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28 de novembro de 2017
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12:58

Fortunati anuncia desfiliação do PDT; partido classifica saída como ‘total ingratidão’

Por
Sul 21
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Fortunati anuncia desfiliação do PDT; partido classifica saída como ‘total ingratidão’
Fortunati anuncia desfiliação do PDT; partido classifica saída como ‘total ingratidão’
José Fortunati enviou carta ao presidente estadual do PDT comunicando sua decisão. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Luís Eduardo Gomes 

O ex-prefeito de Porto Alegre José Fortunati entregou nesta segunda-feira (27) uma carta comunicando sua desfiliação do PDT, partido no qual militava desde 2002 e pelo qual foi prefeito de Porto Alegre entre 2010 e 2016. A carta, endereçada ao presidente estadual da legenda, o deputado federal Pompeo de Mattos, afirma que “os rumos do indivíduo político José Fortunati e os do PDT, neste momento, se separam”. Em nota oficial, assinada por Mattos, o PDT classifica a desfiliação como um ato de “total ingratidão” frente às varias oportunidades que o partido teria oferecido ao ex-prefeito.

Em conversa com a reportagem na manhã desta terça-feira (28), Fortunati afirmou que a decisão de deixar o PDT foi construída ao longo dos últimos dois anos, com o desgaste tendo origem na crise com os vereadores da bancada do partido na Câmara no segundo mandato dele em Porto Alegre. Na ocasião, votações de vereadores PDT contrárias aos interesses do seu governo levaram o então prefeito a se licenciar por um período de um ano, a partir de março de 2015. “Isso acabou criando uma crise com outras bancadas do governo”, diz. Fortunati afirma que, à época, chegou a solicitar que a direção do partido tomasse providências, o que não foi feito.

Questionado sobre o seu destino, Fortunati disse que já recebeu convites de vários partidos, entre eles PSB, PR, PRB, PSD, PV, PTB e Rede, este último o partido de sua esposa, a deputada estadual Regina Becker. No entanto, ele afirma que a presença de Regina na Rede não irá pesar em sua decisão sobre o partido que escolherá para se filiar.

Fortunati busca um partido que lhe conceda a chance de concorrer ao Senado Federal. “O que me motiva nesse momento é a disputa pelo Senado. Tenho 40 anos de vida pública, acho que uma bela experiência acumulada, e a certeza de que tenho a contribuir com o Senado”, disse.

O ex-prefeito ponderou que pesará na decisão os rumos que as legendas irão seguir nas eleições para o governo do Estado e para a presidência da República, salientando que não irá para nenhum partido que apoiar Jair Bolsonaro, atualmente no PSC, mas de provável mudança para o PEN/Patriota. “Bolsonaro é meu amigo, fomos deputados federais juntos. Me dou muito bem com ele, mas não concordo com grande parte das ideias que ele defende. Consequentemente, não teria como estar no mesmo partido que ele”, afirmou. Questionado então se poderia ir para um partido que fará coligação com o PT – partido do qual saiu em 2002 -, Fortunati disse apenas que, por enquanto, sua única objeção é à candidatura de Bolsonaro.

Na nota em que classifica a saída de Fortunati como ingratidão, Pompeo de Mattos listou uma série de oportunidades em que o partido atendeu aos interesses do ex-prefeito e afirmou que o PDT já tinha dado a indicação de que ele seria o candidato ao Senado. Confira a seguir a íntegra da nota.

A nota oficial do PDT sobre a saída de Fortunati:

A executiva estadual do Partido Democrático Trabalhista (PDT) recebeu no dia 06 de novembro de 2017 carta do ex-prefeito José Fortunati, solicitando abertura do processo de escolha do candidato do partido ao senado da república nas eleições de 2018, ponderando que tal fosse feito até o dia 16 de dezembro quando ocorrerá a convenção estadual do partido.

A executiva estadual do PDT, em reunião, delegou a esta presidência a responsabilidade de fazer consulta a outros postulantes do cargo, especialmente o ex-deputado Vieira da Cunha e o ex-prefeito de Osório Romildo Bolzan Junior, que após serem contatados, abriram mão de qualquer pretensão à candidatura, liberando o partido para indicar Fortunati como pré-candidato ao senado.

