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27 de setembro de 2019
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20:40

Cpers entrará em greve caso Leite proponha mudanças no plano de carreira e na Previdência

Por
Luís Gomes
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Professores e funcionários de escolas estaduais aprovaram o indicativo de greve em assembleia realizada nesta sexta | Foto: Luiza Castro/Sul21

Luís Eduardo Gomes

Em assembleia que contou com a participação de cerca de 2 mil educadores na tarde desta sexta-feira (27) na Casa do Gaúcho, no Parque Harmonia, em Porto Alegre, o Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers) aprovou a autorização para que a categoria entre em greve caso o governador Eduardo Leite (PSDB) encaminhe à Assembleia Legislativa projetos prevendo a reformulação do plano de carreira de professores e funcionários de escola e/ou mudanças nas regras de aposentadoria. Caso isso ocorra, a assembleia determinou que será deflagrada greve em 72 horas.

Presidente do sindicato, Helenir Aguiar Schürer afirmou após a assembleia que a expectativa do Cpers é que o governador possa encaminhar projetos de mudança no plano de carreira e nas regras de aposentadoria do funcionalismo estadual já em outubro. “O governo tem dito que (vai encaminhar) agora em outubro. Então, nós estamos aguardando. De repente, pode não ter greve se o governo não mandar. Mas a categoria está pronta, se o governo enviar, porque nós temos a clareza de que, se é para arrochar mais a nossa vida, estaremos cruzando os braços”, disse após a assembleia.

Com os salários congelados sem a reposição da inflação desde 2014 e convivendo com parcelamentos e atrasos salariais desde o início do governo de José Ivo Sartori (MDB), em 2015, professores e funcionários entendem que chegou o momento de uma nova paralisação para reivindicar recomposição salarial e o pagamento em dia do salário e do 13º. No entanto, a categoria se dividiu em duas correntes na assembleia. De um lado, a tese apoiada pela direção do sindicato de que não há força neste momento para que seja realizada uma paralisação forte contra o governo Leite. De outro, a tese de que a categoria não pode ser pautada pela agenda do Palácio Piratini e que seria necessária a construção imediata de uma paralisação.

Apesar de diversas falas de oposição à direção do sindicato, defendendo que não era mais possível adiar o início de uma greve, pesou a memória das paralisações realizadas durante o governo Sartori e prevaleceu a decisão de que uma greve, nesse momento, não teria a mobilização necessária para forçar o governo a negociar as questões salariais da categoria.

Foram três anos consecutivos de paralisações. A primeira delas, realizada na esteira dos primeiros projetos de mudanças para o funcionalismo estadual, em 2015, durou cerca de 10 dias e foi encerrada sem que a categoria conseguisse convencer o governo a discutir reajuste salarial. No ano seguinte, em 2016, já com quase um ano de parcelamento de salários, foi encerrada depois de 53 dias com a principal conquista do sindicato sendo a garantia por parte do governo de que não iria promover mudanças na lei do Difícil Acesso. O desgaste maior, contudo, veio em 2017. Foram 94 dias de greve para exigir do governo reajuste salarial e pagamento em dia. Em nenhum momento, no entanto, o governador mostrou disposição para negociar e a paralisação acabou por enfraquecer a cada semana, sendo encerrada sem nenhuma vitória para a categoria. Em 2018, não houve greve.

Presidente do Cpers, Helenir Aguiar Schürer (dir.) defendeu a tese de que a greve deve ser realizada caso o governador encaminhe à Assembleia projetos que retiram recursos da categoria | Foto: Luiza Castro/Sul21

Para a presidente do sindicato, o entendimento da categoria é que se chegou a um limite financeiro e de que não é possível aceitar novas perdas, sendo então esse um ponto que poderia catalisar uma paralisação fortalecida. “A categoria já tem nos dito que a única forma de sair é se nós formos perder mais. ‘Perder mais não pode’. Então, a reforma da Previdência vai nos tirar recursos, vai taxar, por exemplo, os aposentados, então retira recurso do nosso contracheque. E o que nós temos visto da proposta da reforma do plano de carreira é tirar o que eles chamam de penduricalhos, mas que são a ascensão na carreira como promoções, como triênios, tu poder levar para a aposentadoria a gratificação de direção. O governo tem dito que vai cortar tudo isso. Quando tu aposentar só vai com o teu salário, sem absolutamente mais nada. Isso fará, com certeza, uma forte greve no Estado, porque não é possível quem não ter nada permitir que tirem aquilo que a gente já não tem”, afirmou.

Durante a assembleia, algumas falas destacaram também que o contexto nacional de perseguição a professores e de ameaças de represálias a movimentos grevistas estão deixando a categoria acuada. No entanto, Helenir disse que esse ambiente não assusta os educadores. “Eu devo lembrar que a nossa categoria atravessou uma ditadura e nós tivemos um papel preponderante nessa luta. Quem derrotou uma ditadura, não tem medo de lutar com seus admiradores”, afirmou.

Além do indicativo de greve, os educadores estaduais aprovaram o repúdio a iniciativas de criação de escolas cívico-militares no Rio Grande do Sul, a adesão a manifestações estudantis e em defesa da Petrobras previstas para a próxima semana, a instalação de um “Acampamento da Educação” na Praça da Matriz a partir do dia 15 de outubro, o Dia do Professor, e a suspensão da paralisação mensal de um dia para marcar o atraso salarial, o que vinha acontecendo desde maio. A avaliação do sindicato foi a de que a categoria já não estava conseguindo se mobilizar para estas datas e que é melhor aproveitar estes momentos para a discussão com as comunidades escolares sobre a situação dos educadores estaduais.

Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
to: Luiza Castro/Sul21

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