Últimas Notícias>Política
|
6 de setembro de 2017
|
21:10

Deputados federais do PP falam em ‘alívio’ após Janot arquivar processo por suposta organização criminosa

Por
Sul 21
[email protected]
Coletiva foi realizada na sede do partido, com a presença de quatro deputados que tiveram processos arquivados | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Fernanda Canofre

“Alívio” foi a palavra mais usadas pelos quatro deputados federais do Partido Progressista e, pelo presidente estadual da legenda, Celso Bernardi, para definir como receberam a notícia de que seus processos, referentes a suposta organização criminosa dentro do partido, foram arquivados pelo procurador geral, Rodrigo Janot. Os parlamentares convocaram uma coletiva de imprensa na sede do partido, em Porto Alegre, nesta quarta-feira (6) para falar do assunto.

Na mesa, Afonso Hamm, Renato Molling, Jerônimo Goergen e Luiz Carlos Heinze – o deputado federal mais votado do Rio Grande do Sul, em 2014 – falaram sobre os dois anos e meio em que “sofreram” em virtude de terem seus nomes citados na lista. Vilson Covatti, também citado e com processo arquivado, não pode comparecer.

“Durante esse período de mais de dois anos, nossos deputados carregaram essa desconfiança. Aquela frase histórica do Guimarães Rosa, né? Não sei muito, quase não sei nada, mas desconfio de muita coisa”, disse o presidente estadual da legenda. Bernardi disse que o arquivamento vinha como um “alívio” aos deputados e ao próprio partido.

Dos 30 nomes do PP apresentados por Janot, em 2015, 18 foram denunciados formalmente, após investigação da Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público Federal em busca de indícios. Da bancada gaúcha, o único nome da legenda que permaneceu no processo foi o deputado José Otávio Germano. O presidente nacional do partido, senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o líder do governo Michel Temer na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) também estão na lista de denunciados.

“A mesma régua que mede os outros, mede os nossos. Portanto, nós lamentamos que não possamos trazer aqui os seis deputados. Lamento que o deputado José Otávio não tenha conseguido nesse processo, espero que – sempre garantindo a presunção da inocência – ao final, possa também conseguir o que esses quatro e Covatti conseguiram”, reiterou Bernardi.

O presidente afirmou ainda que “o partido não tem compromisso com o erro” e não será “guardião de qualquer desvio de conduta”. Uma possível expulsão de Germano, no entanto, não está nas mãos do diretório estadual, mas sim da executiva nacional do partido. Segundo Bernardi, o PP gaúcho, deverá aguardar o julgamento final antes de se manifestar, garantindo “a presunção de inocência”. Ele reiterou, porém, que Germano não exerce nenhuma função dentro do partido no momento.

“É pesaroso, é desconfortável? Evidente que sim. Mas somos um partido de anos, um partido de homens que cometem erros. Quem comete erros tem que pagar por eles. Isso é muito claro”, afirmou.

Heinze conta que pressionou as instituições pelo arquivamento, porque “não devia nada” | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Deputado diz que chorou ‘por vergonha na cara’

Durante a coletiva, o deputado Luis Carlos Heinze afirmou que contou todos os 914 dias que a denúncia demorou para ser arquivada. O parlamentar diz que fez “uma peregrinação” às instituições que o investigavam para pressionar pelo arquivamento do processo. “Eu estive 32 vezes no Ministério Público Federal – 8 vezes com o próprio Janot e 24 vezes com chefe de gabinete, com toda a equipe que trabalhou nesse processo – 9 vezes na Polícia Federal cobrando uma posição deles, duas vezes com o falecido Teori [Zavascki] e outras duas vezes com o ministro [Edson] Fachin. Cobrando que tinha que ser arquivado, porque a gente não devia nada. Tive tranquilidade desde o primeiro dia”.

A investigação em cima dos parlamentares envolveu Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público Federal. Os nomes dos seis deputados gaúchos foram citados na delação do doleiro Alberto Youssef. Enquanto cinco deles foram arquivados, por não terem sido encontradas comprovações de irregularidades, no caso de José Otávio Germano, a Procuradoria manteve a tese de que ele teria recebido um total de R$ 200 mil em propina, por um esquema operado dentro da Petrobras.

Renato Molling lembrou que, no dia em que saiu “a esperada lista Janot”, estava em casa jogando cartas e que “jamais esperava” que seu nome estaria nela. “Foi um dos dias mais tristes da minha vida. Assim como, ontem, foi um dos dias mais felizes”, lembra. “Eu estive na Procuradoria onde me disseram: você só foi citado. Mas eu estou condenado nestes dois anos. Para a população, estou condenado”.

Jerônimo Goergen lembrou do momento em que chorou na coletiva de 2015, convocada logo após a divulgação da lista, quando tinha como advogado o atual vice-prefeito de Porto Alegre, Gustavo Paim (PP), também presente na coletiva de hoje. “Aquele choro foi de alguém que tem vergonha na cara. Eu chorei com aquela franqueza e, hoje de manhã, me perguntaram se eu chorei quando voltei ao plenário, mas não. Chorei por vergonha na cara”, disse.

Já Afonso Hamm conta que recebeu com “serenidade” a notícia do arquivamento, que “tardou” a chegar, mas que sempre teve “confiança”. Hamm confirmou que “colocará o nome à disposição para deputado federal em 2018”. “O ano de 2018 vai estar aí à prova de quem faz política, quem vem fazendo política, quem vai permanecer, quem vai ingressar, quanto vai renovar. O que é importante: construir o país, o estado e um novo momento para a política”.

Bernardi diz que partido irá discutir continuidade ou desembarque do governo Sartori após discussão interna, no fim de outubro | Foto: Guilherme Santos/Sul21

De olho em 2018

Goergen afirmou que o arquivamento das denúncias “é um momento importante” que pode ajudar o partido quanto a 2018. Parte da base do governo de José Ivo Sartori (PMDB), o PP já começou o debate com seus correligionários para avaliar quais serão as movimentações para o ano eleitoral. Embora ainda não haja manifestações oficiais, a sinalização é para uma candidatura própria.

Bernardi confirmou que Heinze está entre os possíveis candidatos da legenda ao governo.  Outros nomes cotados incluem a deputada estadual Silvana Covatti, a ex-candidata ao Senado e presidente da Federasul, Simone Leite, e os prefeitos de Bento Gonçalves e Santa Cruz do Sul, Guilherme Pasin e Telmo Kirst, ambos reeleitos com mais de 60% dos votos. O nome da senadora Ana Amélia Lemos, candidata do partido em 2014, recebendo 21,7% dos votos, não apareceu entre as hipóteses. Ela já estaria encaminhada para a campanha de reeleição.

“A senadora já foi estimulada a ser candidata em 2014, concorreu com muita dignidade, apresentamos nosso projeto e a população fez uma opção, respeitamos, participamos do segundo turno, liderados pela senadora, mas ela é candidata à reeleição no Senado”, explicou Bernardi.

Os deputados, no entanto, deixaram claro que o partido tem divergências com o Piratini. Goergen afirma que a opinião do partido não é ouvida pelo governo. Um exemplo, segundo ele, seria a posição da bancada diante da renegociação da dívida. “Um projeto que foi feito para o Rio de Janeiro e que não serve para o Rio Grande do Sul”.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora