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21 de outubro de 2019
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19:37

Análise: Evo Morales enfrenta sua eleição mais disputada e segundo turno ainda é incerto

Por
Sul 21
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Evo Morales. Foto Leonardo Severo/Fotos públicas

Por Gustavo Veiga

Qualquer cenário eleitoral que surja, com o segundo turno confirmado na Bolívia ou Evo Morales ratificado por um novo mandato, o país aprofundará sua divisão e sua situação político-econômica poderá ser desestabilizada. A incerteza gerada por uma contagem de votos abruptamente paralisada com 83,85% da apuração concluída, aumentou a tensão entre eleitores e opositores do presidente. Os dois setores reivindicaram a vitória. O MAS, porque efetivamente venceu e o Comunidade Cidadã, porque conquistou seu ingresso no segundo turno, uma vitória em termos estratégicos.

Está claro que Morales teve sucesso no primeiro turno, mas foi a eleição mais disputada das quatro consecutivas em que venceu. Ele não obteve a maioria absoluta nem tampouco os dez pontos de vantagem necessários sobre o segundo – o ex-presidente Carlos Mesa – para evitar o segundo turno. E é aí que reside o seu problema. Porque essa instância garante o que não aconteceu nesta votação. Que a oposição se una para derrotar Evo, como acontecerá em 15 de dezembro. Oscar Ortiz, o grande perdedor da primeira rodada, viu seu fluxo eleitoral nos dois sentidos se liquefazer. À direita, com o coreano-boliviano Chi Hyun Chung, comparado a Bolsonaro pelas posições extremas. De outro lado, a polarização produzida pelos opositores que favoreceu Mesa. Da quarta posição nas eleições, Ortiz anunciou que apoiará incondicionalmente a candidatura do CC. Será, assim, um dos árbitros da votação.

Os votos somados de Ortiz e Chi, com 83,85% das urnas apuradas, dão 656.724. Se esse número for descontado da diferença de Morales sobre Mesa (354.712 votos), o presidente terá 302.012 votos a menos na votação. Embora esse cálculo possa ser aleatório, é uma indicação de que o líder do MAS terá uma tarefa complicada para derrotar uma oposição mais unida. E, especialmente, porque a abstenção foi muito pequena. Em La Paz votaram 91,63% dos eleitores e em Santa Cruz 88,84%. Sairá deste último estado, historicamente hostil às políticas de Morales, a decisão do segundo turno, se confirmado pelo Tribunal Supremo Electoral, o TSE boliviano.

Comissão eleitoral conversa com a imprensa sobre o resultado das urnas no domingo | Foto: Daniela Sallet/Especial para o Sul21

As eleições na Bolívia devem ser analisadas sob duas premissas antagônicas. A de um projeto de desenvolvimento inclusivo, independente do establishment financeiro internacional. É o que representa o atual presidente. Quando Evo venceu sua primeira eleição em 2005, “65% da população tinha baixa renda, mas agora 62% da população atinge renda média”, disse o ministro da Economia, Luis Arce Catacora.

O outro projeto de país é o que representa Carlos Mesa, o ex-vice-presidente do ultra-liberal Gonzalo Sánchez de Lozada. Com Mesa no poder houve um custo muito alto em vidas na chamada Guerra do Gás, em 2003. Baseado em um discurso que questiona a legitimidade democrática de Morales, que não respeitou o resultado do referendo de 2016, sua candidatura expressa um salto ao passado em termos econômicos Mais abertura ao mercado e menos capitalismo de estado, como o que levou a Bolívia à situação atual. É o país da região com melhores índices socioeconômicos, com um PIB que não parou de crescer, que administra seus recursos naturais e até lança satélites ao espaço.


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