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25 de outubro de 2017
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15:26

Obstrução surpreende governo e Câmara está impedida, até agora, de iniciar votação

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Sul 21
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A falta de quórum, pelo menos até agora, está sendo vista como uma vitória parcial dos oposicionistas | Foto: José Cruz/Agência Brasil

Hylda Cavalcanti
Da RBA

Passadas perto de três horas da abertura dos trabalhos da Câmara para votação da denúncia contra Michel Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretária-geral da Presidência), as atividades estão paralisadas por falta de quórum. Até agora só foram registradas 258 presenças. São necessárias 342 para que a votação tenha início.

Apesar de todas as estratégias do governo e pedidos para que mesmo os que votarem contra Temer registrem presença, a oposição montou um ato público no Salão Verde da Casa bem estruturado, com faixas, cartazes e conversas em reservado entre os deputados, para dar prosseguimento à obstrução.

Resultado: após a leitura do texto do relator e das defesas do presidente e dos dois ministros, a mesa diretora teve de improvisar a inscrição de mais deputados para que sigam discursando a favor de Temer até que consigam atingir o número necessário de presenças.

A vitória parcial dos oposicionistas se deu porque todas as bancadas partidárias da oposição resolveram, desta vez, nem sequer entrar no plenário. Na votação da primeira denúncia, quando eles também decidiram que iriam obstruir os trabalhos, a mesa diretora avisou, horas depois, que todos os inscritos para falar e os que haviam feito pronunciamentos, mesmo não tendo registrado presença, já constavam oficialmente como presentes.

O tema suscitou polêmicas e muitas reclamações, mas a posição da mesa estava correta do ponto de vista regimental. Por isso, os deputados que querem o acolhimento da denúncia decidiram, desta vez, arriscar perder o direito à palavra no plenário e permitir que o rito de debate fosse adiantado só com a participação dos parlamentares da base aliada. Tudo para, por outro lado, atrasar a votação.

A falta de quórum, pelo menos até agora, está sendo vista como uma vitória parcial dos oposicionistas que, apesar de concordarem que o resultado  final da votação será favorável ao presidente e seus ministros, trabalham para postergar ao máximo a sessão.

Lembrança da ditadura

O deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), um dos principais aliados do governo na Casa, chegou a apelar para o nome de figuras históricas do Congresso Nacional, como o deputado morto pela ditadura Rubens Paiva e o pai do líder do PSB, o ex-deputado Tarcísio Delgado.

“Tenho 70 anos e com 16 anos vi o golpe militar neste país. Lutei para derrubar aquele  regime e tinha como referência nesta tribuna os deputados que, na época, mesmo em tempos difíceis, continuavam fazendo o Congresso funcionar”, reclamou.

“Vejo o filho do Tarcísio Delgado (Júlio) sem querer entrar aqui e parlamentares que sempre citaram pessoas como Rubens Paiva permanecerem no Salão Verde. Não esperava este gesto por parte da oposição”, disse Perondi.

Do outro lado, a poucos metros de distância, o líder da minoria, José Guimarães (PT-CE) desdenhou: “Eu não disse que muita coisa poderia mudar o jogo neste dia?”.

A principal preocupação dos integrantes da base de sustentação do governo está sendo buscar os aliados que ainda não chegaram para obter quórum e trabalhar junto ao grupo do PSDB que ficou de votar para blindar o presidente.

Alguns parlamentares paulistas que estavam licenciados para ocupar cargos no governo estadual foram liberados pelo governador Geraldo Alckmin para reassumirem seu lugar na Câmara hoje, e ajudar o presidente. Mas poucos deles chegaram a Brasília até agora.

Imitação de Dilma

A fase de apresentação do relatório e de defesa dos advogados teve poucas surpresas, mas dois pontos chamaram a atenção. O primeiro, o discurso implícito dizendo que a denúncia, considerada pela defesa como “sem fundamento” poderia ser apresentada contra qualquer parlamentar. Foi uma espécie de recado por parte dos advogados no sentido de que, como há vários deles citados em delações premiadas, correm o risco de serem os próximos alvos da Procuradoria-Geral da República.

O segundo ponto foi a lembrança, feita pelo deputado Mauro Pereira (PMDB-RS), de que o que estava acontecendo era a “teoria da árvore envenenada”, em que um fruto envenenado compromete toda a árvore. A teoria foi muito usada na defesa da presidenta Dilma Rousseff, no ano passado, pelos parlamentares aliados a ela.

E muita gente estranhou o fato de, novamente (uma vez que na última semana Temer se disse “vítima de golpe”) os aliados do presidente terem “copiado” argumentos da defesa de Dilma. “Essa tentativa de comparação pegou mal. Foi patética”, admitiu um deputado do PP.

Em meio a possíveis mudanças na posição dos parlamentares durante a votação, também foram feitas algumas ameaças pouco veladas aos integrantes da base que demonstram ainda estar em dúvida.

“No dia seguinte a essa votação, que esperamos que seja amanhã, haverá ampla reformulação sobre quem faz parte e quem não faz parte da base. Quem é governo terá que provar isso agora; quem não for, receberá do Planalto a política de pão e água”, ressaltou Perondi.


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