Últimas Notícias>Política
|
28 de maio de 2010
|
06:00

Para Dilma, política externa exige cautela

Por
Sul 21
[email protected]

Em Gramado, referiu-se a Serra e suas declarações sobre a Bolívia

Clarissa Pont

[email protected]

A candidata Dilma Rousseff criticou José Serra nesta quinta-feira (27), durante 26º Congresso Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, em Gramado. Sem apresentar provas, o tucano acusou ontem o governo boliviano de ser condescendente com o tráfico de cocaína para o Brasil. Dilma alegou que é contra a demonização do país e disse que é preciso ter cautela.

O assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, também classificou o candidato à presidência pelo PSDB de “exterminador do futuro” da política externa. “Não podemos desprezar nossos vizinhos nem olhar com soberba para os outros problemas. Acredito em uma América Latina forte”, concordou a pré-candidata petista.

Em coletiva com jornalistas depois do discurso na serra gaúcha, a ex-ministra disse que o governo do presidente Evo Morales representa a “maturidade” da política boliviana. “Não concordo com o tipo de demonização que se faz com um país como a Bolívia. Temos que ter cautela e prudência. Por ser um país pequeno, a delicadeza tem que ser maior. Quem quer vir a ser um estadista não pode sair dizendo que um país é isso ou aquilo”, retomou.

Para Marco Aurélio Garcia, um aspirante a presidente deveria ter mais serenidade ao analisar uma situação internacional que envolva o relacionamento entre países vizinhos. “O presidente Serra está tentando ser o exterminador do futuro da política externa. Já destruiu o Mercosul, quer destruir nosso relacionamento com a Bolívia e já comparou Mahmoud Ahmadinejad a Hitler”, disse.

Garcia ainda completou, em tom irônico: “Acho que talvez ele esteja pensando em uma política de corte de despesas e venha a fechar de 20 a 30 embaixadas nos países que ele está insultando nesse momento. Ele está brigando com tanta gente, que não há outro caminho a não ser fechar embaixadas”, resumiu o assessor especial da Presidência durante o 3º Fórum Brasil – União Europeia, no Rio de Janeiro.

Bolívia quer provas

A declaração repercutiu no país vizinho. Segundo divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo nesta quinta-feira, o ministro da Presidência de Evo Morales, Oscar Coca, disse que “se Serra sabe algo, que diga o que sabe e siga os trâmites legais para fazer a denúncia. Se não fizer, ele que é o cúmplice”.

No Brasil, a declaração de Serra repercutiu no Twitter. Entre os usuários, o pré-candidato do PT ao governo do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, escreveu, na manhã do mesmo dia que “durante anos, o Departamento Anti Drogas dos EUA atuou na Bolívia e teve resultados limitados. Parceria da nossa PF e do governo de Morales é mais eficiente”.

O deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR) também comentou, nesta quinta, em seu Twitter: “Alguém que há tempos quer ser presidente precisaria, no mínimo, aprender a respeitar governos e povos dos demais países. Serra ainda não aprendeu”.

Serra já acumula gafes neste princípio de eleição

As declarações de Serra foram feitas durante entrevista ao programa “Se liga, Brasil”, na rádio Globo, no Rio de Janeiro. Sem apresentar qualquer tipo de prova, o pré-candidato tucano disse que o governo boliviano é cúmplice das quadrilhas de traficantes que atuam no Rio. “A cocaína vem de 80% a 90% da Bolívia, que é um governo amigo, não é? Como se fala muito”, provocou.

“Você acha que a Bolívia iria exportar 90% da cocaína consumida no Brasil sem que o governo de lá fosse cúmplice? Impossível. O governo boliviano é cúmplice disto. Quem tem que enfrentar esta questão? O governo federal”, declarou Serra, sem apresentar provas.

Pelo andar da carruagem, o pré-candidato do PSDB à presidência vai acabar propondo a separação do Brasil da América Latina. Depois do programa, questionado pelos jornalistas, o pré-candidato do PSDB afirmou que o governo boliviano faz “corpo mole” ao permitir a entrada da droga no Brasil.

