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9 de setembro de 2010
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Presa aos comitês, candidatura de Fogaça tenta achar caminho para a rua

Por
Sul 21
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Igor Natusch

“A campanha de Fogaça precisa sair do comitê e ir para a rua”. Com essa frase simples, o presidente do PDT gaúcho, Romildo Bolzan Junior, resume a carga de tensão que toma conta da campanha de José Fogaça (PMDB) ao Piratini. Enquanto as discordâncias internas continuam surgindo, motivadas pelo alinhamento nacional com o PT e pela falta de sintonia entre os partidos da coligação, a grande mobilização em prol de Fogaça vai sendo adiada. Faltando pouco mais de 20 dias para o pleito de 3 de outubro, e com o adversário Tarso Genro (PT) crescendo nas pesquisas ao ponto de ser cogitada sua vitória no primeiro turno, um consenso surge dentro da coligação Juntos Pelo Rio Grande, dividida por discussões e incertezas: se a ideia é salvar a candidatura de Fogaça, não há mais tempo a perder.

Para a tarde de amanhã (9), está previsto o lançamento do plano de governo da coligação, na sede política da campanha, em Porto Alegre. O encontro pretende ser também uma demonstração de força, reunindo grandes nomes estaduais dos principais partidos da coligação. Na tentativa de aproximar PMDB e PDT, um encontro entre prefeitos e vices das duas legendas ocorrerá na manhã da próxima sexta (10), no clube Caixeiros Viajantes, em Porto Alegre. A principal cartada da campanha de Fogaça, porém, deve ocorrer no dia 15: uma grande mobilização em todo o estado, já batizada pela coordenação como Força Total.

O núcleo da campanha de Fogaça coloca grande esperança no Força Total, ato que deve promover carreatas e bandeiraços em todos os 497 municípios gaúchos. O evento é visto como uma demonstração de força da coligação, fundamental para renovar o ânimo da militância em um momento decisivo da campanha. “O Força Total com Fogaça e Pompeo vai mostrar a força da nossa candidatura. Vamos tomar conta do Rio Grande”, empolga-se Mendes Ribeiro Filho (PMDB), coordenador da campanha de Fogaça.

Simon abre voto para Dilma

Até o início dessa semana, a posição de “imparcialidade ativa” do PMDB gaúcho se sustentava em dois grandes pilares: o senador Pedro Simon e o próprio candidato ao Piratini, José Fogaça. Durante o dia de ontem (7), porém, Simon resolveu deixar de lado a neutralidade e abriu posição a favor de Dilma Rousseff (PT). “O melhor para todos é Dilma como presidente e (o candidato peemedebista José) Fogaça como governador”, disse Simon, aproveitando para alfinetar o candidato petista ao Piratini, Tarso Genro. “O Tarso nem representa o PT, ele representa uma ala do PT. Que, aliás, não é a mesma da Dilma”, declarou.

A fala de Simon provocou reações de desagrado tanto no PT quanto no próprio PMDB. Lideranças peemedebistas no RS consideram a manifestação um erro político. A manifestação traz de novo à tona a discussão sobre o alinhamento do PMDB na campanha nacional, menos de uma semana depois da acidentada visita ao estado de Michel Temer, presidente do PMDB e vice de Dilma Rousseff. O assunto é espinhoso e já causou muita divisão dentro do partido. A maioria das lideranças peemedebistas gaúchas está a favor de José Serra (PSDB) na campanha nacional, e a decisão do senador não teria passado pela cúpula estadual, o que causou grande desconforto. Além disso, o gesto de Simon forneceria munição para o próprio PT, já que a confusão seria vista pelos eleitores como falta de convicção dentro do PMDB gaúcho.

“É importante ficar claro que essa manifestação expressa uma opinião pessoal dele (Simon). Não sei o que motivou essa declaração, mas ele não está falando pelo partido, de forma alguma”, assegura o deputado federal Osmar Terra (PMDB). “Ele não conversou com ninguém antes de sua manifestação. Nunca se reuniu conosco (lideranças regionais), nunca veio discutir com a bancada do partido na Câmara ou na Assembleia, não reuniu o diretório para conversar sobre esse assunto”, declarou. E garantiu: “A opinião dele não tem nada a ver com a posição da maioria do partido. A maioria do PMDB gaúcho está com (José) Serra (PSDB)”.

