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5 de outubro de 2019
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13:38

Moda e consumo: ‘Não tem nada que vá ser sustentável se continuarmos produzindo nesse volume’

Por
Annie Castro
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Marina Colerato: “O consumo e a nossa sociedade do consumo funcionam na base da alienação”. (Arquivo pessoal)
Marina Colerato: “O consumo e a nossa sociedade do consumo funcionam na base da alienação”. (Arquivo pessoal)

No final de setembro, a empresa americana de moda Forever 21 ingressou com um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos. Ao todo, 180 lojas da empresa serão fechadas e a marca prevê ainda a retirada dos mercados asiáticos e europeus. Após a notícia, muitos comentários e textos em redes sociais associaram o processo de falência da marca às mudanças no modelo de consumo, principalmente de jovens, que estariam mais atentos aos impactos socioambientais de empresas de fast fashion, uma vez que essas indústrias possuem uma cadeia produtiva que inclui emissão de gases de efeito estufa, poluição ambiental, utilização excessiva de recursos naturais, como o petróleo e a celulose, e, em muitos casos, condições de trabalho análogo à escravidão.

Marina Colerato, no entanto, não enxerga as coisas dessa maneira. Fundadora do Modefica, um site produzido por mulheres e focado em discutir temas como moda, sustentabilidade, consumo consciente, meio ambiente, política e igualdade de gênero e de raça, atribui a situação da Forever 21 a um erro de negócio por parte da marca. “Não é porque as pessoas estão pensando e comprando consciente que vai fechar. Enquanto outras lojas investiam ou até mesmo abriam no Instagram, no meio online, a Forever ficou abrindo loja de concreto”, diz Marina.

Para a designer de moda, o debate acerca da necessidade de praticar um consumo consciente ainda é algo restrito a uma pequena parcela da sociedade: “O que a gente precisa ter em mente é que o debate dentro de um determinado escopo existe. A gente está conversando sobre isso, mas dentro de um determinado nicho. Isso não significa que as coisas estão realmente mudando ou que toda a sociedade está sendo orientada para consumir de uma outra forma”.

Para ilustrar essa realidade, Marina afirma que existem pesquisas de comportamento que apontam que as pessoas que nasceram entre os anos 1980 e meados dos anos 1990 ou após 1995 até o início do ano 2010, conhecidas, respectivamente, como Millennials e Geração Z, priorizam adquirir produtos feitos por marcas com um comportamento político e sustentável. Porém, Marina afirma que nem sempre essa intenção é levada em consideração “na hora de passar o cartão”. “Quando a pessoa responde no questionário não significa que ela faz isso na prática”. De acordo com ela, existe ainda um longo caminho entre a teoria e a prática.

Segundo Marina, o debate sobre os impactos do mundo da moda precisam ser ampliados. “A moda é só uma das várias indústrias que formam essa rede que é sustentada pelas pessoas e pelo meio ambiente para continuar produzindo um volume excessivo. Temos que ter muita clareza de como funciona a ginástica econômica. As fast fashions promoveram essa coisa do volume exacerbado, do consumo desenfreado, mas eu acho que é uma história meio o ovo e a galinha, porque elas surgiram em um momento em que tudo já estava indo para esse modelo de consumo desenfreado”, afirma.

Nesse contexto, Marina pontua que é não é possível falar de uma moda sustentável se a cadeia produtiva da moda está ligada a outras indústrias, como o agronegócio e a mineração, por exemplo. “Não existe produto sustentável se estamos falando de concentração de renda do agronegócio e da mineração, da associação a lobby no congresso para aprovar a flexibilização das leis trabalhistas. Todas essas questões estão associadas à moda. Tem todas essas várias relações que não vemos quando a gente vê a roupa pronta”.

De acordo com ela, um dos pontos para fazer com que esse debate chegue a outros espaços da sociedade é quebrar a alienação em que grande parte das pessoas vive atualmente. “O consumo e a nossa sociedade do consumo funcionam na base da alienação. Hoje a gente não consegue mais sair desse lugar de consumidor e ir para o de cidadão. Quando sugerimos conversas mais profundas sobre esses temas, não conseguimos avançar de fato. Então, o grande desafio é suscitar o não conformismo”, diz.

Sul21: Quando o Modefica surgiu e o que te motivou a falar sobre moda sustentável e outros tópicos dentro do tema sustentabilidade?

Marina: Começou em 2014. Eu sou formada em moda, me formei em 2009. Eu sempre trabalhei na área de comunicação. Trabalhei em fábrica, mas sempre cuidando das partes de mídia e marketing. Depois fui trabalhar com pesquisa de tendência. Sempre achei que a moda poderia ser pauta de uma forma melhor, porque era tudo sempre sobre serviço e produto. A moda tem uma complexidade enquanto indústria e organização social muito forte. Mas depois isso também coincidiu com várias mudanças da minha vida e do jeito de eu me entender enquanto pessoa no mundo. Eu percebi que queria falar de moda por uma visão que sempre tive, mas pautada também pela visão dos direitos humanos, da ecologia, pela natureza.

O site não começou nesse formato que é hoje, mas desde o início tinha esse caráter de falar sobre consumo de uma outra forma. O site foi mudando bastante e a abordagem foi amadurecendo junto com o próprio debate sobre moda sustentável. A gente viu que deveria abordar outras questões também e, por exemplo, temos uma editoria de política que começou nas eleições do ano passado. Começamos a nossa linha para trazer informações de macroeconomia que entregassem uma conversa sobre sustentabilidade que fosse mais profunda, que escapasse do debate de comprar ou deixa de comprar e desafiasse o grande X da questão, que é o nosso sistema capitalista de consumo.

Sul21: Você poderia falar brevemente sobre qual o impacto das fast fashions e de grandes marcas da moda para o meio ambiente?

“Essa floresta devastada da Amazônia vira carne e vira couro”. (Arquivo pessoal)

Marina: Acho que é preciso pensar no volume. A gente fala das empresas de fast fashion, mas o que elas inventaram, entregaram e que todo mundo consumiu, foi mais por menos. E mais por menos cada vez em maior quantidade e cada vez mais rápido. Isso não é só a moda, isso acontece em vários outros setores. Se a gente ver, um iphone é lançado a cada ano e ele poderia durar anos, mas vem programado de uma forma obsoleta para durar pouco. A moda só entrou numa ideia de obsolescência que já acontecia. As fast fashions aceleraram essa ideia que era impossível antigamente devido ao tempo longo de produção, outro tipo de tecnologia, o longo período para enviar roupas por navios, por exemplo. Elas conseguiram transpor essa enorme barreira do tempo e, nisso, as pessoas passaram a comprar cada vez mais.

Estamos falando aqui de volume de produção. É um volume enorme. Não tem nada que vá ser sustentável se continuarmos produzindo nesse volume tão imenso, sem se importar e atropelando pessoas no meio do caminho com trabalho escravo. Só que se formos analisar, nós começamos a perceber que a moda é só uma das várias indústrias que formam essa rede que é sustentada pelas pessoas e pelo meio ambiente para continuar produzindo um volume excessivo. Temos que ter muita clareza de como funciona a ginástica econômica. As fast fashions levaram isso a um nível nunca antes visto e as pessoas abraçaram essa ideia de que tudo pode ser produzido rapidamente e que tudo é descartável. A gente mudou e achou que roupa era uma coisa fácil de fazer, que não tinha pessoas produzindo-as em condições análogas à escravidão, não lembramos que algodão é uma fibra, que vem da produção intercalada de soja e milho. As fast fashions promoveram essa coisa do volume exacerbado, do consumo desenfreado. Mas eu acho que é uma história meio o ovo e a galinha, porque elas surgiram em um momento em que tudo já estava indo para esse modelo de consumo desenfreado. Foi meio que uma simbiose. Elas perceberam que daria para ter muita roupa, mais novidade em menos tempo e de repente aquilo virou o que virou.

Sul21: Saindo um pouco das fast fashions e falando do mundo da moda num todo, que impactos podemos destacar?

