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21 de agosto de 2010
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09:00

Pesquisas revelam o que é importante para o eleitor

Por
Sul 21
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Lorena Paim

As pesquisas realizadas durante a campanha eleitoral dividem-se em quantitativas, quando mostram em números a intenção de voto nos candidatos, e qualitativas, quando revelam o que os eleitores pensam sobre o cenário político, eleições e candidaturas. Mais do que isso, o trabalho realizado pelos diferentes institutos pode orientar os próprios políticos sobre as melhores estratégias a seguir. O que tem chamado atenção em relação às eleições de 3 de outubro é que, neste momento, ainda é baixo o interesse da população em relação ao assunto. Essa situação, mais uma vez, deve levar a decisão sobre o voto em alguns cargos (como deputados) para a última hora.

Conforme o cientista político gaúcho Benedito Tadeu César, o percentual de indecisos ainda é alto, a exemplo do que foi observado nos mais recentes pleitos. Na última Vox Populi para governador (7 a 10/8), o índice de indecisos era de 23%. Iniciado o horário político no rádio e na TV, somente daqui a duas semanas o panorama deve começar a mudar, com a diminuição da parcela dos que não sabem em quem votar. “É baixo o interesse pelas questões políticas na massa de eleitores que não tem qualquer vínculo partidário”, ele comenta. Somente nas vésperas das eleições, continua, é que este eleitor “vai fazer cálculos sobre perdas e ganhos, simpatia e antipatia, e aí pode entrar o voto útil”. Nesse caso, o voto vai para quem tem maior possibilidade de vitória, segundo as pesquisas, ou no sentido de impedir que um candidato de quem não se goste acabe ganhando.

O número de indecisos tradicionalmente é alto, constata César, principalmente na hora de definir o deputado federal e o estadual, cujo nome o eleitor muitas vezes só escolhe na última semana da campanha. Aliás, um estudo mostra que as mulheres demoram mais a se decidir, assim como as pessoas de menos escolaridade.

Historicamente, diz o cientista político, existe uma definição clássica do eleitorado gaúcho: um terço definido nitidamente pelo PT, um terço de anti-PT e um terço flutuante, de tendência ao centro. Um fato a ser olhado de perto pelos coordenadores de campanhas, diz Tadeu César, é que esta faixa do centro pode acabar decidindo a eleição, dependendo para onde se inclinar.

Comportamento do eleitor

A diretora do Instituto Methodus, Margrid Sauer, diz que as pesquisas qualitativas (conversas com grupos fechados sobre temas políticos) têm revelado curiosidades, impossíveis de se descobrir nas sondagens meramente quantitativas. “Vimos que as pessoas não dão importância à eleição dos deputados como dão para outros cargos, como governador, que teria mais consequências em suas vidas Para deputado, parece que as pessoas pensam que podem arriscar, que aquele voto não tem maiores consequências e, por isso, decidem na última hora”, comenta. Isso, segundo a diretora, pode dar indicação aos políticos de como buscar o eleitor, ou ainda, de como novas candidaturas devem se posicionar para atrair a atenção dessa faixa.

Outra constatação feita pelas pesquisas do Methodus foi que muitos eleitores não votam em partidos; muitas vezes, nem sabem quais são eles. É o caso daqueles que reconheceram as fotos de Manuela, deputada federal, mas nenhum soube dizer a que partido ela pertence (PCdoB). Os candidatos escolhidos, portanto, estão desvinculados das legendas. Segundo Margrid, a percepção do eleitor é que se nem os próprios partidos se entendem entre si, tamanha é a troca de siglas e coligações atípicas, ele também tem o direito de não escolher de acordo com a legenda.

Subir ou descer

O índice de rejeição do eleitor a um candidato é outro item a ser observado com cuidado, segundo Margrid Sauer, pois “se um determinado nome é rejeitado de modo crescente, de uma pesquisa para outra, a onda não reverte mais”.

Especialista em marketing político, o publicitário e professor da Unisinos Sérgio Trein concorda com isso e diz que observar a margem de rejeição chega a ser mais importante, numa análise, do que a intenção de voto apontada.

A pesquisa eleitoral acaba influindo no resultado da eleição, certamente, mas Trein não se arrisca a dizer até que ponto ela é decisiva. Ele elaborou um trabalho acadêmico analisando a campanha à prefeitura de Porto Alegre, nas eleições de 2004, em que havia nove candidatos. À medida que os resultados das pesquisas apontavam a polarização Fogaça-Raul Pont como favoritos, ia decrescendo a soma dos sete demais candidatos. “Através destes resultados, é possível observar a tendência do eleitorado, de abandonar seus candidatos e optar pela opinião da maioria. Verificou-se, claramente, a prática do voto útil, em torno das duas candidaturas apontadas como favoritas pelas pesquisas eleitorais”, afirma Trein.

O autor conclui: “É inegável que as pesquisas têm efeitos importantes, mas dificilmente terão o poder de levar candidatos do nada à vitória. Podem, isso sim, é sepultar candidaturas potencialmente viáveis. As pesquisas, ao apresentarem seguidamente candidaturas com percentuais insignificantes de intenção de voto, legitimam a exclusão de nomes do rol de alternativas do eleitor. E não apenas o voto sofre a interferência da divulgação dos dados das pesquisas. Todos os mecanismos de apoio, inclusive financeiros, que extrapolam a influência da organização partidária obedecem à mesma lógica”.


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