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13 de novembro de 2017
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18:49

Provável pré-candidato ao Piratini, Eduardo Leite (PSDB) diz que Sartori se ‘encurralou na pauta fiscal’

Por
Luís Gomes
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Eduardo Leite (dir.) foi eleito o novo presidente estadual do PSDB, em substituição a Marchezan | Foto: Divulgação/PSDB

Luís Eduardo Gomes 

O ex-prefeito de Pelotas Eduardo Leite foi eleito no último sábado (11) o novo presidente estadual do PSDB no Rio Grande do Sul, assumindo o cargo que até então era ocupado pelo prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Jr. Os tucanos gaúchos não oficializaram a pré-candidatura de Leite ao Palácio Piratini em 2018, o que já é foco de discussões de bastidores há meses, mas o próprio Marchezan, nas redes sociais, tratou o pelotense como futuro candidato ao governo do Estado. Em conversa por telefone com o Sul21 nesta segunda (13), Leite também não assumiu oficialmente a posição, mas disse que é natural que o partido tenha candidatura própria, que está construindo um projeto nesse sentido e que se coloca à disposição dos correligionários para assumir a função.

Ao longo de pouco mais de 10 minutos de conversa, o ex-prefeito de Pelotas, que optou por não se candidatar à reeleição nas eleições de 2016, afirmou que o governador José Ivo Sartori (PMDB), a quem o PSDB apoia desde o início do governo em 2015, se “encurralou na pauta fiscal” e que o Estado deveria ter buscado agir mais em outras áreas, citando nominalmente infraestrutura e educação. Leite também destacou que o pagamento em dia dos servidores, algo que não acontece nem no Estado nem na Prefeitura de Porto Alegre, governada pelo PSDB, deve ser um prioridade. “Se nós queremos qualificar serviços públicos para a população, é peça fundamental o servidor. Não é para fazer média com o servidor que a gente deve atender especialmente a questão dos salários, é porque não se vai melhorar a segurança pública do Rio Grande do Sul enquanto se tiver parcelamento dos salários da Brigada Militar, por exemplo”, disse.

Afinal, o novo presidente do PSDB gaúcho avaliou que o partido deveria entregar os cargos que ocupa no governo federal e sair da base de apoio devido às denúncias que afetam o presidente Michel Temer (PMDB) e sua cúpula. No entanto, ressalvou que apoia a agenda de reformas. A seguir, confira a íntegra da entrevista.

Sul21 – O senhor foi eleito presidente estadual do PSDB neste final de semana e, nas redes sociais, o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan, o tratou como pré-candidato do partido ao governo do Estado. As duas coisas estão relacionadas? O senhor será candidato?

Eduardo Leite: Eu nunca me apresentei como pré-candidato, até porque eu acho que ninguém é candidato de si mesmo. Mas tenho de fato sido buscado pelo partido e, às vezes, até por lideranças de outros partidos, que me provocam sobre essa possibilidade. O que eu insisto sempre [em dizer] é o seguinte: antes das pessoas, antes dos nomes, vem o projeto. Eu não tenho problema em me colocar como um possível candidato. Estou disponível para isso. Acho que a minha experiência como prefeito da terceira maior cidade do Estado, que é uma cidade cheia de desafios e complexa de ser administrada, porque embora sejamos a terceira maior cidade, não somos o terceiro maior orçamento, não somos a terceira maior economia, ou seja, isso me deu experiência em administrar dificuldades, problemas orçamentários, grandes demandas, carências. Isso eu quero colocar à disposição do Estado agora. Se entenderem que é para ser como líder do projeto, eu não tenho medo nenhum, estou à disposição, mas o que me cabe como responsabilidade agora, especialmente como presidente do partido, é ajudar na discussão do projeto propriamente dito, do programa, tecnicamente na questão da pauta fiscal do Estado, mas também em outras áreas, de segurança, de educação, de saúde. Todas essas pautas precisam ser discutidas para que a gente possa formatar um projeto que venha a ser apresentado no ano que vem ao povo gaúcho. Depois de discutirmos um projeto, aí vai vir a discussão do nome.

Sul21 – Mas isso já indica que o PSDB vai ter candidatura própria?

