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11 de junho de 2019
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12:42

‘Membros da academia precisam ser soldados. Tomem um Estomazil e respondam às fake news’, diz reitor da UFPR

Por
Luís Gomes
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‘Membros da academia precisam ser soldados. Tomem um Estomazil e respondam às fake news’, diz reitor da UFPR
‘Membros da academia precisam ser soldados. Tomem um Estomazil e respondam às fake news’, diz reitor da UFPR
Reitor da UFPR, Ricardo Fonseca fala sobre as estratégias para enfrentar fake news contra as universidades | Foto: Luíza Castro/Sul21

Luís Eduardo Gomes 

Na última quinta-feira (06), o reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ricardo Marcelo Fonseca, esteve em Porto Alegre para participar do ciclo de debates “Furando Bolhas”, promovido pela Universidade Federal das Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCPSA). Na ocasião, Fonseca afirmou que as universidades públicas brasileiras estão sob um ataque coordenado e que há uma “profissionalização para a construção de mecanismos de desinformação”.

O reitor da UFPR citou como exemplo um vídeo que circulou no WhatsApp durante o período eleitoral em que os reitores das federais são chamados de traficantes e organizadores de orgia. “Isso está circulando e a tia do WhatsApp está acreditando”, disse. No entanto, ele ponderou que o mais preocupante é que grande parte das fake news sobre as universidades têm origem no MEC e na presidência. Destacou, por exemplo, a fala de Bolsonaro de que a maioria da pesquisa brasileira é feita pelas universidades privadas e que um expoente disso seria a Mackenzie, de São Paulo, pelo seu trabalho sobre o grafeno. Fonseca destacou que apenas dois professores da UFPR sozinhos têm mais produção sobre o grafeno do que a Mackenzie em toda suas história.

Durante o evento, Fonseca conversou brevemente com o Sul21 sobre quais estratégias as universidades e a comunidade acadêmica podem adotar para enfrentar essa onda de fake news e desinformação. Confira a seguir.

Sul21 – Como as universidades podem furar a bolha e construir um ambiente político para a reversão do quadro de cortes e bloqueio de verbas? As universidades têm como sobreviver sem reverter esse quadro?

Ricardo: Acho que a gente pode falar de um quadro real e um mais da comunicação. Quero dizer, como fica a nossa imagem e como podemos furar a bolha. O quadro real, independente de qualquer retórica, tem que ficar muito claro que, se os cortes não forem revertidos, as universidades federais e os institutos federais param no início do segundo semestre. Vai ser um caos educacional que acho que nunca aconteceu na história recente da nossa república. É uma coisa inédita, na medida em que os valores que foram retirados das contas únicas das universidades são inviabilizantes do ponto de vista do seu funcionamento. Não importa a retórica que se use, as fake news que se coloque, isso é um fato. Restaurantes universitários vão começar a parar, contratos de serviços essenciais vão deixar de ser pagos. Vai começar primeiro como uma precarização e depois com o fechamento de portas.

De outro lado, a gente precisar furar essa bolha, e hoje a comunicação nos dá tremendos desafios novos. Existe essa comunicação nas redes sociais, que é uma comunicação que, ao mesmo tempo é difusa, mas também é muito articulada por algum lado. Eu digo articulada porque não tenho dúvida que existe, não de agora, já há algum tempo, uma articulação muito profissional no sentido de detratar, caricaturizar e difamar as universidades. As universidades vêm sendo alvo dessa campanha que busca nos colocar como instituições dispendiosas, corruptas e bagunceiras, esquecendo completamente todo o resto. Todo o papel formativo que nós temos, de inclusão social, todo o papel de formação de professores para os outros níveis de ensino, na formação dos melhores quadros profissionais, todo o papel, que é praticamente hegemônico no País como universidade pública, na produção da ciência, da tecnologia e da inovação. É surreal que instituições com essa centralidade, com essa importância, como são efetivamente as universidades públicas brasileiras, sejam, para parte da opinião pública, exatamente o oposto daquilo que elas deveriam estar sendo lidas e consideradas. A universidade tem que fazer a sua parte, não é suficiente, mas a universidade tem que fazer a sua parte. Quem sabe essa crise seja efetivamente um bom pretexto para que as universidades se apercebam da necessidade urgente, em tempos de guerra ou de paz, de crise ou não, de fazer uma comunicação permanente dos milagres cotidianos que nós fazemos. A universidade é um lugar de milagres cotidianos.

Sul21 – Com as redes sociais, é até mais fácil para as universidades divulgarem o seu trabalho, não precisa os reitores irem a rádios e TVs para defendê-las. Ao mesmo tempo, há esse esforço coordenado que é muito maior que a capacidade das universidades. Como é que se lida com essa máquina de divulgação de fake news que atinge milhões de pessoas?

Ricardo: É por isso que eu digo que não é uma coisa espontânea. É uma coisa muito bem coordenada. Eu não sou especialistas em comunicação, mas, na minha experiência como reitor, tendo que lidar com tudo isso, acho que os frontes que temos que agir são muitos. Acho que os meios de comunicação das universidades são importantes. A minha universidade tem uma rádio, uma TV, redes sociais que atingem sobretudo a comunidade interna. Elas são eficazes, são importantes, mas não são suficientes. A comunicação nas redes sociais funciona em nichos. Nós temos que sair da bolha. Acho que sensibilizar os outros meios de comunicação é estratégico. Como é estratégico e importante que os membros da comunidade interna atuem nas outras bolhas. Os membros da nossa comunidade tem que ser soldados dentro dessa batalha da comunicação. Eu brinco com o pessoal da minha comunidade dizendo: ‘Vocês voltem, por favor, para aqueles grupos de WhatsApp dos quais vocês saíram no ano passado. Aquele grupo da família, do condomínio. E respondam às fake news. Tomem um Estomazil e respondam às fake news. Essa qualidade desse momento da comunicação que é impressionante, para uma boa parcela da sociedade, às vezes um meme que se recebe no WhatsApp, um vídeo falando uma bobagem, são tomados como dogma, como verdade absoluta. A gente precisa aprender a desconstruir isso. Por outro lado, olhando do ponto de vista macro, eu percebo que existe uma parcela da sociedade que não quer ser convencida. A gente está vivendo um momento de muita polarização, de carência de diálogo e quando você não quer dialogar, não adianta tentar. Quando a pessoa não está disposta a ouvir, não adianta você falar. Mas eu acho que existe um estrato intermediário na sociedade que precisa ter mais acesso a informação sobre as universidades e saber o quanto nós somos centrais para o Brasil.


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