Últimas Notícias>Política
|
20 de agosto de 2010
|
18:45

Índices apontam vitória de Dilma no 1º turno

Por
Sul 21
[email protected]

Cientistas políticos defendem cautela

Rachel Duarte

A candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff, tem razão: “Ainda tem muita água para rolar debaixo desta ponte”. A frase que ela vem repetindo, desde junho, quando saíram as primeiras pesquisas pré-campanha eleitoral, apontando a probabilidade de sua vitória no primeiro turno, é confirmada por cientistas políticos. Só a pesquisa de boca de urna, defendem alguns, é definitiva. E acreditam que a candidata petista está certa ao pedir que a militância continue mesmo com os resultados das últimas pesquisas dos institutos Vox Populi e Ibope sobre a intenção de voto dos eleitores brasileiros.  Eles comprovam a preferência de Dilma, que se distancia do segundo colocado, o tucano José Serra.

Segundo os dois levantamentos, publicados nesta semana, as chances de o pleito se definir já no dia 3 de outubro aumentaram:  a diferença  entre Dilma e Serra  varia de 11 a 16 pontos  percentuais pró-candidata do PT, dependendo do instituto. 

As pesquisas de opinião, como as eleitorais, trazem muitas informações importantes sobre os processos políticos, mas devem sempre ser analisadas com cuidado, segundo o professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS), João Ignacio Pires Lucas. “Elas representam muitas vezes certas tendências históricas e conjunturais que nem sempre se manifestam de maneira clara. Por isso, toda atenção é pouco”, alertou.

Apesar da forte tendência de vitória de Dilma no primeiro turno, o cientista político destaca a importância do horário gratuito eleitoral para atingir a parcela que poderá pesar na decisão de ter ou não um segundo turno. De acordo com os últimos estudos, a margem de indecisos fica entre 5% e 7%, ou seja, matematicamente não tem nada ganho. “Se as pesquisas continuarem mostrando crescimento de Dilma e não existir nenhum problema maior durante o período da propaganda eleitoral, o resultado deverá ser esse mesmo até o dia da votação”, projetou Ignacio.

O coordenador da campanha de Dilma Rousseff no Rio Grande do Sul, o prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi (PT), acredita no peso da televisão e do rádio nas eleições brasileiras e não conta com a vantagem das pesquisas no trabalho com a militância. “Começou há pouco a propaganda e esta campanha é difícil, pois é muito polarizada. O que vai nos balizar é o trabalho corpo-a-corpo, o retorno das bases”, disse sobre as articulações no Estado.

Segundo Vanazzi, existem 29 comitês regionais de apoio à petista. Há, também, o núcleo pluripartidário, formado por  cerca de 300 prefeitos, que trabalham para eleger Dilma. O prefeito acredita que a explicação para o favoritismo de Dilma está no “lulismo”, que  pode ter influência na campanha e é considerado por ele a novidade desta eleição.  “Esta grande aprovação do governo Lula e a capacidade de transferência disso em votos pode ser o argumento mais consistente para esta vantagem. Nos nossos trabalhos pelo interior e região metropolitana ouvimos muito as pessoas falarem que votam na candidata do Lula”, relatou.

Transferência de votos

O diretor do Instituto Análise e doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), Alberto Carlos Almeida, acredita que a eleição está estatisticamente ganha. Ele se baseia na provável transferência do percentual de aprovação do governo Lula (entre 70% e 80%) para a candidata que ele apoia declaradamente.  “A soma da conversão do ótimo e bom é muito elevada. Chegaria a 53% dos votos válidos com os 80% da aprovação do Lula. É uma lavagem”, contabilizou.

O histórico das eleições, realizadas depois da democratização, mostra que o apoio dado pelos brasileiros ao presidente reflete no comportamento eleitoral de seu candidato. Na primeira eleição direta para presidente, em 1989, o então presidente José Sarney não teve candidato à sua sucessão. No entanto, nenhum dos candidatos dos partidos que lhe davam sustentação teve bom desempenho nas urnas. Os três mais votados foram Collor (PRN), Lula (PT) e Brizola (PDT), tendo os dois primeiros disputado o 2º turno, com a vitória do primeiro.

Nas quatro eleições seguintes, segundo dados de Alexandre Marinis, da Mosaico Consultoria, os índices de aprovação dos presidentes e o desempenho de seus candidatos foram muito próximos.

