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11 de agosto de 2010
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09:00

Berfran Rosado

Por
Sul 21
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“A grande novidade desta campanha é reeleger a governadora”

Nubia Silveira

Deputado pelo PPS, o engenheiro civil Berfran Rosado é candidato a vice-governador na chapa da coligação Confirma Rio Grande, liderada pela governadora Yeda Crusius (PSDB), candidata à reeleição. Em seu terceiro mandato, o deputado tem longa experiência no Executivo como secretário estadual do Trabalho, Ação Social e Cidadania do governo Britto e do Meio Ambiente, do governo Yeda Crusius. Também presidiu a Metroplan e a Corsan. Iniciou sua vida política no PMDB, de onde saiu por discordar da postura assumida pela direção nacional. É um defensor do Parlamentarismo e da natureza. Afirma que os ambientalistas, com os quais teve alguns embates, converteram-no “para posição de defesa da área ambiental”. Neste momento,  divide-se entre a Assembleia Legislativa e o processo de organização da campanha.  Não vê qualquer contradição no fato de ter sido candidato a vice-prefeito de Porto Alegre na chapa de Manuela D’Ávila (PCdoB), em 2008, e agora integrar a de Yeda Crusius (PSDB); acredita na vitória da governadora; promete defender, educadamente, suas posições; critica os que, segundo ele, são contra os avanços conquistados pelo governo Yeda e confia no crescimento nacional do seu partido.

Sul21 – O senhor está no terceiro mandato como deputado estadual. Pela primeira vez, foi eleito pelo PMDB.

Berfran Rosado – Em 1998, pelo PMDB. As outras duas vezes, pelo PPS.

Sul 21 – O que levou o senhor a mudar de partido? Quais os pontos convergentes e divergentes do PMDB e do PPS?

Berfran Rosado – Foi um grupo grande que saiu do PMDB em 2001. Naquele momento, havia uma diferença bem explícita entre o PMDB do Rio Grande do Sul e o nacional. Lembro como se fosse hoje: ao longo de 2001, tivemos uma disputa interna no PMDB. Paulo Odone (deputado estadual pelo PPS) foi nosso candidato a presidente (do diretório estadual). O  (César) Schirmer, candidato pelo outro lado. A disputa foi muito acirrada. O Schirmer acabou ganhando esta eleição. Na época, o então ministro Padilha (Eliseu Padilha, ex-ministro dos Transportes do governo FHC) foi muito decisivo para a vitória do Schirmer.
Sul 21 – Quem participava deste grupo?

Berfran Rosado – No comando nacional estavam Gedel (Vieira Lima), Jader (Barbalho), Renan (Calheiros) e Michel Temer. Este grupo comandava o PMDB e não conduzia o partido para onde nós queríamos. O nosso grupo era grande. Participavam das reuniões, o (Germano) Rigotto, que era deputado federal, o (Antonio) Britto, que era ex-governador,  o (José) Fogaça, ex-senador. Tanto o Rigotto quanto o Fogaça tinham sofrido muito com o comando nacional. Nenhum dos dois tinha obtido espaço no PMDB nacional, em Brasília, para suas carreiras. O Fogaça foi impedido de ser líder no Senado. Do Rigotto, tiraram a liderança na Câmara. Nenhum deles conseguiu ser ministro indicados pelo PMDB.  Na hora de sair, no último dia, na última hora, o Rigotto – essa é uma  ironia do destino – pediu 24 horas para pensar, porque nós estávamos – é óbvio – saindo em tempo para a eleição, e o Rigotto queria ser candidato ao Senado.  Isso é muito curioso.  Ele queria ser candidato ao Senado em 2002 e é agora, em 2010. Ele dizia o seguinte: “Se vocês forem para um novo partido, a vaga para o Senado está ocupada. Não haverá possibilidade para mim”. Dizia isso porque a ideia era fazer uma parceria com o PTB, de (Sérgio) Zambiasi e ele teria de se candidatar novamente à Câmara Federal e essa não era a intenção dele. No dia seguinte, ele  respondeu que não sairia do PMDB. Ficou no PMDB. Não se candidatou ao Senado e, sim, ao governo e nos ganhou a eleição. Saímos por um confronto com a turma do comando nacional. Por isso, sempre me pergunto por que razão quem saiu voltou.

Sul 21 – A volta ao PMDB foi uma traição de Fogaça?