Questionado se não temia provocar um incidente diplomático com o governo de Evo Morales, o tucano disse que não. “A melhor coisa diplomática é o governo da Bolívia passar a combater ativamente a entrada de cocaína no Brasil. Não apenas o Brasil combater do nosso lado, como o governo boliviano tratar de agitar também”, afirmou Serra.

As afirmações foram feitas quando o pré-candidato defendia o maior envolvimento do governo federal no combate à criminalidade e a criação do Ministério da Segurança Pública. Serra explicou que poderá enviar um proposta de emenda constitucional ao Congresso para garantir mais participação da União na questão. O tucano também fez críticas à Força Nacional de Segurança Pública, que, segundo ele, não funciona.

No início deste mês, Serra disse, em entrevista à CBN, que o Mercosul deve ser reformado. As críticas à condução do bloco são recorrentes. Após ser perguntado sobre os problemas enfrentados recentemente no comércio entre Brasil e Argentina, o candidato destacou que “foram fixadas metas muito ambiciosas e etapas foram queimadas”, citando que a União Européia levou muito mais tempo para consolidar as parcerias comercias.

“Acho importante salvar o Mercosul. Você tem que dar dois passos atrás para dar um adiante”, disse. “As reuniões de presidentes passaram a ser mais um espetáculo. Avanço concreto não tem”. Sobre a entrada da Venezuela no bloco, proposta já aprovada pelo Congresso brasileiro, Serra acredita que a decisão “só vai aumentar a fragilidade do Mercosul, que hoje já está muito frágil”, respondeu. “Permitir a entrada de um país por questões políticas, pelo amor de Deus. O Brasil renunciou a sua soberania”, completou.

O tucano também fez críticas à política internacional do governo Lula, em especial às relações com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. “Eu manteria as relações comerciais com o Irã, mas não [iria visitar o presidente]. Ter uma relação de carinho, afeto é diferente”, disse, em alusão a visita oficial de Lula ao país no último dia 15.

Dilma elogia política externa

Por outro lado, a candidata do PT definiu como “muito virtuosas, sob qualquer aspecto” as negociações do Brasil com o Irã. Dilma condenou os que criticaram o acordo e disse que manterá e até ampliará a política internacional levada a cabo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, caso seja eleita.

“O Brasil não demonstrou ingenuidade no Irã, como querem alguns”, insistiu a petista, em entrevista após sabatina na Confederação Nacional da Indústria (CNI). “Optamos por uma estratégia de paz e de diálogo, em que é possível construir o acordo, não o desacordo; criar pontes, e não levantar muros”.

Na avaliação da ex-ministra da Casa Civil, “não há efetividade” no pacote de sanções contra o Irã que as grandes potências querem ver aprovado pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). “A política de sanções prejudica o povo, mas nunca vi impedir governos de agirem desta ou daquela maneira”, argumentou ela.

“O Mercosul é mercado regional, não é área de livre comércio”, disse Dilma, ao ser questionada sobre suas propostas para o bloco. “O outro candidato defende que seja zona de livre comércio, é?”, perguntou ela ao repórter, como se não soubesse das críticas de Serra.

Antes de encerrar a entrevista, Dilma voltou à carga contra o tucano e disse que o Brasil acredita nas relações multilaterais. “Não vemos nenhum benefício naqueles que adotaram áreas de livre comércio, como a Alca”, comentou, numa referência à Área de Livre Comércio das Américas. “Ao contrário: se alguém quer se afastar da desindustrialização, é bom que se afaste desse tipo de política”, indicou.

Mercosul

O balanço do Mercosul é amplamente favorável ao Brasil, conforme notou recentemente o jornal argentino Clarin, em editorial que critica as opiniões de Serra sobre o bloco. O grosso das exportações industriais do país tem como destinatários países da América Latina. “Segundo estatísticas oficiais, 90% das vendas de produtos manufaturados do Brasil no mundo ocorrem no Mercosul e em mercados latinoamericanos”, argumentou o jornal.

Foi o Mercosul que transformou a Argentina na terceira maior parceira comercial do Brasil, atrás apenas da China (1ª) e dos EUA (2ª). O valor das trocas de mercadorias entre os dois vizinhos subiu a 9,1 bilhões de dólares de janeiro a abril deste ano, 49,4% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado, quando o comércio sofreu forte contração em função da crise econômica mundial.

Com o site Vermelho e Agência Estado


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora