Luiza Dorneles
Na tarde dessa quinta-feira (5), o Quilombo Flores, um dos sete quilombos urbanos de Porto Alegre, localizado no bairro Glória, recebeu três integrantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para tratar do processo de titulação do território. A visita ocorreu em função de uma ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal a qual exige que o Incra “desenvolva (com eficiência e celeridade) e conclua o procedimento administrativo de identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação da área territorial referente à Comunidade Quilombola Família Flores da Silva”.
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Como encaminhamento, ficou marcada para a terceira semana de dezembro uma visita para o início da elaboração do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID), terceiro passo para a titulação de um território Quilombola após a abertura do processo e a certificação da Fundação Cultural Palmares (FCP). No encontro, Bethânia Zanatta, antropóloga do Incra responsável pela realização do RTID, comentou que a situação do Quilombo Flores “é urgente em função da expropriação do terreno” realizada em 2015 a mando da União Sul Brasileira de Educação e Ensino (USBEE), mantenedora do Colégio Marista Assunção, localizado atrás do quilombo.
Além de Bethânia, estiveram presentes na reunião os moradores do Quilombo Flores Geneci, Gerson, João Batista e Ana Paula, a também antropóloga do Incra Vanessa Santos, o ouvidor agrário do Incra Airton Teixeira, os advogados da Frente Quilombola RS Angelo Marcelo Curcio e Onir Araújo, a geógrafa Lara Bitencourt (NEGA/UFRGS) e o pai de santo Jaime.
O Quilombo Flores
A história do Quilombo Flores remonta aos antepassados do senhor Adão, escravizados fujões que encontraram, na mata fechada, um espaço para garantir sua autonomia e resistência à violência da escravidão. Quando foram descobertos pelo dono da casa grande, o proprietário concedeu a moradia desde que a família lavasse suas roupas no riacho Taquara, ao qual se tem acesso até hoje nos fundos do terreno. Nessa situação análoga à escravidão, característica de um quilombo urbano, os Flores construíram suas relações, sua família, e hoje seguem lutando por direitos básicos.