Berfran Rosado –  Traição não. Uma decisão pessoal dele. Só não compreendo que razões ele encontrou diferente das de quando ele saiu.
Sul21 – O PMDB continua o mesmo daquela época?

Berfran Rosado – Não é que eu ache (que continua o mesmo). As pessoas enxergam. O PMDB nacional apoia Dilma e o do Rio Grande do Sul, não. O PMDB nacional será governo, independente de quem ganhar a eleição. O PMDB nacional é o que todos sabem.
Sul 21 – Como se explicam as coligações que foram feitas? Elas não enlouquecem o eleitor?

Berfran Rosado –  Tenho certeza de que confundem o eleitor. Certamente, confundem. Penso que isso se dá em decorrência de uma maluquice que existe no Brasil: nós temos todo um sistema político constituído, organizado, com vista a um regime parlamentarista, vivendo num sistema presidencialista. Esta fragmentação de partidos só faz sentido em regimes parlamentares. Por quê? Porque podem formar a maioria no parlamento e esta maioria constitui governo sólido. O que temos hoje, esta fragmentação de partidos, sempre produz ou coligações, digamos, não convencionais ou governos fracos. Qualquer um que queira, no modelo atual, obter maioria no parlamento tem que compor com forças que  vão muito além do seu leque tradicional de alianças ou de suas afinidades ideológicas.
Sul21 – A solução é seguir com este tipo de alianças?

Berfran Rosado – Sou parlamentarista, o meu partido defende o parlamentarismo. Esta confusão que nos incomoda, que causa estranheza no eleitor, tem uma raiz, a raiz do problema é o sistema político-partidário totalmente desconectado com a questão do presidencialismo. O presidencialismo se estrutura sobre partidos fortes.

Sul21 – Esta situação toda não teria acontecido porque os partidos não são fortes?

Berfran Rosado – Não. Nós temos um sistema que permite de alguma forma, que incentiva a constituição de tantos partidos, o que não é compatível com o presidencialismo. Então, teremos problemas. A solução não é, na marra, reduzir o número de partidos. A solução, do meu ponto de vista e do meu partido, é que caminhemos para o parlamentarismo.
Sul21 – O senhor acha possível ter o sistema parlamentarista num Brasil próximo?

Berfran Rosado – Por que não somos parlamentaristas? Por que não somos agora? Participei da campanha parlamentarista (plebiscito realizado em 1993 sobre a forma e o sistema de governo). Quem defendia o presidencialismo? Era o Lula (Luiz Inácio Lula da Silva), o PT, o (Orestes)  Quércia, o (Leonel) Brizola. Do meu ponto de vista, era  um enfoque equivocado, atrasado. Uma visão atrasada que de alguma forma serve ao presidente Lula. Criam-se estas figuras carismáticas, que não se caracterizam como bons gestores, mas alcançam popularidade, que é a maneira de serem eleitos. Depois, para governar, fazem estas alianças, cedem nos seus princípios.

Sul 21 – Este modelo político…

Berfran Rosado – Este modelo político-partidário está em conflito com o regime político. E produz situações esdrúxulas que a população não compreende. Mas a população não sabe disso.
Sul 21 – Este modelo político-partidário faz com que surjam políticos carismáticos, mas não exclusivamente o Lula.

Berfran Rosado –  No nosso modelo, se elegem os mais simpáticos, os mais queridos, os mais atenciosos. Imediatamente depois que o cara é eleito se exige que ele seja um bom gestor, competente e ainda com maioria. Mas na hora de votar não tem maioria. O sistema produz uma irracionalidade. Nós na política acabamos tendo de nos ajustar a isso. É ruim?  É ruim, do meu ponto de vista. Volto a insistir:  a solução é que pudéssemos caminhar para um regime parlamentarista.

Sul21 – As orientações para  que o eleitor vote corretamente são muitas. Campanhas oficias, campanhas de ONGs,  sites na Internet. Houve uma evolução no comportamento do eleitor da instituição do voto universal até agora?

Berfran Rosado –  O eleitor, obviamente, evoluiu. E esse processo de democracia é muito recente para nós. A solução é mais democracia para aperfeiçoar o sistema. Mais eleição. A cada eleição, vamos avançando, percebendo quais as transformações concretas que os governos propõem e executam e não executam. Os meios de comunicação prestam um serviço fantástico, acompanhando os governos, vendo se seus compromissos são honrados ao longo do mandato. Acho que estamos avançando. Mas, obviamente, há uma relação direta com o nível  de condições que o eleitor tem para acompanhar as gestões. A gente faz reuniões dentro do partido analisando governo. Os nossos eleitores, no entanto, não estão 100% na Internet, acessando sites governamentais e comparando  se (o que dizem) é condizente com o que o partido propôs ao longo da sua vida ou na campanha eleitoral, que elegeu aquela governante. Dificilmente, o eleitor consegue acompanhar. Uma  ação que não lhe toque não é do seu conhecimento.  Por isso que a eleição precisa de tanta propaganda, porque só na campanha o eleitor vem a ter mais contato com seu candidato. E a partir disso pode fazer a usa escolha.
Sul21 – Como se aproximar mais do eleitor? No caso do município – da prefeitura, da Câmara – há uma aproximação maior.

Berfran Rosado –  Um vereador ruim tem muito mais dificuldade de se reeleger do que um deputado federal ruim. O trabalho que a imprensa faz ajuda demais (a aproximar o eleitor dos políticos). A Internet, toda a tecnologia, tem permitido isso. Em Santo Ângelo, um eleitor nos disse que assiste a todas sessões da Câmara Federal. Sabe avaliar  como nenhum jornalista aqui do Estado a produção em plenário dos deputados, porque tem uma TV Câmara que chega na casa dele. Através da Internet, do twitter, do face book, os agentes públicos  passam a se mostrar mais e, portanto, a ser mais avaliados.  Acho que a tecnologia, o conhecimento, a educação reforçam as condições para que o eleitor possa fazer uma boa escolha. O acho que seria o ideal? Que não precisasse nem existir campanha política.

Sul 21 – Como seria?

Berfran Rosado – Quem fosse candidato colocaria seu nome  à disposição. O TRE informaria que aquele sujeito é candidato e ele seria eleito ou não,  de acordo com o significado que ele tem para sua região ou para o seu segmento. Em tese, seria o ideal. Ou ele é representante de uma categoria, de uma região, ou não faz sentido ser eleito. Mas da forma como está posto, vira uma guerra de marketing. Nós precisamos avançar muito. Quanto mais educação, informação, tecnologia, acesso e  conhecimento da prestação do serviço que todos nós executamos, melhor o eleitor vai definir o seu voto.

Sul21 – Nós começamos esta entrevista com o senhor falando sobre os partidos pelos quais transitou…

Berfran Rosado – Se me permitires, só para chamar a atenção: em geral, as pessoas trocam de partido em busca de uma situação mais conveniente. No nosso caso, fizemos uma troca de partido para uma situação com muito mais dificuldade. Eu, por exemplo, tinha apoio, na minha eleição no PMDB, de  mais de 50 vereadores. Continuaria com o apoio deles para a segunda eleição. Aliás, informalmente, tive de vários.  Fui para um partido que tinha oito vereadores em todo o Estado. Um partido que não existia. Eu chegava nos municípios , em 2002, e o partido não existia. Fiz minha segunda campanha com  amigos pessoais. Sabe por quê? Porque quem ouve esta coisa da troca de partido, pensa em busca de melhor, de  obter vantagem.

Sul21 – A famosa Lei de Gerson.

Berfran Rosado – No nosso caso, vale sublinhar, nos submeteu a um sacrifício brutal.

Sul21 – O senhor esteve no governo Britto, do PMDB, foi candidato a vice-prefeito de Porto Alegre na chapa de Manuela D’Ávila, em 2002, e agora é candidato a vice-governador ao lado da governadora Yeda Crusius do PSDB. Que pontos ligam estes partidos?

Berfran Rosado – Nisto tem três lados. Em primeiro, a Manuela e a Yeda têm muito mais pontos em comum do que as pessoas podem pensar. São duas mulheres inteligentes. São duas mulheres competentes. São mulheres vigorosas, corajosas. E as duas vão fazer muita história no Rio Grande do Sul. Posso te garantir. Tanto na eleição de 2008 quanto nesta de 2010, nós do PPS estamos dizendo a mesma coisa.  Estamos reforçando o que o Beto Albuquerque dizia – e juntos estivemos em 2008 – que é (a necessidade de) romper a polarização do PT e do PMDB no Rio Grande do Sul. Nós fizemos o mesmo. Mas, as pessoas não enxergam nesta dimensão. O movimento que fizemos em 2008 é o mesmo que estamos fazendo em 2010. Visamos romper esta polarização PT-PMDB, que, do meu ponto de vista, tem produzido uma política atrasada para o Estado. Romper com isso em Porto Alegre era importante em 2008.  Aquela eleição, do meu ponto de vista, foi fraudada, porque o Fogaça ficou um ano e foi embora.

