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18 de junho de 2015
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17:45

Com cenas explícitas, site espanhol faz pornô educativo para ensinar sexualidade ‘saudável e responsável’ a adultos

Por
Sul 21
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Reprodução / Pornoeducativo
Reprodução / Pornoeducativo

Do Opera Mundi

Quando o sexólogo espanhol Fernando Pena lançou seu livro “Cómo retrasar la eyaculación y mantener el pene firme y duro” [“Como retardar a ejaculação e manter o pênis firme e duro”, em tradução livre], publicado na Espanha em 2013, ouviu de alguns pacientes que sentiam falta de “uma descrição mais gráfica do tratamento que ele descrevia no livro”. Por esse motivo, a equipe do que seria o site Pornoeducativo começou a produzir vídeos em que um casal mostra de forma explícita o que é preciso fazer em cada fase do tratamento. A esses primeiros vídeos somaram-se outros sobre o tratamento de vaginismo, um dos transtornos sexuais mais frequentes entre as mulheres.

Este uso terapêutico de vídeos “pornográficos” levou-os a refletir sobre a educação sexual. “Em pleno século 21 continua-se educando com desenhos e textos. Será que as pessoas não sabem sobre esses assuntos?”, indagavam-se. Segundo relata Adrián Pérez, diretor de comunicação do projeto, “quando perguntávamos em pesquisas com usuários do site se a educação sexual recebida tinha sido de qualidade, a resposta era sempre negativa, e na maioria dos casos nos deparávamos com educação nula, inexistente. Como as pessoas aprenderam sobre sexualidade? Como se fez ‘a vida toda’, perguntando a amigos mais velhos ou a primos”. Em seu caso, lembra como a única educação que recebeu sobre sexualidade foi ver como se punha um preservativo em uma banana e receber um folheto que falava sobre doenças sexualmente transmissíveis. “Há medo de mostrar um corpo nu, explicar como funcionam os genitais ou o processo de excitação humana. Muitas pessoas se referem a seus genitais como ‘minhas partes’, ‘o lá de baixo’ ou, ainda pior, ‘minhas vergonhas’”.

Após essa reflexão, decidiram “mudar radicalmente a educação sexual, romper barreiras e mostrar tudo”. Há três meses, é isso que faz a equipe do Pornoeducativo. “Há uma diferença que separa a educação sexual dos vídeos sexuais usados como entretenimento, e é algo que o Pornoeducativo trabalha de forma muito exigente”. O site é comandado por uma equipe de sexólogos e psicólogos que guiam os conteúdos. “São pessoas encarregadas de ajustar o projeto sob o marco sério e profissional que lhe corresponde”, pontua Pérez. “Somos um projeto educativo e não há confusão sobre isso. A equipe de profissionais cria as pautas, roteiriza e dirige os atores”. Além de sexólogos e psicólogos, participam também publicitários e as equipes do comercial e da comunicação. Nas respectivas contas do Twitter e do Facebook, publicam-se notícias relacionadas ao tema da sexualidade.

Os vídeos mais solicitados pelos usuários são aqueles sobre problemas sexuais. Contêm lições com exercícios explicados detalhadamente. “Nosso maior objetivo é ajudar os usuários”, ressalta Pérez.

Outros temas muito pedidos são ejaculação feminina (ou squirting), sexo oral e sexo anal. “Mostramos explicitamente cada uma dessas práticas, explicamos como se faz, o que se sente e como fazê-lo de forma segura e saudável. Rompemos os mitos para que qualquer um que desejar possa praticar sem medos nem dúvidas.”

Seu objetivo é que as pessoas falem sobre sexualidade com tranquilidade e sem preconceitos. “Muitas pessoas pensam que são ‘esquisitas’ por realizar alguma prática, que ‘ninguém o faz’. Está na hora de mudar isso.”

A plataforma utiliza expressões do meio acadêmico, tais como “matricule-se”, “lições” em vez de vídeos ou “transforme-se em teacher”. Para esta última opção, basta enviar um vídeo com cerca de dez minutos que trate de qualquer tema relacionado a sexualidade (e no qual apenas apareçam pessoas com mais de 18 anos). Como referência, a página sugere alguns temas: anatomia, anorgasmia, anticoncepcionais, cunilíngua, DSTs, ejaculação precoce, fantasias, felação, homossexualidade, brinquedos, Kama Sutra, masturbação, menstruação, squirting, vaginismo.

Mostrar o tema escolhido sem tabus, exibindo nus e inclusive os rostos, torna mais positiva a avaliação do vídeo. “Os vídeos são filtrados pela equipe de especialistas para que alguns critérios sejam cumpridos e fomentem uma sexualidade saudável e responsável.” Se o vídeo é aprovado para estar disponível no site, o teacher recebe, como recompensa, um brinquedo erótico, um lubrificante, o livro sobre como retardar a ejaculação, um pau de selfie ou seis meses de assinatura no Pornoeducativo.com. “Os temas que mais recebem vídeos de teachers são os relativos a masturbação e uso de brinquedos eróticos. É muito interessante conhecer a prática de masturbação para poder experimentar com o seu corpo e sua sexualidade sem pudores nem barreiras”, comenta Pérez.

Para respeitar as normas legais em vigor na Espanha, a plataforma está dirigida apenas a pessoas maiores de idade, ainda que eles acreditem que esse critério deveria ser diferente. “Muitas pessoas descobrem sua sexualidade muito antes de atingir a maioridade. Acreditamos que, quando uma pessoa se depara com sua sexualidade, deveria saber como encará-la.” Uma vez atingida a maioridade, o projeto está orientado para todos os perfis. “Uma pessoa atlética não vive sua sexualidade da mesma forma que uma pessoa com alguma deficiência física; nem uma de 18 anos o faz como uma de 40 ou uma de 75 anos de idade.”

Até o momento, não apareceu ninguém se opondo à iniciativa, mas sim muitas respostas positivas. Apesar de sua recente criação, o site já recebeu uma proposta de convênio de uma universidade espanhola. Algumas associações dedicadas à educação sexual entraram em contato com os criadores para demonstrar apoio. Também os coletivos de deficientes físicos viram com bons olhos a vontade de fomentar o conhecimento sexual entre essas pessoas. A equipe do Pornoeducativo acredita que a plataforma é “totalmente viável” para chegar a centros de saúde e universidades. “Para nós seria um orgulho poder dizer que pusemos nosso grãozinho de areia para que a educação sexual no mundo seja de fato uma educação sexual.”

Tradução: Mari-Jô Zilveti

Matéria original publicada no site espanhol Yorokobu.


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