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13 de março de 2020
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19:36

Rede de atendimento do SUS assumirá linha de frente para enfrentar epidemia de coronavírus

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Sul 21
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SUS foi criado pela Constituição de 1988 para efetivar direito à saúde como um direito de todos. Foto: Roberto Parizotti/CUT

Marco Weissheimer

Após a confirmação da chegada do vírus Sars-CoV-2, a rede de atenção básica do Sistema Único de Saúde (SUS), capilarizada por todo o país, é uma das principais ferramentas de que o Brasil dispõe para enfrentar a epidemia do novo coronavírus, com a tarefa principal de diminuir a velocidade de transmissão do microorganismo. Tão criticado pelos defensores de uma maior presença do mercado no atendimento da saúde, o SUS será uma arma essencial no enfrentamento da crise sanitária que deverá se instalar no país nos próximos meses.

O SUS foi instituído pela Constituição Federal de 1988 como uma forma de efetivar o mandamento constitucional do direito à saúde como um direito de todos e dever do Estado. A partir de sua criação, toda a população brasileira passou a ter direito à saúde universal e gratuita, financiada com recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados e dos Municípios. Fazem parte do Sistema Único de Saúde, os centros e postos de saúde, hospitais públicos, laboratórios e hemocentros, serviços de vigilância sanitária, vigilância epidemiológica, vigilância ambiental, além de fundações e institutos de pesquisa acadêmica e científica, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Vital Brazil.

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“O nosso sistema de saúde, por conta da construção do SUS, tem uma rede bastante capilarizada de unidades de atenção básica de saúde e de postos de saúde, muitos deles bem equipados, tanto do ponto de vista de infra-estrutura quanto da existência de profissionais preparados para o atendimento. A nossa grande possibilidade, não vou dizer de solução, mas de enfrentamento da epidemia está na rede de atenção primária”, defende Luis Antonio Benvegnu, médico epidemiologista e vice-prefeito de Santa Rosa.

“Cenário que se desenha é de uma epidemia explosiva”

Benvegnu acredita que o cenário que desenha para os próximos meses no Brasil é o de uma epidemia explosiva, com um crescimento exponencial de casos, como já aconteceu em diversos locais do mundo. “É para isso que a gente tem que se preparar”, resume. Além da rede de atenção básica, o SUS também é constituído por uma rede de hospitais próprios e conveniados que, no dia-a-dia, para os problemas cotidianos de saúde das pessoas, já está no seu limite. Esse problema terá que ser enfrentado nas próximas semanas, alerta o médico. “Temos filas de espera em quase todas as áreas. Obviamente, quando a gente enfrenta uma situação como essa, que apresenta um crescimento muito rápido de casos, vai ficar muito difícil dar conta disso. Acredito que teremos problemas de atendimento tanto na atenção primária, que vai ser a porta de entrada, quanto nas etapas seguintes”.

Luis Antonio Benvegnu, médico epidemiologista e vice-prefeito de Santa Rosa (Foto: Divulgação)

Para o vice-prefeito de Santa Rosa, o coronavírus evidencia agora algo que os profissionais da área da saúde pública vêm dizendo há cerca de 30 anos: a importância de se ter, na atenção primária, recursos humanos qualificados, estrutura e capacidade resolutiva. “A maioria das pessoas que vai ser infectada pelo coronavírus (fala-se hoje em 85%) terá seu problema resolvido na atenção primária. As pessoas não devem ir ao pronto-socorro, não devem ir à UPA e não devem precisar do hospital. Os outros 15% que precisarem devem ser encaminhados para esses locais. Precisaremos fazer um esforço muito grande para que essas unidades consigam dar conta da enorme demanda que vai ser criada repentinamente”, acrescenta Benvegnu.

“Diminuir velocidade de transmissão é essencial”

Algumas medidas anunciadas pelo governo, como a renovação do Mais Médicos por um ano e a abertura do turno da noite para mais unidades, embora tenham um alcance limitado, já ajudam, diz ainda o epidemiologista. “Cada município terá que se adequar de acordo com a sua realidade. Os hospitais também terão que adequar as suas demandas, transferir procedimentos eletivos, mas também ficarão sobrecarregados”. Neste contexto, enfatiza, diminuir a velocidade de transmissão do vírus é essencial. “Se tivermos um grande numero de casos num espaço muito curto de tempo vai ser difícil de atender. Mas se conseguirmos espaçar essa velocidade de transmissão, a nossa estrutura do sistema de saúde, com os reforços que virão, conseguirá atender as pessoas que ficarem doentes. Essa é a grande alternativa que devemos buscar para enfrentar a epidemia”.

Isso, destaca ainda Benvegnu, só é possível na rede de atenção primária, nos postos de saúde, com equipes treinadas, capacitadas e perenes. “A gente não cria isso para cada epidemia. Isso tem que ser um sistema contínuo que enfrente os problemas do dia-a-dia e esteja preparado para quando ocorra alguma epidemia”.

Foto: Divulgação/Josué Damacena (IOC/Fiocruz)

Fiocruz produz kits para diagnóstico laboratorial

Outra medida que integra esse trabalho do sistema de saúde pública do país é a produção, pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de kits para diagnóstico laboratorial do Covid-19. Esses kits serão distribuídos na rede de laboratórios públicos de todo o país. Na quinta-feira (12), o presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Fernando Pigatto reuniu-se com a presidenta da Fiocruz, Nísia Trindade, para debater ações conjuntas e definir estratégias de enfrentamento do novo coronavírus. A Fundação atuará no processo de descentralização e expansão da capacidade laboratorial para realização dos testes moleculares, o que inclui não apenas o desenvolvimento e a produção, mas também a capacitação de laboratórios públicos presentes em diversos estados (Lacens) para a sua realização.

Segundo Fernando Pigatto, a reunião de quinta reforçou a cooperação entre Conselho Nacional de Saúde e Fiocruz e definiu várias ações para os próximos dias. Conselhos estaduais e municipais serão acionados para trabalhar de forma articulada. “Este é o SUS forte que está enfrentando a epidemia do novo coronavírus e seguirá enfrentando todas as ameaças à saúde pública no Brasil”, destacou o presidente do CNS.


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