Geral
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15 de setembro de 2019
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12:59

Fiscais da prefeitura ignoram alvarás e interrompem festival de artes no centro de São Paulo

Por
Sul 21
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Faixa oficial assinada por todos os órgãos de controle da prefeitura foram insuficientes para conter arbitrariedade de fiscais. “Prejuízos grandes”. Foto: Divulgação

Fabio M Michel
Da RBA

Em atitude considerada arbitrária por organizadores e expositores que neste sábado (14) participavam da 15ª edição do Projeto Old Roger, no centro de São Paulo, fiscais da prefeitura acompanhados de integrantes da Guarda Civil Metropolitana (GCM), interromperam o evento, promovido por uma tradicional casa de jazz da capital paulista. O festival pretendia receber o público com concertos e shows espalhados por quatro pequenos palcos e cerca de 300 pequenos e médios empreendimentos de iniciativas em economia criativa, sustentabilidade, tecnologia, inovação e outros.

Por volta das 13h – o início foi às 9h – todos foram obrigados a desmontar seus estandes e recolher equipamentos, insumos e produtos após receberem recomendação da organização do evento, que negociou por cerca de uma hora desde a chegada dos fiscais antes de acatarem a ordem.

No Facebook, a página do evento tinha cerca de 3,3 mil seguidores até o fim da tarde deste sábado. A página do SPTrans publicou ontem (13), em seu site o desvio de quatro linhas de ônibus entre a 0h de sábado até as 6h do domingo (14). No entorno do local, na região da Praça da República, faixas da prefeitura comunicam a interdição das ruas durante o período previsto para sua duração.

Em áudio distribuído pela organização do evento aos expositores, a representante da organização do evento Maria Ângela afirma que toda a documentação junto à prefeitura estava em dia, que as razões para o bloqueio não foram esclarecidas e que a prefeitura será acionada na justiça pelos prejuízos.

Ainda pela manhã, projeto que envolveu músicos e novos empreendedores já recebia bom público na região da Praça da República. No destaque, GCM e fiscais iniciam intervenção. Foto: Divulgação

“Fomos pegos com muita surpresa. Estamos na nossa décima-quinta edição e nunca aconteceu isso. A documentação estava toda em ordem e foi uma arbitrariedade. Veio direto do gabinete do prefeito essa ordem de bloquear a feira. A gente está com uma equipe de advogados agora e estamos entrando com uma liminar por abuso de autoridade.”

O bancário e músico Tiago Guabiraba, que acompanhava a mulher, que divulgava uma linha de produtos a base de chocolate, relata que os fiscais chegaram ao local por volta do meio-dia. Quando os estandes começaram a ser desmontados, muitos deles serviam até mesmo refeições completas ao público. “O cara da comida vegana, por exemplo, trabalha com coisas que amanhã já vai estar estragada, vai ter que jogar tudo fora. Muitos tiveram diversos tipos de prejuízo. Foi lamentável”, afirmou.

Para ter seus produtos ou serviços no festival, cada expositor do setor de alimentação desembolsou pelo menos R$ 760 pela locação. Tiago conta ainda que muitos entre os 300 expositores poderão enfrentar problemas financeiros por conta do “rapa” promovido pela prefeitura . “No meio tem gente que investiu tudo, veio preparado pra vender muito e o evento estava muito movimentado.”

“O mais incrível é que foi mostrado pros fiscais as faixas da prefeitura (nas ruas), tem documento, tem tudo, mas mesmo assim acabou dessa forma. E o Old Roger nem é novo, já é tradicional, todo ano tem. As pessoas ficaram horrorizadas”, completou o músico.

Tiago concorda com a organizadora que a ação dos fiscais, ainda que sem violência, foi truculenta e arbitrária. “Se faltou algum documento, foi coisa mínima. Deixasse o evento ir até o fim, depois multava os responsáveis. Jamais acabar assim, sem considerar os danos pra cidade, pra população e pros expositores. Se vc considerar que cada estande em média envolve de quatro a cinco pessoas, só aí você causou prejuízo pra mais de mil pessoas de uma vez.”

No áudio da organizadora Maria Ângela que circulou na tarde de ontem, ela afirma que a intervenção da prefeitura poderia ter provocado um prejuízo ainda maior. “Naquela hora, o mais importante era que vocês retirassem as mercadorias, porque a guarda municipal estava com ordem de recolher tudo”. Tiago disse ainda que o episódio poderia ter tido um fim tumultuado e até violento. “Alguém podia ter ficado nervoso, teve gente que perdeu muito.”

Até o fechamento desta matéria a gestão Bruno Covas ainda não havia se manifestado sobre as razões para mandar interditar o festival.


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