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23 de junho de 2019
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14:21

Rebelião da Extinção: manifestantes acampam no parlamento escocês por leis para barrar colapso climático

Por
Sul 21
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Manifestantes da Rebelião da Extinção acamparam no parlamento escocês por alterações na legislação das mudanças climáticas. (Foto: Luiza Dorneles)

Luiza Dorneles – Especial para o Sul21

Manifestantes da Extinction Rebellion (Rebelião da Extinção) acamparam durante cinco dias dessa semana nos gramados do parlamento escocês, em Edimburgo, pressionando os parlamentares que discutiam um Projeto de Lei para emendar a Lei das Mudanças Climáticas. O acampamento, chamado Holyrood Rebel Camp, foi uma ação não-violenta e contou com diversos workshops, aulas abertas, apresentações culturais, assembleias comunitárias, entre outros. O movimento Extinction Rebellion utiliza a resistência pacífica para evitar o colapso do clima, deter a perda de biodiversidade e minimizar o risco de extinção humana e colapso ecológico.

A lei em questão data de 2009, e a emenda pretende estabelecer estratégias e metas para que o país reduza as emissões líquidas de gases do efeito estufa que, segundo o último relatório do IPCC (2018), devem chegar a zero até 2050. Se atinge o zero quando as emissões dos gases equilibram-se com as remoções desses gases (como o carbono sendo absorvido pelas florestas). Integrantes do movimento consideram 2050 tarde demais e cobram que o governo altere o ano para 2025, além de reivindicarem a criação de uma Assembleia Cidadã Climática até março de 2020. “Eu planto árvores, o que significa que elas estarão grandes quando eu estiver morto. E eu tenho netos, eu quero que eles tenham uma boa vida. Eu quero que eles tenham uma vida. E se não pararmos de queimar combustíveis fósseis, não haverá vida”, afirma o ativista Elliott Blaauw, 66 anos, silvicultor. Os manifestantes argumentam que a Escócia e os países europeus possuem mais responsabilidade em agir para impedir um desastre natural por serem nações industrializadas há mais tempo, portanto poluidoras há mais tempo e com maiores recursos financeiros para investir em alternativas sustentáveis.

Para Elliot, os políticos sempre buscam popularidade, mas a criação de uma Assembleia Cidadã significa “políticos fora do caminho”. “O povo toma as decisões junto dos cientistas, e os governantes apenas acatam”, comenta. De acordo com o manifesto pela criação da Assembleia, essas políticas devem permitir as transformações econômicas e sociais críticas necessárias para acelerar radicalmente os planos existentes na Escócia em direção a uma transição justa, tornando-se neutra em carbono dentro do prazo exigido pela ciência mais recente. Caso a Assembleia seja constituída, qualquer cidadão escocês pode ser chamado para participar.

Na quinta-feira, 20, manifestantes realizaram a performance “dança dos mortos” alertando para a possível morte de todas as espécies do planeta em função das mudanças climáticas. (Foto: Luiza Dorneles)

Um exemplo para outros países

No início de maio deste ano, o governo escocês anunciou emergência climática no país e apresentou emendas ao Projeto de Lei sobre Mudanças Climáticas para estabelecer uma meta legalmente obrigatória de emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2045. Mas já faz tempo que a Escócia é referência mundial em relação ao tema. Há 10 anos, a legislação escocesa sobre mudança climática foi considerada a mais ambiciosa da época quando o parlamento votou por unanimidade a meta de reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 42% até 2020. Meta essa que foi atingida seis anos antes do tempo previsto. Um ano após, em 2017, uma nova estratégia estabeleceu que:

– 40% de todos os carros novos e vans vendidos na Escócia tenham emissões ultra baixas em 2032, com 50% dos ônibus da Escócia como sendo de baixo carbono.

– Se tenha um setor elétrico totalmente livre de carbono baseado inteiramente em fontes de energia renováveis ​​até 2032, quando a última usina nuclear da Escócia será fechada.

– Quatro em cada cinco casas de 2 milhões da Escócia devem ser aquecidas usando tecnologias de baixo carbono.

– Se repare 250.000 hectares de turfa degradada, que armazenam um total de 1.7 gigatoneladas de gás carbônico na Escócia.

– Pelo menos 30% da frota de balsas públicas de propriedade da Escócia sejam de baixo carbono, movida por motores híbridos

Manifestantes acamparam durante cinco dias nos gramados do parlamento em Edimburgo. (Foto: Luiza Dorneles)

Demandas da Rebelião da Extinção

Ativo em diversos países do globo, o movimento Exctinction Rebellion articula ações por desobediência civil, pressão sobre os governantes e conscientização sobre a crise climática. Suas três principais reivindicações indicam que o governo deve:

1) “Dizer a verdade declarando uma emergência climática e ecológica, trabalhando com outras instituições para comunicar a urgência de mudanças”.

2) “Agir agora para impedir a perda de biodiversidade e reduzir a emissão de gases do efeito estufa a zero até 2025”.

3) “Criar e ser liderado por uma assembleia nacional de cidadãos pela justiça climática e ecológica”

De camiseta amarela, à esquerda, Elliott Blaauw, 66 anos, silvicultor. (Foto: Luiza Dorneles)

A Extinction Rebellion foi estabelecida no Reino Unido em maio de 2018, com cerca de cem acadêmicos assinando um apelo à ação em apoio em outubro de 2018 e lançado no final de outubro por Roger Hallam, Gail Bradbrook, Simon Bramwell e outros ativistas do grupo de campanha Rising Up!. O movimento é reconhecido pelo grande número de ativistas que já se comprometeu a ser preso. Citando inspiração de movimentos de base como Occupy, o movimento de independência de Gandhi, as Sufragistas, Martin Luther King e outros no movimento pelos direitos civis, a Extinction Rebellion pretende reunir apoio mundial em torno de um senso comum de urgência para combater o colapso climático.


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