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21 de setembro de 2019
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12:32

No Brasil, atos da Greve Global pelo Clima misturam críticas sociais e ambientais

Por
Luís Gomes
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Políticas antiambientais do governo de Jair Bolsonaro (PSL) foram questionadas em todos os atos | Foto: Rafael Tatemoto/Brasil de Fato

Do Brasil de Fato

Tendo protagonizado alguns dos principais episódios de tragédias ambientais do planeta no último período, o Brasil também se mobilizou na Greve Global pelo Clima, que contabilizou nesta sexta-feira (20) cerca de 5 mil manifestações em mais de 150 países do mundo.

No Brasil, os protestos ocorreram em pelo menos 20 estados e foram impulsionados pela Coalizão pelo Clima, uma frente ampla composta por 70 organizações ambientalistas, coletivos, movimentos sociais, centrais sindicais e ativistas. As lutas dos movimentos sociais, atravessadas pelo tema ambiental, também ganharam destaque nas ruas do país.

Formada por organizações como Greenpeace, Lute pela Floresta, Famílias pelo Clima, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, e partidos como Psol, PT e Rede, a Coalizão é inspirada no movimento Fridays for Future (Sextas-feiras pelo Futuro), criado por Greta Thunberg, uma jovem ativista sueca de 16 anos.

Destaque para os atos nas capitais Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ), Recife (PE), Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE), Brasília (DF), São Paulo (SP), São Luis (MA), Maceió (AL) e Belém (PA).

Entre os manifestantes que foram as ruas, além do recorde de queimadas na Amazônia registrado em 2019, não faltaram temas para protestar. Foram lembrados os crimes ambientais cometidos pela Vale em Brumadinho e Mariana, Minas Gerais; o desmonte dos órgãos de controle ambiental na gestão de Jair Bolsonaro (PSL); as declarações antiambientais do presidente que se autointitula “capitão motossera”; a exclusão do Brasil da cúpula do clima da Organização das Nações Unidas; os ataques a terras indígenas e unidades de conservação; a liberação indiscriminada de agrotóxicos, entre outros temas locais e nacionais.

Concentração do ato na capital paulista | Foto: Juca Guimarães/Brasil de Fato

São Paulo

Em São Paulo (SP), a poucas quadras do centro financeiro e industrial do país, centenas de pessoas participaram do ato que reuniu movimentos populares, sindicatos, partidos políticos, estudantes e comunidades indígenas no vão-livre do Museu de Arte de São Paulo (MASP), em frente ao parque Trianon, que preserva alguns poucos quilômetros quadrados de mata Atlântica.

O modelo de matriz agrícola baseada na monocultura e no agronegócio foi bastante criticado, assim como o apoio do governo Jair Bolsonaro a esse grupo de empresários. “O agronegócio está acabando com o Brasil. Estão derrubando as florestas que é de todos por dinheiro só para alguns”, disse o aposentado Ricardo Silva, 69 anos.

A indígena Teneé, 16 anos, que mora em uma reserva Guarani, em Parelheiros, na zona Sul de São Paulo, comentou que a ação do homem no planeta impacta cada vez mais no clima. “Mesmo morando longe da cidade a gente sente a poluição. Tem menos água e até a plantação não é mais igual”, afirmou.

Outro ponto que se destacou no protesto foi o efeito das queimadas na região Norte que teve reflexo em todo o Brasil. “O céu de São Paulo virou noite no meio da tarde porque a Amazônia estava pegando fogo há dias. O Brasil tem que cuidar melhor das florestas”, considerou Gisele Gomes, 32 anos, que trabalha como secretária.

Protesto na Amazônia

Em Belém (PA), a Greve Global pelo Clima teve protestos contra as mineradoras Hydro Alunorte e Vale, que atuam de forma predatória no estado. Cerca de 200 pessoas participaram do ato, que começou às 16h, na Escadinha da Doca, na capital paraense, que também contou com protestos contra o desmatamento e a expansão dos grandes latifúndios para criação de gado e plantação de soja.