Este presidente levou a informação à reunião da executiva estadual realizada na noite desta segunda-feira 27 de novembro de 2017, quando então foi definido que, o único nome para a disputado do senado seria o de José Fortunati e, tal indicativo seria levado à convenção do dia 16 de dezembro.

Após esta definição, ainda durante a reunião, a executiva foi surpreendida com a entrega da carta de desfiliação de Fortunati.

Ninguém no PDT foi tão prestigiado como Fortunati desde sua filiação ao partido em setembro de 2001, senão vejamos:

Fortunati concorreu em 2002 a deputado federal fazendo cerca de 50 mil votos e não se elegeu. Em janeiro de 2003 quando o PDT compôs o governo Rigotto, indicou Fortunati ao cargo de Secretário de Estado da Educação, o qual foi nomeado e desempenhou a função durante 4 anos, sendo o cargo mais relevante do partido no governo Rigotto, mesmo Fortunati estando filiado ao PDT a um pouco mais de 1 ano e 3 meses.

Em 2006, Fortunati concorreu novamente a deputado federal e fez cerca de 30 mil votos. Não se elegendo, foi nomeado secretário de planejamento do governo Fogaça em Porto Alegre. Em decorrência disso, o PDT perdeu o vereador Dr. Goulart, pretendente do mesmo cargo e também o suplente de vereador, DJ Cassiá, que assumiria mandato na Câmara de Vereadores da capital no lugar de Dr. Goulart.

Em 2008, Fortunati foi indicado pelo PDT candidato a vice-prefeito de Porto Alegre na chapa vitoriosa encabeçada por José Fogaça.

Em 2010, na eleição de governador, o PDT em pré-convenção tirou indicativo de coligação com Tarso Genro, podendo indicar o vice na chapa do candidato do PT. O PDT mudou seu posicionamento e concorreu a vice na chapa de Fogaça, o qual renunciou a prefeitura de Porto Alegre, tornando Fortunati herdeiro do mandato por quase 3 anos. O PDT perdeu a eleição ao Piratini, mas Fortunati ficou em nome do partido como prefeito de Porto Alegre.

Em 2012 o PDT ungiu o nome de Fortunati para disputar a reeleição à prefeitura de Porto Alegre, que teve a chapa vitoriosa em primeiro turno.

Em 2015, a deputada estadual Regina Becker Fortunati, eleita pelo PDT, pediu desfiliação do partido para ingressar na Rede Sustentabilidade. O PDT através de sua executiva deliberou em não reivindicar judicialmente o mandato da deputada, tendo em conta que se tratava da esposa do prefeito do PDT da capital gaúcha.

Em março de 2015, durante o segundo mandato de Fortunati como prefeito, houve uma crise de desentendimento com a bancada do PDT da Câmara de Vereadores. O então prefeito, “licenciou-se do partido”. Embora não exista esta figura jurídica, o PDT teve compreensão e considerou a decisão de Fortunati.

Na eleição municipal de 2016, Fortunati não apoiou o nome do candidato do PDT, Vieira da Cunha, como seu sucessor, mesmo assim o partido relevou a atitude do então prefeito que preferiu Sebastião Melo (PMDB) como candidato.

Em 2017 a direção estadual agendou 37 reuniões de coordenadorias em todas as regiões do Rio Grande do Sul para discutir candidaturas ao governo do estado e ao senado federal. O ex-prefeito de Canoas, Jairo Jorge, hoje pré-candidato ao Piratini, se apresentou para o debate, participando de todas as reuniões, enquanto Fortunati participou de apenas 4 reuniões iniciais, desinteressando-se do debate mesmo sendo o único postulante ao senado pelo PDT.

Em sua primeira carta em 06 de novembro de 2017, Fortunati pediu que a decisão do partido em relação à candidatura do senado fosse até a data da convenção, prevista para 16 de dezembro. A nova carta deixa claro que Fortunati não aguardou o prazo que ele mesmo sugeriu, abandonando o partido, surpreendendo a todos.

Essa atitude de Fortunati demonstra total ingratidão, uma vez que o partido sempre disponibilizou as melhores oportunidades ao ex-prefeito, que novamente seria prestigiado com a candidatura ao senado.

Provavelmente Fortunati antecipa sua saída ao tomar conhecimento de que a pretendida vaga ao senado lhe estava garantida, deixando evidente que não queria mais permanecer no PDT.

Deputado Pompeo de Mattos, presidente estadual do PDT.


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