Do Opera Mundi
O presidente da França, François Hollande, tem sido criticado nos últimos dias por conta da criação, na quinta-feira (11), do Ministério da Família, Infância e Direitos das Mulheres. Nomes da política francesa e grupos da sociedade civil manifestaram insatisfação com a medida, afirmando que se trata de uma insinuação sexista de que o papel das mulheres é aquele de cuidar da família e do lar.
“Isso [a criação do Ministério] não seria limitar as mulheres a um papel estereotipado que lhes foi conferido por séculos: o de esposa e mãe?”, declarou em nota Danielle Bousquet, chefe do conselho para igualdade de gênero da França, órgão criado por Hollande no início do seu mandato, em 2012.
“Mais uma vez, o Estado está associando as mulheres aos temas da família e das crianças”, criticou o grupo Les Effronté-e-s. “Rapazes, vocês não se esqueceram da cozinha e da faxina?”, ironizou o Femen France, grupo ativista pelos direitos das mulheres, em uma mensagem no Twitter.
Hey les mecs, vs n’auriez pas oublié la cuisine et le ménage ds le ministère de la famille de l’enfance et du droit des femmes? #remaniement
— FEMEN France (@Femen_France) 11 fevereiro 2016
Laurence Parisot, ex-presidente do sindicato patronal de empresários da França, classificou o Ministério como “uma afronta a todas as mulheres”. Nathalie Kosciusko-Morizet, líder da bancada do partido oposicionista Republicanos no Conselho de Paris, tuitou que “Hollande esqueceu a costura” ao criar o novo ministério.
A organização feminista francesa Osez Le Féminisme afirmou que o Ministério é “retrógrado” e também ironizou a nova pasta, propondo em seu perfil no Facebook a nova logomarca do “Ministério da Família, da Infância e consequentemente dos Direitos das Mulheres”:
A ministra da pasta, Laurence Rossignol, disse nesta segunda-feira (15) ao jornal francêsCourrier Picard que continuará “a ser uma feminista com uma visão moderna das questões da família e das mulheres”. “Creio que a ameaça que está pairando sobre as mulheres não é o fato de que estejam sendo relegadas à esfera domiciliar, e sim que não levamos em consideração que, em casa, as responsabilidades são desiguais, estando sozinha ou com um parceiro”, afirmou Rossignol. Em outubro do ano passado, uma pesquisa nacional apontou que dois terços das atividades domésticas na França são realizadas por mulheres.
Durante a campanha presidencial em 2012, Hollande prometeu que haveria igualdade de gênero no seu gabinete. Com a renúncia da ministra Christine Taubira, no mês passado, quatro dos principais ministérios – Interior, Relações Exteriores, Defesa e Justiça – passaram a ser liderados por homens.
