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19 de agosto de 2010
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13:46

PMDB deve se acostumar com opiniões diferentes, diz Mendes Ribeiro

Por
Sul 21
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Igor Natusch

O movimento dos prefeitos do PMDB favoráveis à candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República já alinha cerca de um quinto das prefeituras  e um décimo dos vereadores do partido no RS. Essa adesão crescente provoca desconforto nas lideranças do PMDB no Estado. De um lado está a base pró-Dilma, que considera a “imparcialidade ativa”, pregada por José Fogaça, candidato do partido ao governo do Estado, uma adesão disfarçada ao tucano José Serra. De outro, os nomes fortes do PMDB gaúcho, irritados com a adesão à petista.

Coordenador da campanha de José Fogaça (PMDB) ao governo do Estado, o deputado federal Mendes Ribeiro prega: “As pessoas precisam se acostumar com opiniões diferentes dentro de um partido político. Cada um tem direito a uma preferência, é algo natural. O que não dá é para querer impedir que as pessoas se mobilizem ou querer forçar uma posição de neutralidade”.

No momento, a balança pende para o lado de Dilma, devido à interferência de uma figura de peso: Michel Temer, presidente nacional do PMDB e vice-presidente na chapa petista. Ele virá a Porto Alegre na próxima quarta-feira (25), em um encontro que pode deixar ainda mais visíveis as divisões dentro do PMDB gaúcho.

João Carlos Vieira Gediel, prefeito de Quaraí e um dos principais organizadores do encontro de ontem (18), diz que a confirmação da visita de Temer trouxe uma motivação extra aos prefeitos envolvidos no movimento. Segundo Gediel, muitos não puderam estar presentes no encontro desta quarta-feira, mas teriam feito contato por telefone manifestando apoio e garantindo presença no almoço com o presidente do PMDB.

A mobilização dos prefeitos atraiu também a atenção de muitos integrantes das câmaras municipais. Segundo o presidente da Associação dos Vereadores do PMDB, Ivan Trevisan, de Pantano Grande, mais de 100 vereadores peemedebistas já estariam alinhados com a posição dos prefeitos, e mais adesões estariam por vir. Trevisan entrará em contato com todos os 1156 vereadores peemebistas gaúchos, convidando-os para o almoço com Michel Temer na semana que vem. O evento deve ocorrer no CTG 35, em Porto Alegre, e o cardápio prevê churrasco.

“É um encontro com o presidente nacional do PMDB. Cumpro minha função de convidar todos os vereadores. Alguns podem não ir, isso fica a critério de cada um”, diz Trevisan. Uma reunião executiva está marcada para a primeira semana de setembro, na qual a presidência da Associação ressaltará que os vereadores estão liberados para votar em Serra ou Dilma.

Números questionados

O presidente da Associação dos Prefeitos do PMDB no RS e prefeito de Quinze de Novembro, Clair Tome Kuhn, questiona os números apresentados pelo movimento pró-Dilma e Temer. “Não são mais do que 55 prefeituras”, garante ele, indo contra as previsões de 200 ou mais prefeituras alinhadas com a chapa nacional petista. Segundo Kuhn, cerca de 60% dos prefeitos está do lado de José Serra nesse momento. “A adesão à candidatura da Dilma pode crescer, até como efeito da visita de Michel Temer semana que vem. Mas nesse momento os números estão bem distantes do que foi divulgado por aí”, acrescentou.

“Não podemos aceitar que o nome da Associação seja usado sem que sejam apresentados dados concretos, tanto faz se para defender Serra ou Dilma”, atacou Clair. “Muitos prefeitos estão me ligando, são membros da base que não concordam com a posição a favor de Dilma e estão desconfortáveis com a situação”. A Associação divulgou nota no começo da semana, defendendo a posição de neutralidade apregoada por Fogaça.