Leite: A disposição do partido é sim ter uma candidatura própria. Partidos de grande e médio porte no Estado legitimamente entram nessa jornada buscando o protagonismo, buscando a candidatura própria. O PSDB é hoje o partido que administra para mais gaúchos. São 28% da população em cidades administradas por prefeituras do PSDB. O segundo partido é o PP, com 18%. Então, nós não temos o maior número de prefeituras, mas temos o maior número de gaúchos com suas cidades sendo administradas pelo PSDB. Isso claro que nos dá legitimidade para buscar o protagonismo, mas não é o protagonismo pelo protagonismo ou por vaidade, tem que ser em torno de um projeto, por isso que a gente propõe a discussão de um projeto e no final vamos discutir quem lidera. Se entendermos que outro nome possa representar, não temos nenhuma vaidade que nos imponha exigir a cabeça de chapa, mas entendemos, sim, que temos a possibilidade de uma candidatura viável. Mas isso vai ser reservado para uma discussão futura.

Leite defende que PSDB tenha candidatura própria e diz que seu nome está à disposição para concorrer ao Piratini | Foto: Divulgação/PSDB

Sul21 – O PSDB faz parte da base do governo Sartori desde o início, mas já vem há algum tempo discutindo a possibilidade de candidatura. Quais são as principais divergências que o senhor tem, pessoalmente, com o governo Sartori? Há divergências?

Leite: Em primeiro lugar, nós não estivemos com o governador no seu primeiro turno. Nós tínhamos outro projeto, que era da senadora Ana Amélia (PP), aquele era o projeto que nós originalmente participamos, discutimos, ajudamos a construir. No segundo turno, diante de duas opções, uma eleição plebiscitária que é a de segundo turno, nós entendemos que o melhor caminho era o caminho do governador do Sartori, porque o outro caminho, respeitadas as suas posições, era um caminho que nós entendíamos que estava aprofundando a crise do Estado, aumentava o custo da máquina, apostando que o gasto público seria capaz de gerar riqueza. Essa era a visão do governo Tarso Genro, que na nossa visão foi equivocada e ajudou a aprofundar a crise no Estado.

Muito bem, então nós, ao ajudarmos a vitória do governador Sartori em segundo turno, entendíamos que deveríamos ajudar e colaborar com a agenda para o Estado, mas o governador e o governo não significam tudo aquilo que nós sempre sonhamos. Eu entendo que o governo se encurralou na pauta fiscal, que é uma pauta importante, claro que é base para os outros investimentos, mas não é só sobre isso. A gente tem que ter uma inflexão da agenda do Estado em outras pautas que são super importantes para o futuro do nosso Estado, especialmente no que se refere ao desenvolvimento. Por exemplo, viabilizar investimentos em infraestrutura, especialmente rodoviária, para termos capacidade de competitividade do ponto de vista logístico no âmbito nacional. Nós hoje somos um Estado que tem rodovias muito precárias. E esse investimento, devido à falta de condições do Estado de investir com recursos do tesouro, tem que vir através de parcerias com a iniciativa privada. E o Estado não consegue retirar do papel o plano de concessões rodoviárias, para dar um exemplo.

Na questão da educação, eu friso muito, outros estados, como por exemplo o Ceará, independentemente da questão de quem governa [atualmente é governado por Camilo Santana, do PT], dá o exemplo que não é apenas uma questão de dinheiro, de recursos, de investimentos. Não é o Ceará o estado que mais gasta per capita em educação, não é o estado que tem os melhores salários, mas é o estado que está obtendo os melhores resultados. Ou seja, nós temos que tocar na educação com planejamento e gestão, especialmente na gestão escolar, focando em resultados melhores, porque a educação gaúcha tem andado para trás, tem perdido posições no ranking nacional e isso afeta também a nossa condição de desenvolvimento futuro. Então, são pautas que não são diretamente ligadas ao ajuste fiscal e que estão deixando a desejar. A gente entende que tem que ter uma agenda mais proativa, afirmativa, por parte do governo do Estado.

Sul21 – Na questão do relacionamento com os servidores. O governo do Estado tem focado em uma agenda voltada para o ajuste fiscal, que também vemos em Porto Alegre, que é governada pelo PSDB. O senhor acredita que o caminho é esse ou poderia haver outro?

