura, etc. O MDB é diferente, certamente, está num momento que tem tamanho, tem história, é um grande partido brasileiro e tem o presidente da República atual”.

Perguntado sobre a possibilidade de repetir a aliança que está no Palácio Piratini, no Rio Grande do Sul, que tem José Ivo Sartori (MDB) como governador e José Cairoli (PSD) de vice, ele respondeu rindo: “Pode ser qualquer coisa, tudo bem. É importante tomar a decisão, [depois] vamos ver”.

Ele se esquivou de citar nomes para possíveis indicados para sua vaga, caso a decisão seja sua saída do ministério, “porque seria injusto com o país”. Ele indicou, porém, que o nome deve sair de dentro de sua equipe atual, que já foi chamada na imprensa de “time dos sonhos”.

“Eu sinto uma grande responsabilidade. Eu avalio com muita seriedade onde melhor posso servir ao país” | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Presidência é ‘oportunidade e destino’

Meirelles afirmou que decidir se concorre ou não como vice seria uma das questões que está pesando sua permanência ou não no ministério da Fazenda. A demora em uma resposta pontual, diz ele, seria para evitar “tomar decisões precipitadas por vontade, por impulso, por vaidade”.

“Eu tenho uma posição, tenho praticado isso a vida toda, no momento que eu toma a decisão final, eu anuncio. O partido, MDB, está redigindo um programa que seria a segunda etapa da Ponte Para o Futuro e eu tenho grande convergência com o que está sendo estruturado. Não chegamos ainda a uma conclusão final”.

O ministro lembrou que já foi convidado a compor chapas na posição de vice em outros dois momentos, mas que decidiu não aceitar. Na fala a empresários, porém, ele disse que o momento atual era muito importante, que definiria o Brasil dos próximos anos e que gostaria de fazer parte dele.

“Presidência não é meramente uma questão de desejo, é uma questão de oportunidade e destino. Eu estou fazendo toda essa avaliação para ver se serei ou não candidato”, afirmou a jornalistas.

“Eu sinto uma grande responsabilidade. Eu avalio com muita seriedade onde melhor posso servir ao país. Antes de entrar no Banco Central, há 15 anos, era presidente de uma grande organização global, morava no exterior, tinha atingido o ponto máximo no sistema financeiro. Fui o primeiro brasileiro a atingir uma posição desse tipo. Num certo momento, cheguei à conclusão que eu tinha que retribuir o que tinha recebido do país, que foi educação, de colégio público e universidade pública. Minha questão era: onde posso melhor adicionar valor? Essa é minha decisão”.

Reforma da Previdência

Uma das bandeiras de Meirelles quando aceitou assumir o ministério com Temer era ver aprovada a Reforma da Previdência. Quando foi tomada a decisão de intervenção federal no Rio de Janeiro, porém, a votação da mesma no Congresso se tornou inviável pelas regras da Constituição Federal.

Meirelles diz que participou da decisão pela intervenção, que “a escalada de violência no Rio não poderia continuar da maneira que estava”. “Era uma questão de prioridade. O próprio governador do Rio estava presente na reunião e defendeu a intervenção. Evidentemente, no momento que se encerre a intervenção, aí sim acredito que a reforma será aprovada”.

“Eu não vou me pronunciar sobre decisões judiciais, não acho correto ficar qualificando uma decisão da Justiça” | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Lula

A decisão unânime do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) de rejeitar os embargos da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), confirmando sua condenação, foi lida pela presidente da Federasul, Simone Leite (PP), e aplaudida pelos presentes. O governador José Ivo Sartori (MDB) e seu secretário da Fazenda, Giovani Feltes (MDB), estavam em uma das mesas em frente ao palco.

Meirelles passou a mexer no celular no mesmo momento. Na coletiva, porém, ele – que foi presidente do Banco Central no primeiro governo Lula – também não quis manifestar opiniões sobre o caso do ex-presidente. “Eu não vou me pronunciar sobre decisões judiciais, não acho correto ficar qualificando uma decisão da Justiça”.

Um jornalista o questionou sobre as manifestações que tentaram impedir a caravana petista no Rio Grande do Sul, na semana passada. “Sob o aspecto legal do ex-presidente Lula, é uma questão do Judiciário, não me compete opinar. Acho que o Judiciário está fazendo suas investigações, apresentando seus argumentos, vamos aguardar o desdobramento. Em relação a questão eleitoral é outra história, pode ser que ele seja candidato até o final ou não. Mas vamos aguardar. Acho prematuro a essa altura quais são os efeitos eleitorais da possibilidade, caso, de fato, ele não venha a se candidatar. Eu não gosto de especular com hipótese”.

Bolsonaro e a pauta conservadora

Identificado como liberal na economia, Meirelles é evangélico e poderia se identificar com a pauta de parte do eleitorado do deputado federal e presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro. Perguntado sobre as diferenças entre eles, o ministro tratou a pauta do parlamentar, que aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos, como “grandes promessas”.

“O ponto fundamental não é uma questão de diferenciar [minha candidatura da dele], mas qual a proposta. A nossa, independente de continuar no ministério, ser candidato ou não, é fazer aquilo que estamos fazendo. Não é uma novidade. Não estou simplesmente anunciando ideias ou fazendo promessas. Não, não, não. Nós estamos fazendo e o Brasil está vendo. Já foi aprovada a limitação do aumento dos gastos públicos, a reforma trabalhista, a lei de governança das estatais, a mudança de administração dos cofres públicos. Isto é nossa proposta, independente do cargo”.

Enquanto Bolsonaro tem posições assertivas sobre pautas como descriminalização do aborto, drogas, Meirelles diz se identificar como um liberal e conservador “em valores de ética, trabalho duro”. “Por essa razão, tenho tido uma identificação e um trabalho produtivo com diversas igrejas evangélicas. (…) A minha posição é de responsabilidade, de ética, de família”.

“Acho que o que está crescendo nas pesquisas, atingiu um certo nível, é conservador no sentido da segurança, muito específico. O que é normal, o Brasil está vivendo uma crise de segurança. Quem propõe soluções radicais para a segurança, ‘bandido bom é bandido morto’, frases bombásticas mesmo que não sejam aceitáveis, consegue uma certa simpatia de uma certa parcela”.

“É normal que [demore] a percepção de que a economia está melhorando, que o país está melhorando, que as reformas estão fazendo efeito, até que de fato isso comece a ser sentido” | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Números “positivos”, aprovação baixa e a pauta da economia

Meirelles caracterizou como “natural” que a população demore a perceber as mudanças que vêm sendo colocadas pelo governo de Temer. O emedebista tem aprovação de 6%, a mais baixa entre os presidentes.

“Acredito que há uma defasagem muito grande no momento que a situação começa a melhorar e o fato de que isso se reflete em diversos índices de opinião. É normal. Isso ocorre, por exemplo, com a inflação. A inflação do ano passado foi a mais baixa desde 1998, no entanto, a grande maioria das pessoas, no momento em que ela já era a mais baixa, ainda estava com a percepção de ela ser elevada porque estávamos saindo de uma situação assim. Está se criando emprego, mas ainda tem muita gente desempregada. É normal que [demore] a percepção de que a economia está melhorando, que o país está melhorando, que as reformas estão fazendo efeito, até que de fato isso comece a ser sentido”, avaliou o ministro.

Ele citou ainda mudanças como a reforma do Ensino Médio, do Fies, como exemplos de mudanças que só serão perceptíveis “gradualmente”.

Meirelles reforçou a necessidade de dar prosseguimento às políticas econômicas do atual governo. Nos números citados por ele, no último ano, o país registrou um crescimento de 2,1%. “Isso significa que a tendência é de 3% este ano. (…) O país já entrou em uma trajetória de crescimento, a questão é manter o que está dando certo”.

Na palestra aos convidados da Federasul, ele disse que o objetivo seria fazer o país evitar “as más soluções”. Depois, explicou que se referia “a uma série de políticas econômicas que deram errado e levaram o país à recessão”.

“Por exemplo, políticas de excesso de gastos públicos, que elevaram o déficit público, proporções muito altas, e o que é isso em última análise? É muito simples, é como uma família que começa a gastar muito mais do que ganha e tomar dinheiro em banco para pagar. Isso vai dar problema cedo ou tarde e foi o que aconteceu com o Brasil. Déficit público aumentou, juro aumentando, dívida pública aumentando. Tudo isso foi corrigido”.

 


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora