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3 de agosto de 2010
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09:00

Abgail Pereira

Por
Sul 21
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Cara nova na corrida ao Senado

Lorena Paim

Figura nova na cena parlamentar, Abgail Pereira tem histórico na luta sindical e na promoção do papel da mulher. Aos 50 anos de idade, casada, dois filhos, sem nunca ter ocupado cargo eletivo, Biga, como é conhecida entre os militantes, é pedagoga e pós-graduada em Psicopedagogia além de sindicalista, tendo iniciado a vida política em Caxias do Sul, onde nasceu e ainda vive e trabalha, como servidora municipal. A representante do PCdoB faz dobradinha com Paulo Paim (PT) na tentativa de conquistar a segunda vaga da coligação Unidade Popular ao Senado em 2010.

Qual sua trajetória política?

Sou de uma família de nove irmãos – nove homens, só eu de mulher – e desde jovem participei dos grêmios estudantis. Na década de 80, com aquela efervescência, houve o despertar para a questão da discriminação da mulher e dos movimentos sociais. Fundamos, então, a União de Mulheres Caxienses. O PCdoB, na época, estava na semiclandestinidade. Eu me filiei ao PDT, onde e militei na juventude socialista. Depois, na legalidade, eu assumi a legenda do PCdoB. Após, fundamos a União Brasileira de Mulheres, e sou da direção nacional até hoje. Iniciei minha atividade sindical, no Sindicato de Hotéis e Turismo, que atende também entidades assistenciais. Trabalhei como educadora na Comai (hoje extinta) e sempre fui ligada à prefeitura de Caxias, assumi a Biblioteca Pública. Passei e integrar a direção do Sindicato e a fazer a política sindical. Fui para a Confederação de Hotéis e Turismo, onde fui vice. Hoje, na central sindical, sou da direção executiva, com a pasta da Secretaria da Mulher. Faço a luta sindical, mas com o olhar para o movimento das mulheres.

E a política partidária, onde entra?

Na última eleição concorri à prefeitura de Caxias do Sul, como vice na chapa de Pepe Vargas. Uma eleição difícil, com apenas dois candidatos e os dois fortes, um já tinha sido prefeito e outro concorria à reeleição. Não fomos vitoriosos eleitoralmente, mas politicamente eu, particularmente, saí vitoriosa e fortalecida por estar participando mais dos debates do município, das necessidades do povo e de estar mais presente na paisagem da cidade. Nossas propostas eram tornar a cidade mais humana e socialmente justa. Saí como um nome em ascensão, uma liderança de fato reconhecida. Participei de vários debates; a novidade nessa eleição era eu. Mostrei que conhecia a cidade e seus problemas. Isso fez com que meu nome fosse conhecido a ponto de ser citado na convenção para o Senado.

A falta de experiência não influi na sua candidatura ao Senado?

Nós, militantes sociais, fizemos política sempre, política sindical, feminista. Para o povo em geral é que políticos são tidos como os parlamentares. Concorri a vice-prefeita e não ter sido eleita não significa falta de experiência de debate político e de como encaminhar a proposta. O nosso debate numa central sindical passava por todas as necessidades do povo, especialmente trabalhadores. Não vemos problema em concorrer a um cargo de esfera nacional. Muitas pessoas fizeram isso e foram vitoriosas. Lula, quando concorreu à presidência, não foi vereador, prefeito, governador. Não precisa ter esse currículo. A gente é aprovada pelo que fez depois que fez.

Como analisa o desencanto de parte da população com a figura do político?

O Senado hoje, além de passar por desgaste, enfrenta problemas de corrupção, coisas que nos envergonham. Além de concorrer para ser meramente um nome renovado, precisa ter uma renovação de propósitos. Desde que foi criado, na época do Império, o Senado precisa se dar conta do que é sua função. Quero ser senadora para ajudar meu Estado, o que é diferente do deputado, que representa as pessoas. Hoje o RS carece de senadores que representem seu Estado, na questão do investimento, da infraestrututura. O senador Paim é uma das raras exceções. Mas precisamos mais do que isso. Nosso Estado, nação, está em crescimento e na lógica do desenvolvimento. Queremos que o Brasil continue avançando nessas mudanças iniciadas por Lula. O Estado precisa estar de mãos dadas com o Brasil, e não está. Para isso, precisamos ter Tarso governador, que tem todo um programa de governo em sintonia com esta política iniciada pelo governo Lula. O nosso programa foi feito por muitas mãos, é o programa de Tarso e o da Abgail. Eu vou ajudar Tarso lá no Senado a cumprir este programa. As notícias de coisas boas de políticas públicas, de equipamentos sociais todas hoje são oriundas do governo federal, a exemplo do PAC, Prouni, porto de Rio Grande. Qual foi o projeto daqui para a nação? Não houve, a nação está investindo aqui, mas o Estado não está articulando para buscar melhorias.

Qual a diferença de ser mulher candidata?

Acho que nós, mulheres, temos esta condição: estamos em todos os setores da economia, precisamos estar nos espaços de poder também. Somos boas administradoras, no lar, no bairro, na empresa. Tem que ter um olhar mais polivalente, ver o todo, não só a parte, ver a obra que toque as pessoas, que altere a condição de vida das pessoas.  Por exemplo, há 118 municípios que não têm via pavimentada de entrada. Então, fazer essas vias aumenta a autoestima dessas pessoas. Na medida em que seu município melhora, ela passa a querer pintar a casa, a melhorar. Como diz a Cora Coralina (escritora): as obras têm que mexer com o coração das pessoas. Desenvolver uma região como a Metade Sul também dá autoestima às pessoas, assim como a questão das estradas, a ampliação dos portos e aeroportos (como o de nossa cidade, Caxias). As cadeias produtivas de nosso Estado estão muito reduzidas, o agronegócio precisa de aporte na agricultura familiar – que é quem nos alimenta.  O setor coureiro-calçadista, moveleiro, metalmecânico, precisamos modernizar e diversificar a cadeia produtiva. Com o polo naval em Rio Grande e o biodiesel.

Como vai ser a dobradinha com Paim na campanha ao Senado?

São estratégias diferentes. Temos duas vagas para o Senado, pois este ano a Casa se renova em dois terços. Até por uma questão de respeito ao nosso eleitor de nossa coligação, se temos duas vagas, temos dois candidatos. Nossa diversidade e pluralidade estão representadas em homem negro, mulher trabalhadora. A legislação prevê que o eleitor pode votar em coligações e partidos diferentes. Nós apostamos nessa dobradinha Paim-Abgail. As outras coligações apostaram num único nome. Entendemos que a estratégia adotada por eles foi no sentido de obter ficar sozinhos no tempo de TV, não dividir, mas essa é uma leitura que eu faço, não sei. Achamos que uma pessoa só para ocupar duas vagas… Pode votar nessa pessoa e pode escolher o segundo voto… em mim possivelmente. Não acreditamos num voo solo, nós temos inúmeras pessoas: se fossem três vagas, teríamos três para concorrer. Porque nos complementamos. Paim é um excelente senador e precisa que eu esteja do lado dele para que possamos avançar ainda mais.

Quanto a ter apenas um ou ter dois candidatos ao Senado, a vida vai nos mostrar qual das duas estratégias foi a mais acertada. Como são dois votos, não sabemos como o povo vai olhar. Julgamos que vai escolher Paim- Abgail. Eu estou entre os quatro candidatos ao Senado. Seria eu a primeira, a segunda, a terceira ou a quarta? Eu posso ser a primeira. Por que não? Porque o meu nome não está na evidência como os outros? Política é muito dinâmica.

Como encara as pesquisas que revelam um índice muito baixo em relação ao seu nome?

As pesquisas, não as desconhecemos, mas não nos pautamos por elas. A nossa referência é aquilo que estamos vendo no dia a dia. As outras candidaturas, nós respeitamos, quem tem trajetória diferente da minha, mas não melhor. A minha trajetória é dedicada à luta das mulheres, dos jovens, dos negros, da diversidade do nosso povo. Temos outra mulher que está concorrendo. Qual a experiência que ela tem? Se você quiser estabelecer parâmetro, eu já tive a experiência de concorrer, de ser dirigente de uma central sindical nacional. Então, eu acho que nossa estratégia está correta. Se na pesquisa eu apareço com percentual baixo, tenho certeza de que quando começar o programa de televisão e o trabalho que vocês, veículos de comunicação, estão fazendo e nos oportunizando dar a nossa opinião abrindo esse espaço de forma igualitária, para que isso chegue à nossa sociedade… ao chegar lá, tenho certeza de que esses números vão mudar. Estou determinada na busca desse voto e o que se observa já  nesse primeiro momento é que as pessoas estão vendo isso.

Como é a campanha com o companheiro de coligação, que por sinal também é natural de Caxias?

Em alguns momentos, estamos juntos. O conceito de nossa campanha está definido. Nosso slogan é: “eu sou Rio Grande, sou Abgail. Sou Rio Grande sou Paim.” Estamos juntos buscando essas duas vagas. Ora estamos juntos ora estamos cumprindo agendas diferentes para cobrir mais de 400 municípios. O fato de ser desta ou daquela cidade…

Aliás, uma das questões da reforma política é que sou contra o voto distrital. Radicalmente contra. O fato de sermos de Caxias não significa não olhar para o Estado como um todo. É preciso fomentar a Metade Sul, fomentar o setor coureiro-calçadista. Adotar o voto distrital misto seria ter um despachante de luxo naquela região, que seria uma ilha. É preciso ver o quanto o porto de Rio Grande iria ajudar minha cidade. Ou a criação de escolas técnicas regionais. A reforma política precisa vir com urgência, e que ela tenha condição de ter financiamento público de campanha porque isso dá condição igual para todos os candidatos. E que possamos ter voto em lista com as listas fechadas (tu votas naquele partido, naquelas listas). Isso dá condição a que as pessoas se candidatem por um programa. Outra questão é a fidelidade partidária. Muita gente diz: eu não voto no partido. eu voto na pessoa, ela é honesta, eu confio nela. Então, essa pessoa é eleita e em geral não tem compromissos programáticos. Então, ela vota segundo aquele que financiou sua campanha. Essa não é a nossa opinião. Nós entendemos que se você defendeu isso, você pode me cobrar depois. Coisa que fortalece a democracia. Defendemos a reforma política. Somos contra a cláusula de barreira, pois se fosse assim nosso partido voltaria à clandestinidade. A democracia no Brasil ainda e tímida, precisa se fortalecer. Nosso partido tem 87 anos e agora vive seu período mais longo de legalidade, 25 anos. E os partidos pequenos nunca podem crescer do modo como a legislação coloca. Então, essa é uma questão que queremos discutir no Senado.

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