Sul21 – E o terceiro lado?

Berfran Rosado –   A eleição municipal é uma  eleição solteira e  muito ajustada às questões de natureza local.  Na eleição municipal, coligamos com o PT – Partido dos Trabalhadores –  em muitos municípios. Por exemplo, em Butiá era o PPS, o PMDB e o PT. Eles se elegeram como nosso vice,  como vice do Sérgio (Severo Malta). Em Capão, fomos vice deles. Em Canoas, só para pegar aqui perto, nós participamos da coligação inicial do PT do Jairo (Jorge), com o PP da Beth (Colombo) com o PPS, que era coordernador da campanha e tem a secretaria-geral de governo. Em Sapucaia, a mesma coisa. Era para sermos o vice com o Cirço (Rocha). Para incluir o PDT,  ele abriu mão. Temos coligações com o  PMDB e administramos com o PMDB em outros lugares. Nos municípios, a questão local tem muito peso e não está vinculada à questão nacional. A orientação do PPS nacional é que o partido nos estados busque o alinhamento nacional.  O PPS tem uma preocupação em ser um partido nacional. Estamos reproduzindo aqui, prioritariamente, a coligação que existe nacionalmente e continuamos com a governadora desde 2006. Participamos do primeiro turno da eleição de 2006,  elegemos a governadora, concorri como vice da Manuela, sem deixar de ser presidente do partido que apoiava a governadora na administração estadual.

Sul 21 – Voltamos à questão das coligações que enlouquecem os eleitores.

Berfran Rosado – Mais uma coisa: a reeleição da governadora Yeda tem um ganho especial para a política do Rio Grande do Sul, que é o de promover a verdadeira renovação política, porque em 2014 ela não vai poder se eleger e teremos, certamente, candidatos que não serão nem Tarso (Genro), nem o Olívio (Dutra). Chega dos mesmos. Teremos renovação. Renovação mesmo. Quem sabe outras forças políticas vão se constituir. Acho que a renovação política virá com a possibilidade de reeleição da governadora.

Sul21 – Por que, ao longo dos anos, o Rio Grande do Sul perdeu força política?

Berfran Rosado – Não sei avaliar se perdeu força política. Estás fazendo uma afirmação que eu não tenho elementos para validar. Não sei se perdeu força política. Perdeu força política aonde? Acho que o que o Estado perdeu foi tempo para fazer com que as forças políticas possam representar ganhos para a sociedade. Por exemplo, aqui, as pessoas gostam das disputas mesmo que não façam sentido. Vou te dar um exemplo: os partidos políticos que participaram da administração da governadora. O governo em qualquer área foi significativamente melhor e mais avançado do que os dois governos anteriores. Qual é a razão para que as forças políticas que estiveram com o governo dela não estejam com ela na eleição para dar continuidade a um projeto que funcionou? Só pode ser de natureza político pessoal, porque se estiveram juntos, por que mudam de ideia?  Porque tem um sujeito que resolveu que quer ser governador. Não sei se perdeu força política.  O que penso é que a sociedade está perdendo da política força para fazer avanços. Imagina! Estou deputado há 12 anos. Há 12 anos, a pauta do debate na Assembleia são os orçamentos, que não valem coisa nenhuma, porque não são realistas, o recurso não existe, bota no orçamento e depois não tem dinheiro. Eu mesmo me posicionei contra esta obra de ficção. Agora, tem um orçamento realista. Os recursos existem e estão disponíveis. Há quatro anos, a discussão na campanha era a dívida do Estado. O (Miguel) Rossetto, candidato ao Senado (pelo PT) concentrou toda a campanha dele na dívida. Sumiu este problema. Acabou.  Já era. A equação foi resolvida.  E nada disso vale? Como não valem? As coisas mudaram radicalmente. Peguei alguns dados para a campanha, porque preciso me manifestar. A governadora é criticada pelo funcionalismo e posso mostrar – tenho o dado aqui para comprovar – que só a governadora, de 99 para cá, do governo Olívio, do governo Britto,  deu aumento salarial acima da inflação para todas as categorias do funcionalismo.
Isso significa que está tudo resolvido? Claro que não. Não posso esperar que o PT, as forças de esquerda concordem, mas o que justifica as outras forças (não concordarem)? Não tem justificativa.  Acho que isso penaliza o Estado. Em segurança pública, há mais brigadianos na rua, um bilhão de recursos mais do que o governo anterior, corrigido pelo IPCA, é muito mais possibilidade de solução. Isso não tem que continuar? Se não, não sei o que  tem de continuar. Aqui,  o pessoal gosta muito de fazer política e este fazer política caba sendo muitas vezes o fortalecimento de projetos pessoais e não coletivos. Estou podendo falar disso muito à vontade, porque abdiquei de um projeto pessoal meu que era ser candidato a deputado federal. Ninguém pode me dizer que estou nisso por oportunismo, porque a minha candidata não está ainda na frente nas pesquisas. Então, acho que o que talvez a gente tenha  perdido é força de ação política mais coletiva.
Sul21 – Mas o que pode ser feito para o Rio Grande voltar a ocupar os primeiros nos lugares nos rankings nacionais?

