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15 de outubro de 2019
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14:43

Ato em Porto Alegre manifesta apoio às retomadas Guarani e Kaingang no RS

Por
Sul 21
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Ato em apoio às retomadas Guarani e Kaingang foi realizado no Parque da Redenção, em Porto Alegre. (Divulgação)

Da Redação

O Movimento Raiz Cidadanista e o Observatório Indigenista realizaram no domingo (13), no Parque da Redenção, em Porto Alegre, um ato em apoio às retomadas indígenas no Rio Grande do Sul. Intitulado “Retomadas Indígenas – Em defesa da Vida e das Florestas”, o ato procurou mobilizar pessoas e instituições apoiadoras dos povos indígenas, como o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), músicos, artistas e representantes dos povos indígenas que vem realizando retomadas de terras ancestrais nos últimos anos no estado.  O ato contou também coma experiência da rádio ao vivo, a Rádio na Rua, como seu organizador, o psicólogo e músico Alexandre Missel, que criou com as pessoas em situação de rua um programa de rádio ao vivo com microfones e sons abertos ao público que assistia e participava da programação.

A representante do Movimento Raiz, Maria Antonieta Girondo, fez um breve histórico de seu movimento, criado em 2016, durante a realização do Fórum Social em Porto Alegre, e que se guia por três princípios básicos: a ligação com a experiência histórica do socialismo, no caso agregando a temática da ecologia, assim chamado de ecosocialismo; a influência da matriz africana, no caso o Ubuntu, com a consigna de “eu sou porque nós somos” e a perspectiva da matriz indígena, com o Tekó Porã, o modo de vida que busca o bem viver dos Guarani. Desde a criação do círculo de Porto Alegre, este movimento vem apoiando os indígenas nas suas retomadas, bem como iniciativas de movimento feministas, entre outras ações que desenvolve.

João Maurício Farias apresentou o Observatório Indigenista, que realiza um programa de análises e de entrevistas sobre temas de interesse de indigenistas e de indígenas, emitido ao vivo semanalmente pelo seu canal no youtube, geralmente nas quintas–feiras às 19h. O músico Mário Falcão cantou composições próprias, além de cantar uma música na língua Mbya-Guarani.

Timoteo Karai Mirim, daRetomada Ponta do Arado em Belém Novo. (Divulgação)

Indígenas dos povos Mbya-Guarani e Kaingang estiveram presentes e compartilharam suas experiências de estarem retomando as suas áreas ancestrais. Os Mbya-Guarani Timóteo karai Mirim – da retomada da área da Ponta do Arado; André Benites – da retomada em Maquiné, hoje denominada tekoá Ka’agya Porã; Talcira Gomes – retomada em Rio Grande e o indígena Kaingang, Maurício Salvador – retomada em Canela.

Timóteo Karai Mirim, da Retomada da Ponta do Arado, lembrou que toda a região era indígena, que todo o Brasil era deles, mas que depois de 1500 tomaram suas terras. A partir daí, enfatizou, não tinha mais caça, não tinha mais peixe. “Antes tinham tudo no mato, tinham alimentos, tinham remédios, antes tinham riquezas, agora não tem mais nada”.

Timóteo também relatou que algumas mulheres, crianças e homens Guarani que retomaram a sua área na beira do Guaíba tem sofrido ameaças e diversas violências, e que os que se dizem proprietários têm feito de tudo pra tirar eles de lá, mas que seus ancestrais e que seus deuses – Nhanderú e Tupã tem dado apoio e proteção a eles para seguirem nesse caminho para garantir seu modo de vida e sua terrinha.

Maurício Salvador, indígena Kaingang, falou sobre a retomada de área ancestral localizada no município de Canela, em espaço formalizado como Floresta Nacional do Instituto Chico Mendes. Maurício disse que a área foi criada para ser reserva de propagação de árvores exóticas como pinus e eucalipto, mas que há memórias de batalhas entre colonizadores e famílias indígenas, onde houve muitos mortos até os Kaingang serem expulsos desta região da Serra Gaúcha para o norte do estado.

Mauricio Salvador, Kaingag da Retomada em Canela (Divulgação)

Ele lembrou ainda que naquele local com aproximadamente 500 hectares de mata nativa e parte de florestas exóticas há várias casas tradicionais de seu povo. São casas subterrâneas que mostram como seus ancestrais faziam suas habitações. O atual Governo Federal, ao invés de fazer estudos de demarcações, pretende privatizar essa área que é Kaingang, assinalou.

Representante do Conselho dos Povos Indígenas do RS, Silvio Jardim falou da importância de atos como estes para esclarecer a população sobre a situação dos povos indígenas no estado, como também falou da necessidade de se garantir apoio as iniciativas dos indígenas e suas retomadas.

Os indígenas Guarani André Benites e Talcira Gomes fizeram as falas de encerramento do ato. André falou sobre a dificuldade de compreender a língua portuguesa, que busca entender e que gostaria que os juruás (não índígenas) também buscassem compreender sua língua.

Os movimentos das retomadas, acrescentou, não são contra os juruás, que suas retomadas não são importantes apenas para os indígenas, mas são fundamentais também para a vida de todo o mundo. O Estado, criticou, não tem cumprido seu papel de garantir os direitos dos indígenas e que é fundamental que a sociedade dos não indígenas compreenda a importância dos indígenas em garantir a vida no planeta.

Andre Benites, liderança da Retomada Guarani, em Maquine. (Divulgação)

Talcira disse que os mais velhos sempre contavam histórias de que a gente Guarani se escondia quando o juruá veio invadindo o Brasil.

“Nossos antepassado procurava uma toca de pedra pra não serem matado né, e isso é muito ruim né, é muito dolorido pra nós, eu sou mulher indígena que fui dez ano liderança e agora assumi de cacique, e eu fico muito triste pela fala do André, porque a gente fica triste porque tem vários juruá, mesmo o juruá não se conhece, o juruá que mora mesmo na vila não se conhece, não se perguntam donde é que eles são, parente de quem, e nós Guarani não é assim, por isso que nós Guarani vai até Brasil, Argentina Paraguai e Bolívia e ali a gente se conhece. É isso que juruá não faz né, por isso que tem muitos crimes, que acontece, que tão acontecendo entre juruá”, afirmou.

O ato prosseguiu com um celebração de comunhão e solidariedade entre guaranis, kaingangs e os “juruás” que foram prestar apoio ao movimento dos povos indígenas em defesa de seus territórios, de suas tradições e saberes originários.

 

 

 


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