A assistente social Jane Cabral, de 43 anos, acredita que se as pessoas se prontificam a comparecer a um ato é porque reconhecem a importância do tema – e afirma que os impactos climáticos não só para a região amazônica, mas para o mundo, merecem atenção, porque os danos são para todos os habitantes do planeta.

“Nós estamos sentindo ainda mais esse crime contra a Amazônia, que não é somente o fogo ou o desmatamento através das queimadas que estão acontecendo, mas o crime da Amazônia acontece há um tempo: são os grandes projetos. A gente tem a Hydro destruindo os nossos rios, tem a Vale, tem o agronegócio vindo com as suas plantações de soja, com seus monocultivos destruindo o que para a gente é a vida, que são as florestas, os rios, os animais, os seres humanos. Então para a gente, esse ato é altamente importante, porque é um ato que está acontecendo em nível mundial e nós, como sujeitos da Amazônia não poderia estar fora disso”, explicou.

Paula Pimentel, de 34 anos, integra o movimento feminista Marias e falou da participação do cidadão paraense no ato, mas principalmente, da mulher amazônida.

“A importância é fortalecer a luta para que todos tomem consciência de que vai afetar todo mundo. Acabando com a Amazônia todo mundo vai sentir. Tanto que esse ato é nacional, todas as capitais estão se organizando nesse momento e a gente vai se fortalecendo enquanto mulheres amazonidas, enquanto mulheres conscientizadas, enquanto mulheres que lutamos pelo direito à cidade, à vida, à cidade arborizada, à natureza e a gente está no enfrentamento todos os dias”, disse a representante do movimento feminista.

Paula Pimentel: Movimentos sociais do Pará têm se articulado contra projetos econômicos que degradam o meio ambiente | Foto: Catarina Barbosa/Brasil de Fato

O protesto encerrou por volta das 20h30 e contou também a presença de pesquisadores do Museu Emílio Goeldi, apresentaram suas pesquisas para a comunidade assim como fizeram no ato do Dia da Amazônia realizado no último dia 5 de setembro.

Na Capital

Em Brasília (DF), a manifestação, organizada pela Coalização do Clima do DF, se iniciou por volta das 17h, na Rodoviária, ponto central da cidade. Além de servidores públicos de órgãos ambientais, a maior parte dos manifestantes eram estudantes secundaristas e universitários.

O Jovens pelo Clima, coletivo recentemente organizado em Brasília inspirado na atuação da ativista adolescente Greta Thunberg, da Suécia, foi uma das organizações que protagonizou a articulação para o protesto.

O saguão da rodoviária de Brasília tomado de manifestantes | Foto: Rafael Tatemoto/Brasil de Fato

Nina Lourenço Abers, de 17 anos, explica que a iniciativa dos Jovens pelo Clima surgiu após a constatação de que “estávamos no centro do poder, e não havia um grupo organizado aqui”. Também do Jovens pelo Clima, Helena Falkenberg Marques, da mesma idade, diz que o as posturas do governo Bolsonaro significam, na verdade, uma anti-política ambiental.

“A gente tem um desmonte. Ele criminaliza pessoas e instituições. É um negacionismo muito forte. Por conta dessa postura contra a ciência e a pesquisa, fica muito difícil tomar medidas”, explicou.

Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, participou da manifestação na capital federal: “É um movimento sendo convocado por crianças e adolescentes. Na realidade brasileira, é muito oportuno que eles digam ao governo que basta de destruir a floresta, basta de comprometer o futuro das gerações que estão aqui e das que não nasceram”.

O atou ocupou a Esplanada, realizando uma pequena parada no Ministério do Meio Ambiente e se encerrando em frente ao Congresso Nacional.

Cariocas protestaram em frente ao Ibama

Centenas de pessoas se reuniram em frente ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), na Praça XV, centro do Rio de Janeiro (RJ), para o protesto contra o desmonte das políticas ambientais no país.

O ato parte da atividades da Greve Global pelo Clima foi organizado pelo coletivo Amazônia na Rua RJ, que faz parte da Coalizão Pelo Clima.

No RJ, manifestantes protestaram contra crimes ambientais ocorridos no Brasil | Foto: Reprodução

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