Marina: Existem vários impactos. A emissão de gases de efeito estufa, o uso exacerbado de terra. Hoje estamos falando da devastação das florestas para gado, mas algodão no Brasil só é produzido em cultura rotativa de soja e milho, então isso está relacionado com o agronegócio também. No caso do poliéster, ele vem do petróleo. Hoje 8% do petróleo vai para a moda e nisso é liberada uma quantidade imensa de microplásticos no mundo. As florestas são devastadas para a produção de celulose. É um caminhão de lixo têxtil sendo descartado no mundo a cada segundo. Ou seja, a gente extrai, produz CO2 e usa agrotóxico para jogar tudo fora depois. Tem o impacto da produção da fibra de origem vegetal e da fibra de origem animal. Essa floresta devastada da Amazônia vira carne e vira couro. Na produção de curtumes sabemos que há trabalho análogo à escravidão. Também precisamos pensar que 15% do corte das roupas é descartado, há um monte de peças que ficam em estoque, porque não é bem feita, e se vão para as mãos das pessoas pode ficar guardada no armário e nunca ser usada ou depois é descartada.

Sem dúvida a maior parte do impacto está na produção, mas a moda está relacionada com várias outras indústrias, como o agronegócio, a mineração, com lobbies no Congresso, com a Odebrecht, que está envolvida na Lava Jato, por exemplo, e é a dona da Braskem, uma empresa que segue firme e forte incentivando o uso de poliéster na moda sem se preocupar com as consequências. Tem todas essas várias relações que não vemos quando a gente vê a roupa pronta.

Temos que ter uma noção clara que o sistema é sistêmico. E digo sistêmico no sentido de que há vários atores em um sistema todo integrado para as coisas funcionarem de uma determinada forma. Se ficamos olhando apenas para um silos e atuando unicamente ali, acabamos não conseguindo entender que aquele silos é a consequência de vários outros e a relação de vários outros silos entre si. A gente aprende em silos, em departamentos, nas universidades, seguimos atuando sempre em uma caixinha. A transdisciplinaridade não é ensinada na nossa sociedade, então você não consegue enxergar o todo e isso é prejudicial, porque você não consegue entender que esse silos está no todo.

Sul21: Nos últimos tempos o debate acerca da necessidade de uma moda sustentável e dos impactos ambientais e sociais do mundo da moda vem crescendo. Você acredita que este debate está refletindo no modelo de consumo das pessoas?

Marina: Quando a gente vê o caso da Forever, não é porque as pessoas estão pensando e comprando consciente que vai fechar. É por um erro de negócio. Enquanto outras lojas investiam ou até mesmo abriam no Instagram, no meio online, a Forever ficou abrindo loja de concreto. O que a gente precisa ter em mente é que o debate dentro de um determinado escopo existe. A gente está conversando sobre isso, mas dentro de um determinado nicho, onde pessoas questionam padrão de comportamento e de tendência. Isso não significa que as coisas estão realmente mudando ou que toda a sociedade está sendo orientada para consumir de uma outra forma.

Existem pesquisas de comportamento que mostram que os Millennials e a Geração Z são os mais orientados antes de comprar e querem comprar de marcas com comportamento sustentável, que se posicionem politicamente. Mas não quer dizer que na hora de passar o cartão isso é levado em consideração. Quando a pessoa responde no questionário não significa que ela faz isso na prática. Existe ainda um caminho muito grande entre a resposta em um questionário e o que se faz na prática. O que estamos vendo é que grandes redes de fast fashions estão colocando isso, dizendo que vão trocar as fibras por fibras mais sustentáveis e um monte de coisa que a gente sabe que não é realmente sustentável.

Sul21: É o chamado greenwashing, certo?

Marina: É um pouco de greenwashing, mas também é muito mudar para garantir que as coisas continuem como estão, que você continue sendo um dos maiores varejistas, que você continue produzindo muito. Você muda alguma coisa, mas a base continua exatamente igual.

Hoje se fala que o departamento de sustentabilidade é o que mais importa para as marcas, mas não é, ainda é o econômico, a sustentabilidade segue sendo sobre lucro no final do mês. Precisamos desafiar e repensar o sistema capitalista em que estamos inseridos. Muitas vezes não queremos debater sobre isso porque a gente é mandado para Cuba, mas precisamos que as pessoas olhem para o elefante branco na sala, que é: produzir mais e vender mais para lucrar cada vez mais.

