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6 de setembro de 2010
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01:51

Preso mais um suspeito de desvio de recursos do Banrisul

Por
Sul 21
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Igor Natusch

Ocorreu na noite de hoje (3) a prisão preventiva do quarto suspeito envolvido na Operação Mercari, que apura o desvio de recursos de marketing do Banrisul. Davi Antunes de Oliveira seria um intermediário de serviços terceirizados prestados ao banco, e teve prisão preventiva decretada hoje à tarde a pedido do Ministério Público Estadual e da PF. Buscas foram realizadas na tarde de hoje (3) na casa do suspeito e em empresas dele e de pessoas próximas. Uma quantidade de dinheiro ainda não divulgada teria sido localizada na casa do suspeito, e há informações de que Oliveira tinha viagem marcada para o exterior. A PF ainda não confirmou as informações.

A prisão preventiva de Oliveira se soma a outras três, confirmadas na manhã de hoje (3). Estão detidos o superintendente de marketing do Banrisul, Walney Fehlberg, o diretor da agência de publicidade DCS, Armando D’Elia Neto e Gilson Stork, sócio da agência SLM. Os três são acusados de organizar um esquema que superfaturava contratos de publicidade. As duas agências contratavam empresas terceirizadas por valores muito inferiores aos recebidos do Banco para a realização dos serviços. Segundo a PF, o desvio foi de cerca de R$ 10 milhões.

A investigação está sendo conduzida por uma força-tarefa que envolve a Polícia Federal, o Ministério Público Estadual e o Ministério Público de Contas do RS. Em posse dos suspeitos, foram apreendidos R$ 3,4 milhões,  em reais, euros e dólares. Não há identificação da origem do dinheiro. Os presos estavam detidos em regime de prisão temporária, mas se recusaram a colaborar com os investigadores, alegando que só se pronunciariam em juízo sobre o caso. Com isso, a Superintendência da PF requereu a prisão preventiva dos acusados.

No final da manhã de hoje (3), surgiram informações mais concretas sobre os valores apreendidos nas sedes das empresas e nas casas dos investigados. Na sede da DCS, foram encontrados mais de R$ 2,5 milhões em espécie, além de US$ 123 mil, 21 mil euros e 4,5 mil libras esterlinas. Na residência de Armando D’Elia Neto, diretor da DCS, preso ontem (2/9), foram encontrados mais R$ 65 mil, US$ 23 mil, 50 mil euros e 5,6 mil libras. A SLM guardava R$ 10 mil em sua sede, enquanto Gilson Storck, sócio da agência, acusado de participação no esquema, guardava quase R$ 88 mil em sua residência. Walney Fehlberg, superintendente de marketing do Banrisul, também mantinha altas somas de dinheiro em sua casa, onde a Polícia Federal confiscou R$ 169 mil e US$ 40 mil.

Na noite de ontem (2), o Tribunal de Contas do Estado (TCE) ordenou que o Banrisul suspenda o pagamento para as empresas que estão sob investigação da Operação Mercari. A medida foi solicitada pelo Ministério Público de Contas do estado. Segundo o conselheiro-relator do TCE, Algir Lorenzon, dez empresas estão sendo investigadas por suposto envolvimento no desvio de verbas do banco. O conselheiro, no entanto, não revelou quais seriam estas empresas.

Governo Yeda

O escândalo do Banrisul atinge a governadora Yeda Crusius (PSDB) em um momento decisivo de sua campanha pela reeleição. “Está sendo feito uso político dessa investigação”, afirmou Yeda durante entrevista ao programa  Bom Dia Rio Grande, da RBS TV. Ela criticou o superintendente da Polícia Federal, Ildo Gasparetto, por comparar o caso Banrisul com a operação Rodin, que investigou fraudes no Departamento Estadual de Trânsito do RS (Detran).

Pouco mais tarde, Yeda reforçou essa crítica no Twitter. “Ô Gaspareto, nestas alturas do jogo, comparar essa operação com a Rodin, ressuscitar o que já está enterrado? Não tente confundir a cabeça das pessoas na sua posição de chefe da PF”, declarou no microblog. Embora tenha aprovado as contas da governadora em 2009, o Tribunal de Contas do Estado apontou pontos discrepantes – um deles referente ao gasto das estatais com publicidade. Segundo o TCE, os valores gastos ultrapassavam em 107% os orçamentos apresentados inicialmente.

O caso lembra as denúncias feitas pelo vice-governador Paulo Feijó (DEM). Em maio de 2008, Feijó gravou uma conversa com o então Chefe da Casa Civil do Estado, Cezar Busatto, na qual foi citado o uso de recursos do Banrisul para financiar campanhas eleitorais. “Hoje é o Detran, no passado foi o Daer. Depois foi o Banrisul, depois a CEEE. Se tu vai ver é onde os partidos querem controlar”, diz Busatto na gravação. E acrescenta: “Não tenho dúvida de que o Detran é uma grande fonte de financiamento. Não é verdade? E o Banrisul com certeza, nesses quatro anos”.

Já em 2007, o vice Feijó defendia a instauração de uma CPI na Assembleia para apurar irregularidades em contratos do banco. Além disso, Paulo Feijó denunciou em 2008 o desvio de cerca de R$ 18 milhões dos cofres públicos, em remessas não contabilizadas para a Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs).