Berfran Rosado – Fui representar a governadora na Assembleia Legislativa num debate sobre o governo. Tive a oportunidade de ouvir o Tarso e o Fogaça. Depois, o nosso comentário foi o seguinte:  a nossa  pauta está trancada, o Tarso e o Fogaça estão com a pauta de 1990. Os dois foram candidatos ao governo em 1990. Estou ouvindo eles dizerem que vão fazer o básico, o feijão com arroz:  brigadiano na rua, brigadiano armado, com automóvel, com colete, e vaga nos presídios. O básico a governadora fez. Temos de falar em tecnologia, como a gente cerca uma cidade com tecnologia, para ter mais controle, mais eficiência no policiamento, como trazer todos estes instrumentos de informação para a área de educação, por exemplo, como a gente envolve outras formas de aferição de desempenho.
Sul21 – O senhor foi indicado a vice num momento de crise do PSDB com o PP. A ideia que ficou foi a de que a governadora, uma mulher de personalidade forte, escolheu o senhor por ser bonzinho, um bom moço, comportado, que não criará problemas.

Berfran Rosado –  Acho que estava tumultuado até ficar decidido que o PPs ficaria com a vaga de vice e o Berfran seria o candidato. Participei da convenção do PP, vou a todos os eventos do PP, e o acolhimento é muito grande. Aliás, interpreto que o PP abriu mão porque era para mim.  A gente tem uma longa história de convívio e de boa relação. Passado o episódio da escolha –  e só sou candidato a vice, porque o PP abriu mão para mim, pois se o PP insistisse, o seu tamanho se faria valer.  Com relação a ser bonzinho,  fico feliz que interpretes assim. Mas eu tenho opinião, tenho posição, defendo minhas opiniões e posições com convicção, mas eu defendo com muito respeito a quem pensa diferente de mim. Acho que quando as pessoas são educadas, elas podem pensar diferentes. Não atrapalha em nada. O difícil é conviveres com pessoas diferentes que não se relacionam de forma gentil e educada. Então, acho que dá para ter opinião e posição, desde que a gente respeite. E eu aprendi a respeitar a opinião dos outros. Não tenho a pretensão de saber mais do que os outros.  Tenho  respeito pela governadora Yeda e tenho reconhecimento e admiração pelo seu trabalho. Acho que o que ela fez pelo Rio Grande do Sul, o que a governadora implementou foi o que o PPS, em 2006, preconizava. Toda nossa chamada dizia: “Vamos fazer mais com menos dinheiro”. Defendíamos que só resolveríamos os problemas com dinheiro. Na Assembleia, ouço os discursos dos deputados todos os dias. Todos sabem o que deve ser feito.

Sul21 – É como os torcedores, todos são técnicos de futebol.

Berfran Rosado – Como a pauta está trancada há 30 anos, todo mundo sabe que tem de ter escola, cadeira, professor, um salário digno. Todo mundo sabe disso há 30 anos. Mas só pode ter isso com um jeito: com recurso público do orçamento para que estas necessidades sejam alcançadas e resolvidas. O mérito dela (Yeda)  é ter conseguido prover o Estado de recursos.

Sul21 – E o papel do vice qual é?

Berfran Rosado – O papel do vice é ajudar a sustentar o projeto. Não sou candidato a vice-governador para concorrer com ela. Sou candidato a vice para apoiar o projeto dela.