Hoje estamos consumindo nossos recursos naturais anuais cada vez mais cedo. Então, seguir produzindo mais para vender mais não vai fechar a conta. Estamos à beira do colapso climático. Tem previsões que apontam que em 2030 a moda contribua entre 49% e 73% na emissão de [gases de] efeito estufa. Como vamos manter a meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura a 1,5°C se só a moda tem uma projeção de aumento de emissões de gases de efeito estufa de 49% ? Estamos falando que o departamento de sustentabilidade é o que importa hoje, mas não é essa a realidade. Se fosse não veríamos esse aumento de emissão de gases de efeito estufa. Então, ou você assume isso ou vai cair no conto do vigário de ‘vamos trocar nossas fibras por sustentáveis’.

Sul21: E como é possível fazer com que esse debate todo aconteça também fora desses nichos em atinja outras partes da sociedade?

Marina: Eu acho que o grande desafio é que há uma alienação muito grande. O consumo e a nossa sociedade do consumo funcionam na base da alienação. Eu estou lendo o livro do [Ailton] Krenake, ele traz uma fala do Mujica que é sobre como as nossas crianças são educadas para serem clientes e não cidadãos. Hoje a gente não consegue mais sair desse lugar de consumidor e ir para o de cidadão. Quando sugerimos conversas mais profundas sobre esses temas, não conseguimos avançar de fato. Então, o grande desafio é suscitar o não conformismo e tirar as pessoas da alienação. Porque hoje está tudo bem se eu tenho uma tv bacana, um carro x. Claro, isso tudo também entra no debate de classes, de como está todo mundo apenas tentando sobreviver. Mas no final a sociedade num todo está muito alienada, existe esse recorte muito pequeno que está consciente.

Só que essas conversas são necessárias porque não existe produto sustentável se estamos falando de concentração de renda do agronegócio e da mineração, da associação a lobby no Congresso para aprovar a flexibilização das leis trabalhistas. Todas essas questões estão associadas à moda. Temos que debater, gerar conversas profundas e suscitar as pessoas ligadas à sociedade do consumo. Essa sociedade do consumo está ligada ao capitalismo, e o consumo tem a ver com a destruição da Amazônia, com a destruição dos povos originários.

Precisamos de uma quebra de realidade, entender o que estamos fazendo no mundo, como estamos nos destruindo enquanto sociedade. Sair dessa caixa que nos colocaram de consumo e habitar outros espaços. Esse é o maior desafio. Parte do debate da moda sustentável fica no primeiro campo, no debate que precisa fazer produtos sustentáveis, mas não, não precisa fazer mais produtos, precisa mudar. Já existem hoje outras formas de pensar e fazer as coisas, que é mais que apenas colocar uma fibra sustentável.

Sul21: E qual a importância de brechós e de espaços de troca de roupas dentro desse contexto de excesso de produtos?

Marina: A gente tem uma pauta no Modefica em que falamos que de 2010 a 2015 houve um boom no Brasil de mais de 200% no aumento de número de brechós. Só que esse aumento vem junto com a crise, com a recessão do país. Não é que estamos super bem economicamente e todo mundo começa a comprar roupa usada. Tivemos um aumento no número de brechós e temos o debate que usar de segunda mão é ok, mas quando descemos desse lugar de debate e começamos a ir para a prática tem muito a questão de querer comprar uma determinada marca, uma determinada etiqueta, que custa entre 150 e 200 reais uma única peça. Ainda tem muito a questão de acessar essas marcas por um preço menor. Então, ao invés de pagar 200 reais eu vou pagar 30 ou 50, por exemplo. Não é que vou comprar de segunda mão porque vai ser melhor pro planeta, é porque vou acessar essas marcas por menos. Segue sendo sobre comprar mais por menos. O grande desafio quando falamos sobre brechó ou feira de troca é como realmente a gente incorpora o debate da sustentabilidade na prática. Quando conversamos com pessoas da feira de troca, elas nos contam que as pessoas vão com a mesma mentalidade da Black Friday, de pegar o máximo que conseguir.

Só que os brechós também têm uma outra coisa que é a possibilidade de entrada nesse mercado. Houve um aumento de quase 14% no número de desempregados. Então você pega uma roupa das pessoas do seu bairro, da sua família, porque está desempregado, e vai tentar vender.

É difícil mudar esse hábito isolado sem pensar como toda sociedade foi estruturada, dentro do capitalismo, com propagandas o tempo todo. Temos que quebrar muita coisa para conseguirmos nos desvencilhar de todos esses estímulos. Também tem toda a ideia de que exercermos a cidadania por meio do consumo. Para conseguir chegar nesse lugar mais simples, mais puro, que estamos precisando, temos que mudar nossa relação com esse consumo exacerbado e como exercemos a nossa cidadania. Se a gente pensar que nos últimos anos do governo Lula e Dilma, por exemplo, a ideia de ascensão veio única e exclusivamente por meio do consumo. Claro, existiram programas de educação e de moradia, mas havia essa ideia de ascensão pelo consumo, do crescimento da classe média pelo consumo. Precisamos ter cuidado sim em trazer todas essas nuances porque senão ficamos numa ideia de avanço que não é bem um avanço.

Sul21: Marina, você mencionou todas essas diversas nuances e também que precisamos mudar nossa ideia de ser cidadãos por meio do consumo. O que podemos fazer individual e coletivamente para mudar essa realidade e colocar essa teoria na prática?

Marina: Eu penso muito sobre isso porque essa é a resposta de um milhão de dólares. Eu acho que tem alguns caminhos que podem ser seguidos. Podemos pensar na atuação das próprias marcas, de qual o papel das marcas que estão debatendo sustentabilidade, e quando eu digo marca eu não me refiro a produtos novos somente, pode ser de brechó, uma empresa de serviço, até mesmo os guarda roupas compartilhados. Precisamos conversar sobre isso de uma forma profunda e levar essas questões para além desse lugar deslocado da realidade, para o grande público que em está deslocado do debate.

As marcas precisam tomar para si uma parte da responsabilidade, porque elas dizem que as pessoas não estão preparadas para os debates, mas fazem pouco para levantar esse debate. Se a marca se transformar como marca, criar iniciativas para que as pessoas não sejam apenas consumidoras, mas sejam cidadãos, que cobrem das marcas, como faz a Patagônia, que é um exemplo disso. Ao invés de jogar a vareta nas mãos do consumidor, elas precisam lembrar que não há desestímulo ao consumo.

No âmbito individual temos que fazer o possível para nos desvencilharmos dessas amarras de consumo. Só que sair desse lugar nessa sociedade é muito difícil. Por mais que você tenha esse desejo, que é o que mostram, por exemplo, os questionários das novas gerações, é muito difícil você se desvencilhar. Tem toda a questão de inserção social, de diferenciação social, de pertencimento, se começarmos a perceber isso, como podemos fazer para ir nos desvinculando? Podemos praticar desapego, para olhar para si próprio, e esse é um desafio em uma sociedade alienada, porque nela não estamos olhando para a gente mesmo.

Podemos também praticar essa coisa de ‘para onde vai esse dinheiro que estamos investindo’. Eu falo muito disso quando falamos de alimentação. Por exemplo, ao invés de ir para a Unilever, pode ir para o MST, posso comprar produtos que são da Reforma Agrária. Isso é uma ação em um universo pequeno, mas como é que a gente começa a se relacionar com a mudança. A partir desse lugar individual começamos a encontrar outros grupos, de pessoas que trabalham com agroecologia, do movimento de luta pela terra, um núcleo de ecossocialismo em um lugar. Normalmente começamos a refletir e vamos adentrando outros espaços.

Precisamos aprender a promover esse debate, vamos organizar nossa própria feira de troca, participar de manifestações. Precisamos habitar os lugares que não são intermediados pelo cartão de crédito e nem de pontos. Se a gente não começar a debater, não veremos o problema.


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