Repercussões do acordo nuclear com Irã reforçam feito histórico de Lula

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Um dos maiores feitos diplomáticos dos últimos tempos repercute na imprensa internacional e nacional ao longo desta segunda-feira, 17. No início da manhã, o presidente brasileiro, Luis Inácio Lula da Silva, assinou acordo com o presidente do Irã, Mahmound Ahmadinejad , para adaptar o polêmico programa nuclear iraniano.

Um documento com dez itens foi a base do acordo de transferência de urânio firmado em Teerã entre os governos do Brasil, do Irã e da Turquia. Pelo acordo, o Irã vai enviar à Turquia 1,2 mil quilos de urânio enriquecido a 3,5%, em troca de 1,2 mil quilos de urânio enriquecido a 20%. No documento, o governo de Ahmadinejad, compromete-se a informar sobre o processo à Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) e a buscar negociar com o Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Segundo informações da agência iraniana de notícias, a Irna, o acordo reitera o compromisso de não proliferação de armas logo no primeiro item. Esse compromisso
inclui o direito de desenvolver pesquisa, a produção e utilização da energia nuclear, com o chamado ciclo do combustível nuclear e atividades de enriquecimento – para fins pacíficos.

No segundo item, o governo do Irã informa estar convencido de que o acordo é o início de uma nova “proposta positiva e construtiva, em uma atmosfera de não confronto que conduz a uma era de interação e cooperação”. No parágrafo seguinte, os iranianos afirmam que a troca de urânio levemente enriquecido pelo produto enriquecido a 20% “é fundamental para o lançamento da cooperação em diferentes áreas”, como a construção de reatores nucleares.

A disposição de Ahmadinejad ocorre no momento em que os Estados Unidos – que integram o Conselho de Segurança como membro permanente – pressionam pela adoção de sanções contra o Irã por suspeitar que seu programa nuclear esconda a produção de armas atômicas.

Para analista iraniano, ‘vitória da diplomacia brasileira cala a boca dos EUA’

O professor da Universidade de Teerã, Mohammad Marandi, disse que Brasil deve receber crédito por ‘trazer o Irã de volta à mesa de negociações’.

“Apesar das dificuldades em conseguir o acordo, o presidente Lula arriscou sua fama internacional para conseguir intermediar uma proposta que trouxesse o governo iraniano de volta à mesa de negociações”, disse Marandi à BBC Brasil.

Para o analista, o Brasil responde às críticas de outros países ocidentais, como os EUA e seus aliados, que não acreditavam que Lula e seu corpo diplomático pudessem fazer algo diferente do que já havia sido tentado.

“Lula calou a boca dos EUA e da secretária de Estado (dos EUA), Hillary Clinton, que mais de uma vez menosprezou os esforços turcos e brasileiros.” Para Marandi o Brasil teve o maior crédito, pois a Turquia não estava com o mesmo grau de otimismo em relação a um possível acordo.

“O mérito foi do Brasil, pois o país arriscou sua reputação e sofreu as maiores críticas ao se aproximar do Irã. E ainda conseguiu dar mais ânimo aos turcos em acreditar na possibilidade de se chegar a um acordo”, enfatizou ele.

A repercussão na imprensa internacional

A reportagem publicada no site do jornal americano “New York Times”, chamada na manchete do portal, informa que o acordo pode oferecer uma solução a médio prazo para a questão nuclear iraniana, mas também pode “provar ser uma tática com objetivo de minar os esforços para novas sanções contra Teerã”.  O texto também afirma que está longe de ser claro se o presidente Barack Obama concordará com isso agora – “em parte porque o Irâ continua enriquecendo urânio”.

A rede americana CNN noticia em seu site que “Irã continua a enriquecer urânio apesar do acordo”. Segundo o texto, “Teerã diz que precisa enriquecer urânio de seu atual 3.5% a 20% porque seu reator de pesquisas que produz isótopos para pacientes com câncer está sem combustível. Mas urânio enriquecido a 20% é o nível inicial para implementar um reator nuclear.”

Os sites dos jornais ingleses “The Guardian” e “Independent” não deram destaque para o acordo. O texto publicado pelo Guardian informa que diplomatas ocidentais receberam o acordo com cautela, apontando que na época do acordo de Viena [proposto no ano passado], 1.200kg representava cerca de três quartos do estoque iraniano de urânio enriquecido.

O espanhol “El País” publicou em seu site um texto que afirma que o compromisso “parece similar ao que a comunidade internacional propôs em Genebra em outubro passado.”

Fonte: G1, com agências nacionais e internacionais

Colunista do Sul 21 escreve na Rede Brasil Atual sobre diplomacia de Lula no acordo com Irã

A opinião da Folha de São Paulo sobre o acordo


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