Em conversa com o Sul21, Feijó disse não caber a ele identificar os suspeitos, mas que o fato não era novidade. “Essa operação é a mesma que eu já denunciei ao Ministério Público. As pessoas são as mesmas”, declarou.

Banrisul divulga nota

O Banrisul enviou para veículos de imprensa uma nota onde se declara “surpreso” e “preocupado” com as notícias sobre o desvio. “O Banrisul mantém sistemas rigorosos de controle interno e externo. A Diretoria do Banrisul externa sua preocupação com a exposição pública da instituição com base em apontamentos iniciais, não sendo valorados os rígidos controles a que se submete constantemente”, garante a nota. “Ressalte-se que o Banco é e sempre foi solidário com as instituições fiscalizadoras”, continua o texto.

O banco diz lamentar os “efeitos indesejados” que a exposição do caso traz para a imagem da instituição, “sem que tenha concorrido para quaisquer das situações investigadas”. “As investidas para apurar materialidade e autoria supostamente delitiva, não podem mesclar a responsabilidade de outrem com a conduta ética e mercadologicamente responsável do Banrisul”, insiste o comunicado.

DCS fechada

A sede da DCS esteve fechada ontem (02), por determinação da Polícia Federal (PF). “Cheguei para o trabalho e estava todo mundo na rua, ninguém podia entrar”, contou um funcionário da agência que optou pelo anonimato. “Recolheram documentos e boa parte do equipamento. O pessoal (funcionários da agência) acabou indo para casa”, relatou. Informações dão conta de que a DCS voltou a funcionar na manhã de hoje (03), em regime reduzido.

Segundo Aury Lopes Jr, advogado que representa a DCS, já foi encaminhado pedido de liberdade provisória para Armando D’Elia Neto, sócio da agência preso pela Polícia Federal. “Essa prisão tem legalidade discutível, já que os acusados são réus primários e não existe possibilidades de atrapalhar na busca de provas”, afirmou Lopes.

Não é a primeira vez que o nome da DCS surge em denúncias de corrupção no estado. Em maio de 2009, gravações reveladas pelo ex-assessor da governadora Yeda Crusius (PSDB), Marcelo Cavalcante, associavam a agência publicitária a irregularidades ocorridas durante a campanha que elegeu Yeda governadora, em 2006. Segundo Cavalcante, despesas de campanha teriam sido custeadas pela DCS, que não foi contratada oficialmente pela campanha de Yeda. A empresa teria pago passagens aéreas e hospedagens para Cavalcante, em um auxílio que continuou depois da posse da governadora. Marcelo Cavalcante foi encontrado morto no Lago Paranoá, em Brasília, no dia 17 de fevereiro de 2009. O polêmico caso foi encerrado pela polícia como suicídio.

SLM: “extremamente surpresa”

O impacto sobre a outra agência envolvida no escândalo, SLM, também foi devastador. No final da noite de ontem (02) a agência soltou uma nota, na qual se disse “extremamente surpresa” ao ver seu nome citado nas investigações do Ministério Público. A SLM confirmou que seu sócio Gilson Storck está detido, e assegurou que vai colaborar com as investigações. “Com a plena convicção de não ter cometido nenhuma irregularidade, a agência se pronunciará para a opinião pública assim que todos os fatos forem apurados”, garante o comunicado. Em nota semelhante, a agência DCS diz-se “surpreendida” pelas denúncias e afirma que colaborou “ativamente na execução da medida judicial” da Operação. Segundo a DCS, seus advogados ainda não tiveram acesso ao processo, não podendo prestar mais esclarecimentos.

A Ogilvy Brasil, empresa associada da SLM, anunciou o rompimento da parceria que mantinha com a agência publicitária. “(A empresa Ogilvy Brasil) está desfazendo o acordo operacional com a agência de publicidade SLM, do Rio Grande do Sul”, afirma a nota.

A ligação da SLM com a política gaúcha vai além dos serviços prestados ao Banrisul. Valdir Loeff, um dos sócios da agência, trabalha atualmente na campanha de Yeda Crusius pela reeleição. Procurado pela reportagem do Sul21, o publicitário não atendeu as ligações, e sua secretária não soube informar quando Loeff estaria na empresa.

Liberdade provisória

O advogado José Antônio Paganella Bosch, que acompanha o caso em nome da SLM, encaminhou na manhã de hoje (03) pedido de liberdade provisória para Gilson Storck, um dos sócios da agência. “Meu cliente tem 20 anos de profissão, emprega 50 pessoas, já foi premiado várias vezes por seu trabalho. Não existem provas de que a sua liberdade poderá causar qualquer embaraço às investigações, mesmo porque todo o material de interesse já foi arrecadado pela Justiça”, afirma Bosch.

Para o advogado, a acusação contra Storck está “mal desenhada”. “Ainda há um trabalho enorme a ser feito pelos investigadores. São centenas de caixas com documentos. Eu já solicitei cópias da documentação que embasa o pedido de prisão, mas creio que nem o Ministério Público tenha conhecimento real do que está nesses documentos”, afirma. A defesa de Storck aguardava para o final do dia uma decisão sobre o pedido de liberdade provisória, mas a juíza da 6ª Vara Criminal deixou a decisão para a próxima segunda-feita (6), alegando que precisa analisar melhor a documentação do processo.


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