Novo filme de Oliver Stone: Há vida no Sul

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Ao Sul da Fronteira desvenda América Latina e estreia nesta sexta-feira (4)

Clarissa Pont

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O diretor americano Oliver Stone passou pelo Brasil na última semana para divulgar seu novo filme, Ao Sul da Fronteira (South of the Border), documentário que entra em cartaz no país nesta sexta-feira (4). No filme, Stone adiciona uma visão mais apurada das contradições entre o capitalismo norte-americano e os governos progressistas emergentes em diversos países sul-americanos, em especial o de Hugo Chávez, presidente da Venezuela.

No Brasil, Stone reivindicou encontro com a candidata Dilma Rousseff. Mais do que divulgação comercial, as visitas a países do sul do mundo têm caráter político. Não é de hoje que Stone, crítico contumaz da política externa dos EUA, apoia diversos governos da região. No atual filme, ele argumenta que “a política do FMI, bancada pelo ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush, usou a América Latina como cobaia para suas experiências”.

Ao Sul da Fronteira é um documentário dirigido por um norte-americano que sabe que o mundo civilizado não começa e termina em seu país. A Venezuela de Hugo Chávez, a Argentina dos Kirchner, o Brasil de Lula, o Paraguai de Fernando Lugo, o Equador de Rafael Correa e, de maneira um tanto lateral, a Cuba de Raúl Castro, existem e fincam pé em uma importância internacional cada vez maior.

Logo no início, as imagens são de uma apresentadora de TV da Fox News, dizendo, histericamente, que aqueles ditadores eram todos viciados em “cacau”. Um dos seus colegas sugere que ela estaria confundindo cacau com cocaína. E ela responde que é tudo mais ou menos a mesma coisa.

O jornal Estado de São Paulo o classificou como “road movie político”, talvez uma boa definição. Segundo a crítica do jornal, o conteúdo não chega a ser panfletário, mas expressa um ponto de vista. “Não se preocupa em matizar as cores. Em especial ao visitar o país do personagem principal, o presidente da Venezuela. O personagem é envolvente, fanfarrão, conta a sua vida, sua história. O resto vem sob a forma de imagens de arquivos. A tentativa de aplicar um golpe, a prisão, a eleição, a maneira como reage a um golpe contra ele. De certa forma, e mesmo sem querer, o filme é uma ilustração dos usos e costumes políticos de uma era da América Latina”.

Há quem julgue o filme superficial. A análise do Globo diz que o diretor analisa as economias e políticas locais, destacando heróis em detrimento a processos históricos. Para o diário carioca, Stone repete colagens de imagens típicas de Michael Moore (diretor de filmes como Fahrenheit 11 de Setembro e Sicko – SOS Saúde) e também comete erros sérios, como quando confundiu a floresta amazônica com a cordilheira dos Andes em um gráfico.

De qualquer forma, Stone apresenta cenas memoráveis. Chávez cai de uma bicicleta, cuja estrutura não suporta seu peso. O diretor joga futebol em companhia de Evo Morales. Lula aparece à vontade falando sobre um mundo multilateral, e afirma que “pela primeira vez os pobres estão sendo tratados como seres humanos”. Raúl Castro garante que Cuba está preparada para mais 50 anos de socialismo. O presidente paraguaio aparece um tanto tímido, mas lembrando que quebrou uma longa hegemonia do partido conservador em seu país.

Já Correa é incisivo. Quando lhe perguntam por que negou permissão à instalação de uma base americana no Equador, responde que fez uma contraproposta. Os americanos poderiam instalar sua base, desde que os equatorianos pudessem colocar a sua em Miami. Stone, em cena, lhe diz que a imagem feita dele nos EUA é de um dos “bad guys” (caras maus) da América Latina. Ao que Correa responde: “Com todo respeito, conhecendo a imprensa norte-americana, eu estaria mais preocupado se falassem bem de mim”.

O casal Kirchner é entrevistado em separado. Cristina fala sobre uma nova estrutura de mundo e sapatos. Quando o diretor lhe pergunta quantos pares possui, ela revida: “Por que nunca perguntam aos homens quantos sapatos eles têm no armário?”. E afirma: “Pela primeira vez na região, os governantes se parecem com os governados. Se você for a Bolívia, verá que Evo Morales tem a cara dos bolivianos”. Néstor vai além e descreve um diálogo com Bush, onde o então presidente norte-americano teria dito que a melhor maneira de revitalizar a economia de um país é com uma guerra. “Guerra? Ele disse isso?”, Stone, perplexo, indaga. E Néstor responde: “Essas foram as palavras dele”.

Mas o personagem principal é mesmo Hugo Chávez. “Alguns o consideram o inimigo”, diz o narrador, para apresentar um programa da CNN América em que os apresentadores trocam impressões: “Ele é mais perigoso que Bin Laden e os efeitos da guerra que ele promove contra a América podem ofuscar até o 11 de setembro”. A cena corta para populares em Caracas e o narrador completa: “Outros acham que ele é a resposta. Mas não importa em quê você acredita. Na América Latina, ele é só o começo”.

“Dilma é a continuidade”

Na última segunda-feira (31), Stone se reuniu com a candidata do PT à presidência, Dilma Rousseff, por um pouco mais de uma hora. O encontro, segundo assessores, foi informal e ocorreu a pedido do cineasta. “Ela é a continuidade. O desenvolvimento tem que continuar da forma que está no Brasil. Ela é muito consciente em relação à energia, à reforma agrária. Ela tem consciência sobre a necessidade dos pobres e isso é fundamental, porque o Brasil tem muita pobreza. Ela tem visão de mundo que não fica focada apenas no Brasil”, declarou Stone.

No final, os dois saíram sem falar com a imprensa. O diretor, porém, gravou uma pequena entrevista para o site de Dilma na qual afirma que ficou impressionado com ela e que a pré-candidata é “muito inteligente”. Perguntado por que fez questão de conhecê-la, Stone afirmou: “Porque ela é o futuro”. “O Brasil é um país muito importante no mundo, como a Turquia, e o que eles acabaram de fazer no Irã pode não ser muito popular para todos, mas é popular para mim”, disse o cineasta, se referindo à tentativa brasileiro-turca de promover um acordo nuclear com o Irã.

Com Agência Estado, O Globo e Terra Magazine


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