Leite: Eu posso relacionar à minha própria experiência como governo. Nós assumimos a prefeitura de Pelotas, que é uma cidade bastante complexa na questão dos servidores, porque nós temos mais servidores públicos do que cidades do mesmo porte. Só para fazer uma comparação, Pelotas tem a mesma população de Canoas, 340 mil habitantes, mas Canoas é 17 vezes menor do que Pelotas territorialmente e, consequentemente, não precisa ter tantos serviços distribuídos como Pelotas tem. Pelotas tem 50 postos de saúde contra 26 de Canoas. Nós temos 10 mil servidores contra cinco mil de Canoas, mas o nosso orçamento é menor. O de Canoas é de cerca de R$ 1,7 bilhão e o nosso é de R$ 1 bilhão, ou seja, eles têm um orçamento 70% maior que o nosso para pagar menos gente, num território menor, com menos serviços a serem prestados. É claro que isso pressiona, em Pelotas, a folha salarial e nos dificulta muito a questão com os servidores, mas mesmo assim nós priorizamos o pagamento dos servidores públicos, que era feito sempre no quinto dia útil do mês seguinte e nós conseguimos adiantar para dentro do mês. Nós passamos a pagar no último dia útil do mês no nosso governo e garantimos a reposição da inflação em todos os anos para os servidores. Sempre teve reposição integral da inflação e aumentos reais no vale-alimentação, o que não quer dizer que não tenha havido conflitos e divergências, com os sindicatos especialmente, mas a nossa relação acho que foi adequada, respeitosa. Eu entendo que, por parte do Estado, tem que focar na recuperação dos serviços públicos a partir de uma relação adequada com os servidores, que prioriza o pagamento. Se nós queremos qualificar serviços públicos para a população, é peça fundamental o servidor. Não é para fazer média com o servidor que a gente deve atender especialmente a questão dos salários, é porque não se vai melhorar a segurança pública do Rio Grande do Sul enquanto se tiver parcelamento dos salários da Brigada Militar, por exemplo. Acho que a gente tem que focar nessa recuperação da condição de pagamento, mas que passa sim por uma agenda que deve recuperar o Estado para que ele foque naquilo que é prioritário. Se a gente escolhe tudo como prioridade, a gente não tem prioridade nenhuma. Então, o Estado deve focar em segurança, saúde, educação e, por isso que eu digo, na questão de infraestrutura tem que ser com investimento da iniciativa privada, porque o Estado deve reservar suas condições próprias de recursos para os serviços essenciais que ele deve prestar e isso significa também priorizar o pagamento dos servidores em dia.

Sul21 – Tivemos, no último fim de semana, convenções estaduais do PSDB em todo o Brasil. Ficou muito evidente a discussão da questão de apoiar ou não o governo Temer. Como novo presidente estadual do partido, o senhor defende a permanência ou a saída?

Leite: Eu entendo que o PSDB já deu esse recado nos estados e acho que, na convenção nacional, no dia 9 [de dezembro], vai dar claramente o recado de que as bases do partido exigem a saída da base de apoio ao governo Temer, que saia principalmente da participação do governo. Porque é um governo que tem graves denúncias, com provas muito fortes de envolvimento de sua alta cúpula, inclusive do presidente da República, em atos ilícitos e, por isso, continuar prestando apoio com participação no governo é algo que pedagogicamente não é correto para a nação, para o país. Nós ajudamos o impeachment de um governo que nós considerávamos, além de ter uma agenda errada para o país do ponto de vista econômico, um governo que praticou ilícitos que significavam a justificativa para o seu impedimento, e agora nós estamos deparados com uma situação muito semelhante ou até mais grave. Por isso, o PSDB não pode continuar participando de um governo que deve muitas explicações, não só ao povo, como à Justiça. O que não significa deixar de apoiar reformas e, principalmente, o ajuste nas contas do governo. Não é tornar-se oposição a uma agenda para o país, nós temos uma agenda que consideramos correta de reformas estruturantes para retomada de credibilidade e capacidade de investimentos, essenciais para o desenvolvimento do país e capacidade de geração de empregos, mas participar desse governo me parece que é algo que nós não toleramos mais e acho que a grande maioria da militância tucana se manifestará dessa forma na convenção nacional.

Sul21 – Deixar de participar significa a entrega de ministérios?

Leite: Perfeitamente. Acho que o PSDB deve entregar suas posições e não participar mais deste governo.

Leite (esq.) que o PSDB deveria entregar os cargos que tem no governo Temer | Foto: Divulgação/PSDB

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