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23 de janeiro de 2018
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16:52

Dilma lidera Ato das Mulheres pela Democracia em apoio a Lula: ‘Nós sabemos resistir’

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Sul 21
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Dilma, no Ato das Mulheres pela Democracia. Foto: Caco Argemi/ALRS

Giovana Fleck 

A manhã desta terça-feira (23) em Porto Alegre deveria ter começado com o Encontro de Mulheres pela Democracia com Lula na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. No entanto, um corte no fornecimento de energia impediu a realização dos seminários que reuniriam nomes como a senadora e presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, a ex-ministra de Políticas para Mulheres Eleonora Menicucci e a ex-presidente Dilma Rousseff.

O ato acabou acontecendo em um caminhão de som, em frente à Assembleia, onde Dilma iniciou sua fala criticando a falta de luz na AL-RS. “Desde que eu estou aqui no Rio Grande do Sul, e lá se vão uns 50 anos, a Assembleia Legislativa não teve energia elétrica [pela primeira vez] pra receber um ato democrático (…) Nós mulheres demonstramos mais uma vez, junto com todos os companheiros que estão aqui nos prestigiando, que nós sabemos resistir”, afirmou a ex-presidenta.

Segundo a Superintendência Geral da AL-RS, a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) foi chamada para averiguar o problema e constatou que se tratava de uma falha técnica na região que teria afetado outros 21 prédios. As principais salas da AL seguiram funcionando por meio de um gerador de energia, o Teatro que sediaria o evento, no entanto, ficou no escuro.

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O evento faz parte do programa de manifestações pela absolvição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Na Praça da Matriz, o encontro foi transformado em Ato de Mulheres pela Democracia. Entre diversas bandeiras de movimentos e partidos; uma, anônima, se destacava. “Juntos somos mais fortes”, “Terra, trabalho e liberdade”, “Direitos para as mulheres negras e indígenas”, são algumas das costuras em destaque. A colcha, bordada por mais de 80 mãos, simbolizava pedidos dos bordadeiros por um país melhor.

 Carla Menegaz coordenou o trabalho por três meses. O grupo, chamado “Bordado Bandeira” produziu a obra como ato de resistência. “A ideia era reproduzir a história de cada um, porque todas elas são políticas”, conta Carla. O projeto foi finalizado em dezembro e desde lá tem aparecido em outros atos para disseminar posicionamentos com “arte, cultura e alegria”.
A colcha, bordada por mais de 80 mãos, simbolizava pedidos dos bordadeiros por um país melhor. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Quando o seminário na Assembleia foi descartado, um carro de som chegou, rapidamente, ao entorno da Praça. Um cordão de mulheres civis se formou, quase imediatamente, para permitir a passagem do veículo. Ali, além de Dilma, falaram lideranças como a deputada federal Maria do Rosário (PT), que afirmou que as mulheres presentes se posicionavam contra a agenda de ação do governo Temer – responsável por ações como a PEC 181. “A defesa dos direitos femininos significa desenvolvimento social e a defesa da democracia com mais liberdade e mais autonomia”. As deputadas federais Benedita da Silva (PT), Manuela D’Ávila (PCdoB) e Alice Portugal (PCdoB) também estiveram presentes.

De cima do carro, Dilma foi a última a se manifestar. O cordão de segurança de mulheres se multiplicou com a aproximação do carro da ex-presidenta de forma espontânea. “Vem companheira, pega no meu braço”, convidavam. Dilma saiu do veículo sorridente. Flores eram jogadas em direção ao cordão. O nome da ex-presidenta era cantado em uníssono por quem estava longe.

Em passos apressados, Jorge Nascimento tentava se aproximar de Dilma. Ele carregava uma bandeira do Brasil com imagens dos dois últimos presidentes do PT. “Já fiz mais de dez. Já entreguei por ex-presidente Lula e hoje vim tentar entregar uma para ela. Essa bandeira representa a luta e representa o povo”, afirma. Há alguns dias, Jorge iniciou sua viagem de Pernambuco a Porto Alegre com necessidade de estar presente nos atos e “pagar sua dívida”. “O que Lula e Dilma fizeram por ti?”. “Por mim? Nada. Não é esse o ponto. É o que eles fizeram pelo Brasil. Eu preciso é de um Estado inclusivo”.

Em seu discurso, Dilma defendeu a inocência de Lula. “Ele foi condenado em um processo político. Seja o que for esse julgamento, com todas as suas falhas (…), eu espero que o Judiciário seja resgatado dentro da democracia. A Justiça não pode condenar inocente”.

Além disso, ela afirma que o processo, iniciado em seu impeachment, seguiu seu curso com as propostas do governo Temer – como o fim do programa Aqui Tem Farmácia Popular, o sucateamento do Mais Médicos e de outras iniciativas sociais. Para Dilma, isso atende a interesses internacionais, ignorando “o que é melhor para o povo”. Ela também critica o que chama de participação da mídia nesse processo. “A Globo escolhe seus candidatos em reuniões fechadas. Inclusive, quiseram indicar um ótimo apresentador, mas que não tem respaldo nenhum para ser candidato”, afirmou, em referência aos boatos sobre a candidatura de Luciano Huck.

“A terceira parte desse processo se consolida com a condenação de Lula e sua impossibilidade de concorrer. Eles não têm candidatos. E não sabem que política social nesse país se faz para milhões, não para algumas dezenas”, afirma Dilma. Segundo a ex-presidenta, isso teria levado ao fracasso do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e do antigo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), hoje MDB – partido de Michel Temer – e ao crescimento de uma força política até então silenciosa no Brasil; a extrema direita. “Ser de extrema direita é defender a tortura. É achar que as mulheres, os indígenas e os negros não merecem reconhecimento. (…) É achar que um é melhor que o outro”.

Dilma se despediu do ato agradecendo às lideranças presentes e às mulheres que a acompanhavam no caminhão de som. Saindo da AL, a senadora Gleisi Hoffmann limpava o rosto com sorrisos após os vários “beijos das meninas”. Ela reiterou as ideias de Dilma de que as mulheres precisam se posicionar por um governo que defenda suas pautas. “Se pensaram que iam apagar a luz da Assembleia e apagar a nossa luta, estavam redondamente enganados”.

Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21
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Foto: Joana Berwanger/Sul21
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Foto: Caco Argemi/ALRS
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