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26 de maio de 2019
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20:15

Gerações se encontram na Universidade: UFRGS oferece atividades gratuitas para pessoas idosas

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Sul 21
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O Clube de Leitura é uma das diversas atividades gratuitas oferecidas pelo projeto UNAPI, da UFRGS. Foto: Carol Ferraz/Sul21

Annie Castro

A funcionária pública aposentada Ione Regina de Lima de Silva, de 75 anos, estava buscando por um espaço para analisar os livros que costuma ler. Por recomendação de sua filha, descobriu um clube de leitura voltado para pessoas idosas. No fim da tarde da última quarta-feira (22), Ione e outras nove mulheres reuniram-se na sala Limoeiro, no Centro Cultural da UFRGS, para debater três livros que tinham o tema mulheres como fio condutor de suas narrativas.

O Clube de Leitura acontece mensalmente, tendo sempre uma temática principal – mulheres era o tema desta edição. A atividade é promovida pelo Universidade Aberta para Pessoas Idosas (Unapi), um projeto de extensão da pró-reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ione, que participava pela primeira vez do clube, afirmou ter encontrado ali um espaço de acolhimento. “Eu não tinha lido nenhum dos livros, porque não tive tempo, já que me inscrevi no Unapi agora na segunda-feira. Só abri o computador para olhar a sinopse de cada um, mas eu gostei muito daqui, me senti à vontade e acolhida”, conta.

Em função do tema, os livros debatidos nesta edição foram ‘Amora’, de Natália Borges Polesso, ‘A mulher de pés descalços’, de Scholastique Mukasonga, e ‘Brava Serena’, de Eduardo Krause. Além da opinião das participantes sobre os livros, a atividade também tinha a presença da jornalista Luciana Thomé como debatedora, responsável por apresentar os livros e mediar o diálogo, e da estudantes Nathália Vescia Bauer, que é bolsista do Unapi.

Os livros debatidos nesta edição foram ‘Amora’, de Natália Borges Polesso, ‘A mulher de pés descalços’, de Scholastique Mukasonga, e ‘Brava Serena’, de Eduardo Krause. Foto: Carol Ferraz/Sul21

Por se tratar de uma publicação que reúne contos com temática lésbica e sobre sexualidade, ‘Amora’ foi o livro que gerou mais debate entre as participantes, criando diálogos sobre preconceito, o amor dentro das relações homoafetivas, sexualidade feminina, maternidade e questões de gênero. Enquanto uma das participantes afirmava ter achado o conteúdo do livro chocante demais e ausente de amor, outra respondeu que, às vezes, determinado grupo “choca a sociedade para ser aceito” e que “a mulher sempre teve que se impor para conseguir ser aceita em tudo”.

Para a funcionária pública aposentada Neiva Lalis, de 62 anos, os três livros escolhidos para a edição funcionaram como “três coisas diferentes para virar nosso olhar para algo que a gente não costuma ver no nosso dia a dia”. Neiva também participava pela primeira do Clube de Leitura, porém, há cerca de dois anos ela participa de outras atividades gratuitas ofertadas pelo Unapi, como o curso de Saúde e Harmonia com a Natureza e o de História da Música.

O Unapi

Desde 1993 a UFRGS possui um projeto de extensão voltado para pessoas idosas, o Universidade para a Terceira Idade (Uniti). Porém, em 2017, o projeto passou por mudanças estruturais para se adequar às normas do programa de extensão da Universidade, passando a se chamar Unapi. “O Uniti foi um dos primeiros projetos de universidade para terceira idade que foram criadas no país. Em 2017, nós assumimos a coordenação do projeto e verificamos que era necessário uma série de modificações”, explica a coordenadora da Unapi Adriane Texeira, que também é professora do curso de Fonoaudiologia da UFRGS. Ela conta que a mudança da nomenclatura do projeto se deu em função de uma determinação do agora extinto Ministério dos Direitos Humanos, feita em 2017, que pedia que não fosse mais usado o termo terceira idade.

De acordo com Adriane, até 2019 o projeto era vinculado ao Instituto de Psicologia da Universidade. “Agora ele foi institucionalizado, virando um programa vinculado à pró-reitoria de extensão, que tem como objetivo a educação continuada e a socialização de pessoas idosas”, explica Adriane. A também professora de Fonoaudiologia e coordenadora adjunta do Unapi, Maira Olchik, complementa que a reestruturação do projeto também foi feita pensando nas questões da educação continuada e da educação gerontológica. Em função disso, além de cursos, oficinas, clube de leitura, palestras semanais e mostras de cinema, neste semestre o projeto está ofertando para pessoas idosas vagas dentro de quatro disciplinas da graduação da UFRGS. De acordo com as coordenadora, a atividade se trata de um projeto piloto, que, se funcionar, será expandida para mais cursos nos próximos semestres.

A professora Adriane Texeira é coordenadora do projeto. Foto: Giulia Cassol/Sul21

Atualmente, o projeto atende cerca de 400 idosos. A partir dos 60 anos, qualquer pessoa pode realizar uma matrícula junto à sede da Unapi, que fica no mezanino do Salão de Atos da UFRGS, no Campus Centro, e participar das atividades. Segundo Maira, atualmente, a participante mais velha tem 92 anos. Devido ao projeto, o número de pessoas idosas circulando dentro dos campus da Universidade aumentou e, por isso, as coordenadoras estão realizando oficinas de capacitação sobre envelhecimento para alunos e funcionários da Universidade. “A gente quer que essas pessoas, sejam elas professores ou técnicos, saibam o que fazer quando chegar o idoso no campus”, afirma Maira.

A coordenadora adjunta também explica que o projeto tenciona que os alunos da Universidade saibam trabalhar com envelhecimento. “Poucas graduações aqui tem a disciplina obrigatória de envelhecimento. Então, uma forma de a gente ter essa formação de recursos humanos é trazer esse jovens, seja dentro das disciplinas, seja em cursos de formação ou nas capacitações. Queremos proporcionar, além da educação continuada, a questão da intergeracionalidade, porque todo mundo aprende, o jovem aprende e o idoso também”, diz Maira.

A professora Maira Olchik atua como coordenadora adjunta do Unapi. Foto: Giulia Cassol/Sul21

De acordo com Adriane, também não há grau de instrução mínimo para participar do Unapi. “Nós temos pessoas que têm graduação, mestrado e doutorado, mas nós também temos pessoas que só tem o ensino fundamental incompleto. [O projeto] é uma possibilidade para que essas pessoas possam vir e desfrutar de todas as oportunidades dentro da Universidade”, diz. Ela ressalta que, apesar de a maioria das atividades não ter pré-requisitos, algumas, como a caminhada, podem exigir um atestado médico.

Na maior parte dos dias, acontecem atividades simultâneas do Unapi dentro dos campus da universidade. Algumas atividades, como oficinas, acontecem semanalmente, já outras são quinzenais, como palestras, ou mensais, como o Clube de Leitura. Maira explica que na hora em que é realizada a matrícula, a pessoa idosa pode escolher qual atividade quer participar, com base em sua disponibilidade de tempo e interesse. “Tem gente que quer passar o dia todo na Universidade e tem gente que quer vir só nas palestras quinzenais. Eles escolhem”, afirma.

É possível conferir todas as atividades oferecidas pelo projeto na página da Unapi no Facebook.

Confira mais fotos do Clube de Leitura:

Foto: Carol Ferraz/Sul21
Foto: Carol Ferraz/Sul21
Foto: Carol Ferraz/Sul21
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