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3 de setembro de 2019
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19:46

Campanha quer combater aumento da intolerância e discurso de ódio nas escolas

Por
Sul 21
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Audiência pública lançou cartazes e vídeos da campanha “Quem grava o professor tira o teu direito de aprender”. (Divulgação)

Marco Weissheimer

As entidades que participaram da audiência pública sobre o combate aos discursos de ódio e de intolerância na educação, realizada na manhã desta terça-feira (03), na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, reafirmaram a sua disposição em denunciar agressões e atos de violência cometidos contra professores em escolas do Estado e em adotar medidas preventivas para barrar a proliferação desses casos. A audiência foi uma iniciativa da deputada Sofia Cavedon (PT), presidente da Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia, com apoio do Fórum de Combate à Intolerância e ao Discurso do Ódio e da Procuradoria dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal (MPF) e também serviu para o lançamento de cartazes e vídeos da campanha “Quem grava o professor tira o teu direito de aprender”.

“Essa luta é suprapartidária e diz respeito à toda sociedade. Nós temos um entendimento já consolidado de que a liberdade de aprender e de ensinar faz parte dos fundamentos da República. Sem liberdade de aprender e de ensinar não há estado democrático de direito”, destacou Enrico Rodrigues de Freitas, da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão. O procurador lembrou que há duas situações que vêm ocorrendo há algum tempo. A primeira é de censura direta em instituições educacionais, situação que pode ser enfrentada mais diretamente por medidas judiciais. A segunda é de casos de censura indireta, mediante diferentes formas de assédio, filmagens de professores e discursos de intolerância. Esses casos, assinalou o procurador, são mais complexos e difíceis de enfrentar. Espaços como o Fórum de Combate à Intolerância e ao Discurso de Ódio vêm sendo criados para lidar com essas situações. “Precisamos nos questionar que sociedade estaremos construindo para o futuro se os professores não tiverem liberdade para ensinar e se expressar”, questionou Enrico de Freitas.

Audiência foi coordenada pela deputada Sofia Cavedon (PT), presidente da Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia. (Foto: Giulia Cassol/Sul21)

Para Célio Golin, da ONG Nuances, o discurso do governo de Jair Bolsonaro espalhou um discurso de ódio e intolerância não só no espaço escolar como em toda a sociedade brasileira. Marcelo Prado, vice-presidente da Associação de Mães e Pais pela Democracia, relatou que a entidade foi criada há dez meses com a intenção de ser um espaço de resistência a esse ambiente de ódio e intolerância e em defesa de uma educação plural e livre nas escolas.

A deputada estadual Luciana Genro (PSOL) disse que esse discurso é minoritário na sociedade brasileira, porém muito barulhento. “Ele é resultado de uma contraofensiva conservadora contra os setores democráticos da sociedade que avançaram muito nos últimos anos. Mas a negritude não vai voltar para a senzala, os LGBTs não vão voltar para o armário e as mulheres não voltarão para a cozinha”, disse a parlamentar. Para a deputada do PSOL, a maioria das pessoas que votou em Bolsonaro não concorda com suas ideias absurdas e os setores democráticos devem buscar o diálogo com elas. “Existe um setor fascista com o qual não tem espaço de diálogo, mas ele não é a maioria”, acrescentou.

Já a deputada Sofia Cavedon (PT) defendeu que as escolas precisam de tempo e de espaço para enfrentar esse debate. “Precisamos aprender a praticar o debate democrático desde a escola”, resumiu. Para a deputada, romper com esse espaço de debate significa “esvaziar a escola da necessária empatia, afeto e confiança” necessários para a construção do ser humano e de uma sociedade democrática.

Sônia Ogiba: “Educação com censura e violência não é educação” (Foto: Giulia Cassol/Sul21)

A professora Sônia Ogiba, da Adufrgs Sindical, observou que a entidade acompanha com crescente preocupação, desde o período final da campanha eleitoral de 2018, as denúncias de agressões e violações cometidas contra professores. Ela destacou a criação do Fórum de Combate à Intolerância e ao Discurso de Ódio, ainda em 2018, como exemplo de iniciativa para fortalecer a construção de uma rede de resistência a esse tipo de discurso e às práticas de violações de direitos que costumam acompanhá-lo. “Educação com censura e violência não é educação. Educação é pluralidade, diversidade e respeito”, defendeu.

A presidente do CPERS Sindicato, Helenir Aguiar Schürer, destacou por sua vez que o que está acontecendo hoje nas escolas é reflexo do que ocorre na sociedade. “Quando o ódio e a intolerância entram numa sociedade, isso aparece na escola. Por isso temos visto cada vez mais casos de bullying, de racismo e de intolerância à diversidade crescendo nas escolas”, alertou.

Aline Portanova, presidente da Fundação Educacional João XXIII, manifestou orgulho pelo fato de sua escola ser o primeiro local escolhido para a colagem de cartazes da campanha “Quem grava o professor tira o teu direito de aprender”. “Hoje à tarde, o professor que foi filmado e ameaçado de demissão vai participar da colagem de cartazes no João XXIII e estou muito feliz de ver isso acontecendo. Resistência tem a ver com coragem”, afirmou.

Ao final da audiência, uma foto coletiva com os cartazes da campanha lançada nesta terça simbolizou a disposição das entidades organizadoras em intensificar esse debate dentro das escolas para enfrentar as manifestações de ódio, censura e intolerância.

Plenarinho da Assembleia ficou lotado para audiência pública sobre discursos de ódio e de intolerância nas escolas. (Foto: Giulia Cassol/Sul21)

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