– Em 1994, Itamar tinha 55% de aprovação e FHC, que era seu candidato e ex-ministro da Fazenda, teve 54% dos votos.

– Em 1998, FHC era aprovado por 58% da população e teve 53% dos votos válidos em sua campanha de reeleição.

– Em 2002, FHC tinha 35% de apoio e seu candidato, o ex-ministro do Planejamento e da Saúde José Serra, alcançou 39% dos votos válidos no segundo turno. Perdeu a eleição para Lula.

– Em 2006, Lula tinha 63% de aprovação e foi reeleito com 61% dos votos válidos em segundo turno.

– Em 2010, Lula tem aprovação superior a 85%. Se transferir 60% desse percentual para sua candidata, a ex-ministra-Chefe da Casa Civil Dilma Rousseff, ela será eleita em 1º turno.

A coordenadora do Núcleo de Assessoria Estatística da UFRGS, Jandira Fachel, discorda destas posições. Na avaliação da especialista, as metodologias que aferem a aprovação de um governo e a preferência por um candidato são distintas e não podem ser projetadas como uma transferência automática. “A pesquisa é espontânea ou estimulada. Dependendo do instituto, a imagem do candidato pode ou não ser associada a de outra pessoa, como a do presidente, por exemplo. Já na avaliação do governo há o indicativo de algo específico. São feitas perguntas sobre um modelo de governo ou a figura de um governante. Isso influencia na resposta do entrevistado”, diferencia.

A professora lembra ainda que pesquisas são sazonais, e a de maior confiança para o resultado das urnas ainda é a boca de urna.

Oposição fraca

Um dos motivos que pode estar dando certa tranqüilidade à candidatura de Dilma Rousseff é na avaliação do cientista político Alberto Carlos Almeida, as falhas do principal adversário, o tucano José Serra (PSDB). “O candidato de oposição não é dotado de carisma e tem caráter elitista. O erro da sua campanha é não popularizar o discurso, mas adotar o de bom administrador e lutador da saúde”, salientou.

Sobre a influência da propaganda eleitoral e dos debates numa virada ou mudança  radical em relação às projeções atuais, Almeida lembra que isso ocorreu apenas uma vez na história. “A televisão influenciou no resultado da eleição apenas no debate entre  (Fernando) Collor  contra o Lula. Mas nesta época (1989), a margem era pequena entre os dois candidatos. Então, resultou na derrota de Lula. Isso não terá influência hoje”, garantiu.

O contraditório gaúcho

O comportamento do eleitorado gaúcho, de acordo com os resultados das últimas eleições, opõe-se ao do eleitorado nacional.  Em geral, os candidatos à Presidência  mais votados no Estado não seguem a preferência do restante do país. Os gaúchos, também, costumam eleger candidatos de partidos diferentes para a Presidência e para o Governo do Estado.

Utilizando como parâmetro as eleições de 2006, por exemplo, os dados do Tribunal Regional Eleitoral mostram que 53,19% dos gaúchos escolheram Geraldo Alckmin (PSDB) para presidente, quando o país elegeu Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para governador, elegeram Yeda Crusius (PSDB), opositora de Lula, com 51,54% dos votos contra 44,01% dados ao petista Olívio Dutra.   O mesmo está acontecendo este ano: as pesquisas eleitorais confirmam a preferência dos eleitores da Região Sul pelo tucano José Serra, enquanto com os votos do restante do país, a petista Dilma Rousseff está em primeiro lugar.

Para o professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS) João Ignacio Pires Lucas, é possível afirmar que no RS realmente há um comportamento político antinacional. Ele diz que isso ocorre desde as primeiras eleições presidenciais na nova era (pós 1989). Além disso, quase sempre elegeu um governador de partido de oposiçao ao do presidente. “Então, a eleição aqui está aberta, devendo os candidatos a governador irem com certeza para o segundo turno”, observou.

Outro fator histórico característico dos pampas é a bipolarização entre candidatos e partidos de centro-esquerda e centro-direita. “Dessa forma, o candidato Tarso é representante da centro-esquerda e Fogaça, da centro-direita. Os votos dos indecisos, uns 10%, penderá para um dos lados. E esses escolhem pelos últimos programas eleitorais, exibidos pela TV, ou pela lista de apoiadores”, afirmou.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora