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15 de março de 2018
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23:07

Assassinato de Marielle Franco é silenciamento pelo extermínio físico, diz cientista político

Por
Sul 21
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Marielle Franco. Foto: Divulgação
Marielle Franco. Foto: Divulgação
Vereadora Marielle Franco (PSOL). (Foto: Renan Olaz/Divulgação /CMRJ)

Da RBA

O professor e cientista político da Universidade Federal do ABC (UFABC) Vitor Marchetti considera que o assassinato da vereadora do PSOL do Rio de Janeiro Marielle Franco, ocorrido na noite de ontem, pode simbolizar o rompimento de um “pacto institucional” no Brasil.

Ele ressalta que, apesar de ainda existir uma apuração pendente em relação ao caso, tudo indica para “uma execução com indícios muito fortes de que tenha sido cometida por agentes do próprio Estado”. “Um estado que está sob intervenção federal na segurança pública, uma vereadora eleita que tem toda uma representação institucional morta provavelmente por agentes do Estado. Isso não é pouca coisa”, observa, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas. na Rádio Brasil Atual.

“A gente sabe que todos os dias pobres, pretos, periféricos, mulheres são vítimas de violência policial e de toda ordem por parte do Estado, mas esse caso representa algo muito mais forte para o nosso país, a quebra de todo pacto institucional e civilizatório. Estamos indo para um rumo muito perigoso”, alerta. “Estamos lidando com as mortes decorrentes de violência policial com uma naturalidade estarrecedora e não podemos banalizar a morte dessa vereadora, por tudo que ela representa para a luta dos direitos humanos e por sua trajetória pessoal, uma mulher que vem de uma comunidade, da Maré.”

Para Marchetti, o assassinato de Marielle Franco mostra uma outra etapa da tentativa de silenciamento de um espectro político brasileiro. “Passa a ser também um extermínio físico, não só um extermínio intelectual, não só a violência jurídica que temos visto. São instrumentos que o Estado também tem usado para silenciar a esquerda, o discurso dos direitos humanos, o discurso da cidadania, e dessa vez silencia não só por artifícios jurídico-legais, mas por artifícios físicos, com a morte violenta”, pontua. “Ela era essa voz que buscam silenciar cada vez mais, e é uma ação claramente intimidatória. A reação a essa morte não pode aceitar essa intimidação, tem que ser muito forte para dizer ‘não vamos nos calar’.

O cientista político destaca ainda a necessidade de outros segmentos se engajarem na defesa dos direitos humanos. “Temos que chamar a responsabilidade daqueles que não estão no campo da esquerda, mas no campo liberal, que se colocam na posição de se reduzir as funções do Estado. Essas pessoas precisam ser lembradas que essa pauta do liberalismo nasce em uma construção de cidadania contra a violência do Estado, nos séculos 17 e 18. Originalmente, nasceu para proteger a cidadania contra a violência do Estado.”

“A gente precisa chamar a responsabilidade dos atores públicos, dos atores políticos, para se posicionarem claramente a favor da democracia. Se não se posicionarem a favor da democracia, precisamos fazer um outro tipo de debate porque não faz sentido discutirmos eleições presidenciais em um cenário em que os valores mais básicos da democracia já estão rompidos”, pondera.

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