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28 de fevereiro de 2020
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19:40

Atingidos por barragens comemoram 25 anos de conquista da terra

Por
Sul 21
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Reassentamentos de Chopinzinho são referências e inspiração para a luta em outros estados e regiões. (Foto: MAB/Divulgação)

Da Redação*

Os reassentamentos Santa Inês e Nossa Senhora de Fátima comemoraram dia 23 de fevereiro, em Chopinzinho, no Paraná, os 25 anos da conquista da terra pelos atingidos e atingidas pela Usina Hidrelétrica de Itá, construída na fronteira entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Participaram da cerimônia os coordenadores do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Reassentamento Santa Inês, Helio Mecca, Ari Longo e Ari Stefen, os presidentes de ambas as comunidades, além de Agileu Brondani, representando o Reassentamento Nossa Senhora de Fátima, Marco Antônio Trierveiler, membro da coordenação na época da implantação dos projetos e Robson Formica, falando em nome da Coordenação Nacional do MAB. Também estiveram presentes o prefeito de Chopinzinho na época da implantação dos reassentamentos, Enio Cenis, o prefeito atual, Álvaro Scolaro e a deputada Luciana Rafagnin.

Robson Formica destacou que os reassentamentos de Chopinzinho são referências e inspiração para a luta em outros estados e regiões. Ele lembrou ainda que o MAB tem na sua gênese na busca de direitos às populações atingidas por barragens, mas que hoje, também luta pela construção de um novo modelo energético, em contraposição ao atual, o qual atinge toda a população brasileira, que arca com uma das tarifas de energia elétrica mais caras do mundo às custas da exploração de nossos recursos e drenagem de nossas riquezas pelo capital internacional. O coordenador ressaltou que o centro da construção de um projeto soberano e popular para o país são as necessidades concretas do povo e, quando este se organiza para a luta e tem oportunidades, constrói condições dignas de vida coletivamente.

Foto: Divulgação/MAB

Durante toda a cerimônia de abertura da comemoração, foi enfatizado o caráter coletivo da conquista dos reassentamentos, que são frutos de muita luta, suor, acampamentos de lona e ocupações. Os projetos só foram possíveis a partir do empenho de muitos homens e mulheres, que se dedicaram a tornar real o sonho de dezenas de famílias atingidas pela barragem de Itá, seja fazendo a luta por direitos a partir da organização no MAB, seja pelas assistências técnicas que foram prestadas na época da implantação.

Helio Mecca, em sua fala, relembrou a história de luta pela conquista de direitos. “Em 1980, quando viemos para Chopinzinho olhar a situação das famílias atingidas pelas barragens de Santiago e Salto Osório, vimos que as pessoas não haviam recebido nada. Nós voltamos para o RS e falamos como Sepé Tiaraju: essa terra tem dono! E a barragem não seria construída sem que fossem garantidos os direitos dos atingidos.” A partir do enfrentamento articulado pelo MAB, foram construídas regras para que os atingidos e atingidas só deixassem seu lugar com garantia de indenização, de troca de uma terra por outra ou de reassentamento.

Em 1987 foi assinado o primeiro acordo de garantia de direitos, entre os atingidos e a Eletrosul (estatal subsidiária da Eletrobrás). Helio Mecca destacou a importância desse momento: “Esse foi o sonho que transformou nossa luta em uma grande vitória. Nós realizamos essa festa por dois motivos: primeiro, para não deixar a história morrer, porque um povo que não recupera e estuda a sua história, não analisa o presente. E quem não analisa o presente não projeta o futuro. O segundo é agradecer às entidades e todas as pessoas que de alguma forma se envolveram, nos ajudaram a construir esses dois projetos que hoje são um grande sucesso.”

Para homenagear as pessoas que foram fundamentais durante o processo de construção dos reassentamentos, foi feita a inauguração de uma placa com os nomes gravados dos lutadores e lutadoras. Ao fim da cerimônia, a Coordenação Nacional do MAB presenteou ambas as comunidades com fotos emolduradas representando a luta do MAB e dos atingidos/as por barragens do Brasil, além de presentear a escola da Comunidade Santa Inês com materiais elaborados pelo movimento.

*Com informações da Comunicação do MAB


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