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2 de novembro de 2019
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00:22

‘Não basta só saber quem apertou o gatilho, a gente quer saber quem mandou’: Porto Alegre tem ato por Marielle

Por
Sul 21
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Em ato que pedia por justiça para Marielle e Anderson, integrantes do PSOL e representantes de coletivos fizeram falas criticando demora nas investigações. Foto: Luiza Castro/Sul21

Annie Castro 

No início da noite desta sexta-feira (1º), em Porto Alegre, manifestantes cobraram respostas sobre quem são os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, que aconteceu em 14 de março de 2018. A manifestação foi chamada por movimentos sociais, coletivos e integrantes do PSOL, partido ao qual a vereadora pertencia, após notícias divulgadas na última semana relacionando o nome do presidente Jair Bolsonaro (PSL) às investigações sobre o assassinato de Marielle e Anderson.

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Após concentração na Esquina Democrática, os manifestantes realizaram uma caminhada até o Palácio da Justiça. Durante o trajeto, eles cantavam palavras de ordem em homenagem à luta de Marielle pelos direitos das populações negras e em repúdio à relação da família Bolsonaro com as milicias do Rio de Janeiro. “Marielle perguntou, eu também vou perguntar: quantos mais tem que morrer pra essa guerra acabar?” e “Por Marielle, peço justiça. Eu não aceito presidente da milícia” foram algumas das frases entoadas pelos manifestantes.

Em frente ao Palácio da Justiça, integrantes do PSOL e representantes de movimentos sociais fizeram falas pedindo justiça para Marielle e Anderson e criticando a demora nas investigações sobre os assassinatos. “São 597 dias sem respostas de quem matou matar Marielle. 597 dias sem respostas e o que a gente vê é o ministro da Justiça, que nunca moveu uma palha para resolver o crime, na primeira situação sobre a família Bolsonaro entrar no processo para se comprometer e se colocar como juiz, como advogado”, disse a deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL), referindo-se ao ministro Sergio Moro ter atendido pedidos de Bolsonaro e solicitado que a Procuradoria-Geral da República (PGR) instaurasse um inquérito para apuração, em conjunto, pelo Ministério Público Federal e Polícia Federal da menção do nome do presidente no caso Marielle.

Ato aconteceu na noite desta sexta-feira (1). Foto: Luiza Castro/Sul21

A deputada estadual também mencionou em sua fala o envolvimento da família Bolsonaro com as milicias do Rio de Janeiro. “Nós do PSOL nunca fomos levianos de dizer que a família Bolsonaro estava indiretamente envolvida no crime, mas nunca fomos ingênuos de não saber que eles têm vinculação direta com as milícias do Rio de Janeiro. Não só o apoio político a essas organizações criminosas, mas também o apoio pela força. É ou não é verdade que a esposa e a mãe do chefe do escritório do crime, foragido, trabalharam anos para o Flávio Bolsonaro? É ou não é verdade que o [Flávio] Queiroz tinha ligação com essas organizações criminosas? É ou não é verdade que eles sempre apoiaram esse tipo de criminalidade do Rio de Janeiro?”, questionou.

A demora nas investigações sobre os assassinatos também foi criticada pela militante Fran Rodrigues, do coletivo Juntos RS, ao afirmar que, embora os responsáveis pela execução do crime já tenham sido identificados, é importante saber quem são os mandantes da morte de Marielle e Anderson. “Não basta só saber quem apertou o gatilho, a gente quer saber quem mandou”, disse. Ela também usou o discurso para denunciar o descaso da Justiça no país com os assassinatos de minorias e o racismo presente na sociedade brasileira. “A negritude sofre no Brasil, um país que tem o racismo estruturado. A gente sabe que a morte da Marielle não foi por acaso, a gente sabe que quando eles matam preto, quanto eles matam pobre, LGBT, mulheres, eles sabem que vai ser muito demorado para descobrir a verdade. Por isso que eles matam”, afirmou.

O vereador Roberto Robaina (PSOL), além de pedir justiça para Marielle, utilizou sua fala para criticar o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do presidente Jair Bolsonaro, que nesta semana afirmou em uma entrevista que, se no Brasil “a esquerda radicalizar a esse ponto”, a resposta do governo “pode ser via um novo AI-5”. “Esse deputado é um verdadeiro verme, filho desse presidente autoritário, que desonra o povo brasileiro. Nós queremos deixar claro para todo povo brasileiro que somos aqueles que, sim, queremos seguir o exemplo do povo chileno, do povo equatoriano, de todos aqueles que se ergueram e disseram não ao neoliberalismo”, afirmou.

Segundo a deputada estadual Luciana Genro (PSOL), o ato fez parte de um movimento nacional, chamado pelo PSOL, por movimentos sociais e por outros partidos políticos. Ao Sul21, a deputada relatou que nesta sexta-feira o PSOL protocolou um pedido para que as gravações da entrada no condomínio onde mora o presidente Jair Bolsonaro sejam reexaminadas para que se possa saber se elas foram alteradas. Em uma reportagem publicada na tarde da última quinta-feira (31), o jornal Folha de S.Paulo aponta que o Ministério Público do Rio de Janeiro não avaliou a possibilidade de adulteração de arquivos ao periciar as gravações da portaria do condomínio.

Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21

 


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