O movimento dos prefeitos tem sido associado à figura do deputado federal  Mendes Ribeiro Filho,  único favorável a Dilma entre as lideranças do partido. Confrontado com as insinuações de que estaria coordenando o movimento pró-Dilma, o deputado foi incisivo. “Estou envolvido apenas com a coordenação da campanha do (José) Fogaça. Mal tenho tempo para coordenar a minha própria campanha!”, disparou.

Ele acredita que a tese de sua participação tenha surgido por causa de seu apoio declarado a Dilma Rousseff. “Todos conhecem a minha posição nesse sentido. As divergências são normais em uma democracia e se os prefeitos querem seguir essa direção, isso precisa ser recebido com naturalidade”.

Carta de deputados causa mal-estar

A tensão dentro do partido foi ampliada pela carta enviada por e-mail pelos deputados federais Darcísio Perondi e Osmar Terra aos prefeitos. O objetivo do texto era desencorajar a articulação favorável a Dilma, mostrando que o sentimento anti-PT é forte e que o apoio à petista acabaria enfraquecendo a candidatura de José Fogaça ao governo estadual e ajudando a chapa de Tarso Genro (PT), adversário do peemedebista no Estado. No entanto, o efeito não foi o esperado e a argumentação utilizada provocou grande desconforto em parte da base do partido.

O prefeito de Quaraí não disfarça seu desagrado com a carta que recebeu. “Nosso posicionamento reconhece a chapa majoritária na qual o atual presidente nacional do nosso partido concorre como vice-presidente. Existe outra chapa da qual o PMDB participa?”, ironiza João Carlos Gediel. Embora frise que aceita as opiniões divergentes dos deputados, Gediel acha que as colocações poderiam ter sido feitas de outra forma.

“A posição de nosso movimento é contra a intolerância. Não podemos aceitar essa posição antipetista como uma tática eleitoral”, insiste Gediel, negando que as prefeituras participantes estejam interessadas em garantir os repasses de recursos da União. “Precisamos respeitar todas as opiniões. Daqui a pouco vamos estar em uma situação de intolerância comparável com à do Oriente Médio. É isso que queremos?”, questionou.

“Quem sou eu para opinar sobre a iniciativa do Darcísio Perondi e do Osmar Terra?”, disparou Mendes Ribeiro Filho quando questionado sobre o conteúdo da carta. Mesmo evitando comentários diretos, era clara sua inconformidade com a situação.  Ele defende que haja respeito às opiniões diferentes dentro do partido e que as pressões sejam evitadas.

Peemedebistas negam crise

“O PMDB não se fragiliza de forma alguma com essa divergência interna. Essa é uma leitura equivocada da imprensa”, defende o vereador Ivan Trevisan. “Tanto Fogaça quanto Rigotto têm candidaturas sólidas, que terão sucesso independente de quem a base esteja apoiando na campanha presidencial”. Gediel concorda e reforça essa posição. “Somos todos cabos eleitorais de Fogaça e de Rigotto. Todos os prefeitos presentes ontem (quarta-feira, 18) saíram com muito material de campanha e vão estar do lado de todos os nossos candidatos. O PMDB está mobilizado para que nossos candidatos se elejam em todos os cargos”.

Para Clair Tome Kuhn, é importante deixar claro que a posição do partido é a de deixar a base livre para decidir qual presidenciável apoiar. “Se é para esses prefeitos entrarem na chapa presidencial, que seja pelas mãos de Temer e não pelas de Dilma. O nosso partido precisa estar em primeiro lugar”.

Apesar dos esforços em negar o racha, o crescimento da mobilização favorável a Dilma Rousseff mostra que o PMDB não tem consenso sobre questões importantes para o futuro eleitoral do partido. Um movimento que surge como “vontade da base”, como declara o prefeito Gediel, e faz oposição direta a lideranças do partido, que na segunda-feira passada (16) receberam José Serra em uma mobilização suprapartidária a favor de sua candidatura. A neutralidade na eleição para presidente, pregada pelas lideranças do PMDB , parece já ter ido pelos ares, e muita conversa será necessária para que o partido alcance algum tipo de consenso.


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