Mendes Ribeiro: “Simon sabe o que faz”

A manifestação de Simon pode ter irritado algumas lideranças peemedebistas, mas não causou estranhamento a João Carlos Vieira Gediel, prefeito de Quaraí e principal organizador do movimento pró-Dilma entre as bases do partido. “Recebemos essa manifestação com a mais absoluta tranquilidade”, disse Gediel. “O senador Simon foi um dos primeiros a manifestar apoio à candidata Dilma, em manifestações no próprio Senado. A manifestação surpreende por ser inesperada, mas a opinião dele era conhecida de todos”, garantiu.

Mobilizado para o apoio a Fogaça, Gediel preferiu minimizar as declarações contrárias ao posicionamento de Simon. “Eles (lideranças do PMDB) estão defendendo a tese deles (favorável ao candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra). Estão no seu direito, mas o que deve preponderar agora é a tese estadual, que é de engajamento na candidatura de Fogaça. Podemos ter essa divisão quanto à eleição nacional, mas o nome de Fogaça tem que unir todos nós”, defende. E acrescenta: “Aqui no estado, estamos todos 101% por Fogaça”.

Dentro do PT, a manifestação de Simon também provocou reações divergentes. Alguns nomes fortes na política petista, como o deputado Elvino Bohn Gass, responderam a insinuação de Pedro Simon de que Tarso Genro seria de uma corrente política oposta à de Dilma Rousseff. Outros, no entanto, preferiram tratar a questão sob outro ângulo. “O Pedro Simon é um sujeito partidário. Ele está sendo coerente com a orientação nacional do PMDB que decidiu há muito tempo o apoio a Dilma e tem o Michel Temer como vice”, afirma Ary Vanazzi, prefeito de São Leopoldo e coordenador do comitê Pluripartidário pró-Dilma. Perguntado sobre a declaração de diferença entre os PTs Nacional e Estadual, Vanazzi disse que é justo que ele se coloque como adversário, “pois aqui ele compete contra o PT”. E complementa: “Aqui é uma disputa estadual, uma disputa direta e é natural que ele apoie o candidato dele aqui, assim como o meu candidato aqui é o Tarso”.

Ao falar com o Sul21 sobre a polêmica declaração, o coordenador da campanha de Fogaça, Mendes Ribeiro Filho (PMDB), foi lacônico. “O Simon sabe o que faz”, limitou-se a dizer.

PMDB e PDT tentam aproximação

O coordenador de campanha de Fogaça procurou tranquilizar seus correligionários, descartando eventuais atritos com o presidente da Assembleia, Giovani Cherini, e o PDT. “Na verdade, eu me senti até meio constrangido de chamá-lo para a campanha, já que sei que ele anda muito ocupado”, disse Mendes Ribeiro Filho. O deputado peemedebista revelou ter ligado para Cherini ainda na segunda-feira (6) para se desculpar por tê-lo deixado de fora das articulações de campanha. “Eu conversava seguidamente com o Romildo (Bolzan Jr., presidente estadual do PDT e membro ativo da coordenação de Fogaça) sobre isso (a participação de Giovani Cherini). Que bom que ele (Cherini) reclamou, porque agora poderemos todos discutir a participação dele na campanha”, assegurou. Um encontro entre Mendes e Cherini deve acontecer na próxima segunda-feira (13).

Na tentativa de diminuir os atritos e aproximar PMDB e PDT, o presidente do PDT gaúcho, Romildo Bolzan Junior, afastou-se temporariamente da prefeitura de Osório para dedicar-se exclusivamente à campanha de Fogaça. As férias de Bolzan começaram hoje (8), mas a programação de Bolzan não terá muito espaço para descanso. O plano é usar o prestígio do presidente do PDT para acalmar a base trabalhista e trazer o partido para a participação ativa na campanha de Fogaça.

Romildo Bolzan Jr. admite que as últimas pesquisas aumentaram a desconfiança dentro do PDT, mas diz que só há um “contraveneno” para a repercussão negativa: mobilização. “Temos que viajar, andar, ir a todos os cantos do estado. A campanha precisa sair do comitê e ir para a rua”, defende. Bolzan prevê uma articulação mais próxima com Pompeo de Mattos, vice na chapa de Fogaça, para a montagem de uma “caravana” que cubra todo o RS. “Vamos nos organizar para dar mais dinamismo para a candidatura nesses últimos 20 dias de campanha. Temos um exército aí fora, que precisamos convocar”, reforçou Bolzan.


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