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10 de agosto de 2020
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23:12

Reunião virtual de professores do município é invadida com ataques racistas: ‘Preto tem que morrer’

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Sul 21
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Reunião virtual de professores do município é invadida com ataques racistas: ‘Preto tem que morrer’
Reunião virtual de professores do município é invadida com ataques racistas: ‘Preto tem que morrer’
Professores da rede municipal de Porto Alegre registram boletim de ocorrência contra os ataques sofridos em reunião virtual. Foto: Arquivo Pessoal/Atempa

Luciano Velleda

Uma reunião on-line de educadores da rede municipal de Porto Alegre foi interrompida com ataques racistas e ameaças. Na última sexta-feira (7), cerca de 40 professores debatiam o projeto de Educação das Relações Étnico Raciais (ERER), que propõe perspetivas e alternativas para a educação antirracista, conforme as leis 10.639/03 e 10646/08, quando oito pessoas conseguiram entrar no encontro virtual e começaram a agredir verbalmente os participantes. “Preto tem que morrer”, “vamos destruir este projeto” e “temos que fazer o que o Jair mandou”, foram algumas das frases ditas. Além das ameaças, os agressores também exibiram a própria genitália. O fato ocorreu cerca de duas horas após o começo da reunião.

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“Estávamos discutindo o projeto e então começaram a entrar (na reunião), achamos que eram professores, quando nos demos conta começaram a filmar as partes íntimas, a dizer que ‘negro tem que morrer’, que ‘tem que fazer o que o Jair mandou’, umas imagens horrorosas e então paramos de transmitir”, conta Carolina Hugo, professora de artes da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Prof. Larry José Ribeiro Alves.

Pelo teor das falas, Carolina afirma que os agressores sabiam bem do que se tratava o tema da reunião. O encontro havia sido divulgado nas redes sociais da Associação dos Trabalhadores em Educação de Porto Alegre (Atempa), inclusive com o link, pouco antes de a reunião começar. Apesar de casos semelhantes terem acontecido nas últimas semanas, Carolina diz que os professores da rede municipal não imaginaram que estivessem suscetíveis a tal violência.

A partir de agora, as próximas reuniões virtuais deverão ser diferentes, sem a divulgação pública do link e com cadastro prévio dos participantes. Nesta segunda-feira (10), integrantes da Atempa registraram Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia de Repressão aos Crimes Informáticos (DRCI).

“Crimes e violências virtuais têm se intensificado ao longo da pandemia, devido às mudanças nas formas de nos organizarmos e reunirmos. O racismo, muito anterior à crise sanitária, seja na forma institucional ou via organização de grupos de extrema direta, os quais agem de forma violenta e coordenada, têm encontrado na invasão de reuniões online uma nova forma de ataque e prática criminosa”, diz trecho da nota divulgada pela Atempa, lembrando que ataques semelhantes aconteceram reuniões, aulas e encontros virtuais nas últimas semanas.

“Nos posicionamos radicalmente contra cada ataque racista sofrido em quaisquer meios e ocasiões. Sabemos da potencialidade e força transformadora do debate acerca da ERER – Educação das Relações Étnico Raciais, sobretudo neste tempo em que crimes como este ainda violentam parte da população. Continuaremos construindo uma educação na perspectiva antirracista, com vistas à educação das relações étnico raciais, ainda mais firmes e cientes da importância desse trabalho. Reafirmamos nosso compromisso com essa batalha e resistência”, completa a nota da Associação dos Trabalhadores em Educação de Porto Alegre.


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