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25 de maio de 2019
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12:10

Cinemateca Capitólio tem sessão especial para população de rua na segunda (27)

Por
Luís Gomes
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Filme Boca de Rua - Vozes de uma gente invisível Crédito: Divulgação
Filme’ Boca de Rua – Vozes de uma Gente Invisível’ é um dos curtas que será exibido na Cinemateca Capitólio | Crédito: Divulgação

Luís Eduardo Gomes

A Cinemateca Capitólio realiza na segunda (27) uma sessão especial de cinema voltada para a população em situação de rua de Porto Alegre. A partir das 14h, serão exibidos dois curta-metragens sobre a temática, “Boca de Rua – Vozes de uma Gente Invisível”, do diretor Marcelo Andrighetti, que aborda a dinâmica de produção do jornal feito por moradores de rua da Capital, e “A Vida é Sempre um Mistério”, de Calvin Da Cas Furtado, que retrata quatro integrantes do Movimento Nacional da População de Rua do Rio Grande do Sul (MNPR-RS) durante a passagem deles pelo 4º Congresso de Organização e Fortalecimento da entidade, realizado em maio de 2018.

Calvin Furtado, que é antropólogo social com formação também em jornalismo, conta que teve o primeiro contato com a população em situação de rua quando participou da produção do filme sobre o Boca de Rua, em 2013. Posteriormente, realizou um mestrado sobre as políticas públicas desenvolvidas para a área, participou do censo realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para calcular a população de pessoas que vivem nestas condições em Porto Alegre, em 2016. Ele também desenvolve o tema atualmente no doutorado.

“A Vida é Sempre um Mistério” é o resultado do acompanhamento que Furtado fez do congresso do MNPR, realizado em Cidreira, no litoral do RS. Na ocasião, ele conversou com quatro participantes oriundos de cidades como Salvador (BA), Natal (RN), São Carlos (SP) e Osasco (SP). “As histórias que estão retratadas na narrativa do filme são vivências, experiencias que dialogam diretamente com a situação ou com a trajetória de rua. São relatos que vão falar de questões como suicídio, liberdade, sexualidade, loucura, equilíbrio, tratamento médico, que muitas vezes conformam as experiências desses grupos”, diz.

Furtado conta que optou por não apresentar os relatos no formato tradicional de entrevista direta, em que o personagem aparece falando, mas captou as entrevistas em áudio e as sobrepôs com imagens filmadas durante o congresso e também na praia de Cidreira. “Entre esses personagens tem um malabarista, outro que é capoeirista. Nós fizemos uma produção mais elaborada, explorando a paisagem, o ambiente, eles em ação, com os malabares ou jogando capoeira, numa ideia mais contemplativa”, diz.

Filme A vida é sempre um mistério Crédito: Divulgação
Um dos personagens do filme ‘A Vida é Sempre um Mistério’ | Crédito: Divulgação

Trabalhadora da rede municipal de assistência social e apoiadora do MNPR, Veridiana Freitas avalia que o filme ajuda a desmistificar preconceitos a respeito dos moradores de rua. “Ele mostra o potencial que essa população traz na sua vivência, na sua sobrevivência, o quanto de potência tem essa outra forma de se colocar no mundo. Então, é importantíssimo mesmo”, diz.

Para o diretor, a sessão no Capitólio é uma forma de devolver as imagens ao movimento social que possibilitou que o filme fosse realizado. A sessão deste sábado é voltada para pessoas em situação de rua, trabalhadores da assistência social, estudantes e apoiadores do movimento. Após a exibição dos filmes, serão feitas falas de representantes do movimento. O curta será exibido pela primeira vez na sessão. Posteriormente vai percorrer o circuito de festivais e de mostras de curta-metragens. Em julho, será exibido na Mostra de Vídeos da XIII Reunião de Antropologia do Mercosul, que ocorre em Porto Alegre.

Resposta à Prefeitura

Furtado diz que a realização do evento também pode ser considerada como uma resposta simbólica à fala da secretária municipal Comandante Nádia, que, em entrevista à GaúchaZH no início do mês, disse que não era possível admitir uma “cidade, uma praça que esteja cheia de morador de rua”.

“A gente ouve muitas notícias e comentários criminalizando essa população. A resposta a esse tipo de comentário às vezes não é nem com palavras, mas com atitudes. Simbolicamente, vamos ocupar um espaço de elite, que é uma sala de cinema, e oferecer a essa população a possibilidade de ver pessoas com trajetórias de vida parecidas”, diz Furtado.

Veridiana concorda que a sessão é uma espécie de resposta à secretária. Ela destaca que pessoas que moram nos arredores do Capitólio e vivem constantemente sob a ameaça de terem seus pertences recolhidos pela Brigada Militar estão entre os convidados para o evento.

“Lugar de morador de rua é em todo o lugar. Eles têm direito ao uso da cidade e a politicas públicas. Se não quer ver a população de rua nas calçadas, ofereça políticas de moradia, políticas efetivas”, diz Veridiana. “Mas o que a gente está vendo é a entrega da assistência social à iniciativa privada. Se houvesse realmente preocupação, tanto com as pessoas atendidas quanto com os trabalhadores que constroem há anos a rede municipal de assistência social, não seria feito dessa forma, passando de trator pela história que já foi construída. Nós já perdemos a contra de quantas pessoas tiramos da rua, mas isso não aparece, isso não é valorizado pela Prefeitura”.

Filme A vida é sempre um mistério Crédito: Divulgação
Filme ‘A vida é Sempre um Mistério’ foi filmado em Cidreira | Crédito: Divulgação

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