Sul21 – Durante o governo Britto, o senhor foi um defensor das privatizações. O senhor ainda defende a venda de bens públicos? O que há para vender?
Berfran Rosado – Naquele momento, as privatizações foram feitas por uma posição ideológica, mas por necessidade de dinheiro. Não sei se o governo Britto teria feito privatizações com o caixa que a governadora Yeda tem hoje. Por quê? O Estado do Rio Grande do Sul foi financiado de quatro maneiras até aqui. Primeiro, antes do advento da inflação, com  o endividamento. O Estado se endividou, pegando recurso externos e foi assim que cobriu o déficit. Depois, com a inflação. O governo Collares obteve com o rendimento da inflação o mesmo volume de recursos que o Britto obteve com as privatizações. A inflação rendia muito para quem tinha dinheiro. E o Estado tinha dinheiro. Recebia recursos dos impostos todos os meses. Se atrasasse o pagamento dos fornecedores 30 dias, quanto ganhava com isso? E se não desse o reajuste para o funcionalismo no prazo de três meses, seis meses, mas de um ano? Quanto ganhava com isso? Então, o governo se financiou durante o período  da inflação com os rendimentos inflacionários do mercado financeiro. O que aconteceu com o Britto foi que ele assumiu em 95 e o Plano Real tinha sido feito em julho de 94. Um baque só. O mundo real. Acabou o ganho inflacionário.  Então, como faz? O déficit estava lá. Não tinha tempo para botar em dia. Toda a economia do Brasil se ajustando. A privatização, naquele momento, foi um instrumento para cobrir o déficit.  Tem privatização boa  e outras que, ao longo do tempo, não se mostraram boas. Ninguém é a favor de privatização indiscriminadamente. Tem casos e casos. Tem casos que foram bem e os que não foram bem.

Sul21- Ainda há o que privatizar?

Berfran Rosado – Sou autor na Assembleia de uma emenda para preservar as empresas públicas, como  a nossa companhia de saneamento. Não sou um privativista. A questão não é essa.

Sul21 – O senhor  atuou muito a setores ligados ao meio ambiente. E houve um momento em que suas relações com os ambientalistas não estava boas. Como estão agora?

Berfran Rosado – Quando assumi – e  estás te valendo desta questão – os ambientalistas questionaram: como o Berfran, que na Assembleia era coordenador de uma Frente Parlamentar a favor do florestamento? Agora, vai ser secretário do Meio Ambiente para resolver problemas da área do florestamento.

Sul21 – Questionavam também os recursos de campanha que o senhor recebeu de empresas do setor.

Berfran Rosado – Eu e o mundo. E tudo legalizado. E este dinheiro é insignificante dentro dos recursos totais da minha campanha. Mas isso é do início, não é do final. Qual o final da história?  O final da historia é que esta questão do reflorestamento no Rio Grande do Sul, com os ambientalistas de um lado e os produtores de outro,  foi  mais uma novela que o governo Yeda descascou e resolveu.  Nós promovemos um consenso entre o setor produtivo e os ambientalistas e votamos de forma consensuada no Conselho Estadual do Meio Ambiente a política que estabeleceu o zoneamento para a silvicultura no Rio Grande do Sul. Foi feito sem nenhum voto contrário de nenhuma ONG ambientalista.

Sul21 – Uma pacificação.

Berfran Rosado – Tô seguro disso. Tive relação excelente com os ambientalistas, articulei com as ONGs.  Eles me converteram para posições de defesa da área ambiental. Fiz um MBA em gestão ambiental na FGV e fui obviamente para a secretaria depois de ter concluído esta pós-graduação. Saí de lá ainda mais convencido de quanto precisamos agir e avançar neste sentido e fico muito contente que hoje a governadora  coloque como prioridade esta questão  do verde para o futuro do Estado. Praticamente um guarda-chuva de suas propostas para o futuro governo.

Sul 21 – No início desta entrevista o senhor disse que o PPS traz uma novidade para esta campanha que é o parlamentarismo.

Berfran Rosado – Não é nesta eleição. Na eleição, infelizmente, não se discute isso.

Sul21 – Qual o senhor diria que é a novidade desta campanha?

Befran Rosado – A grande novidade  é o Rio Grande do Sul, pela primeira vez, reeleger uma governadora. O Estado do Rio Grande do Sul parece que não se permite avançar, não é?

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