Geral
|
24 de abril de 2019
|
20:20

Deputados criam CPI para atacar autonomia das universidades públicas de São Paulo

Por
Sul 21
[email protected]
Deputados criam CPI para atacar autonomia das universidades públicas de São Paulo
Deputados criam CPI para atacar autonomia das universidades públicas de São Paulo
Professor da Unicamp Wagner Romão define como “grave” a abertura de CPI para investigar universidades. Foto: Divulgação/Alesp

Da RBA

Vice-líder do governo Doria na Assembleia Legislativa de São Paulo, o deputado Wellington Moura (PRB) é o autor da proposta de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que pretende fazer uma ofensiva contra as universidades públicas do estado. O objeto divulgado no Diário Oficial é vago: “Investigar irregularidades na gestão das universidades públicas”. Segundo o deputado, o objetivo é apurar gastos com professores e funcionários e o “aparelhamento da esquerda” na Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual Paulista (Unesp).

“Isso é muito grave. Primeiro, porque se trata de uma absoluta inverdade, de uma suposição sem nenhuma comprovação, sem nenhuma base científica. A universidade é o lugar do pluralismo de ideias e acho que é um aspecto muito lamentável se a CPI enveredar por aí”, afirma Wagner Romão, cientista político e professor da Unicamp, em entrevista à repórter Ana Carrara, da Rádio Brasil Atual.

Para ele, as justificativas de criação da CPI não são claras e tampouco tem base na realidade. Wagner Romão destaca que, desde a campanha eleitoral de 2018 tem sido levantado na imprensa, de modo oportunista, o tema do suposto “esquerdismo” no meio universitário. Reconhecendo ser um olhar “otimista”, Romão pondera que a CPI pode recolocar a universidade no debate público. “As universidades têm muito a mostrar. Após a autonomia, aumentaram em grande potência as publicações em revistas científicas.”

Para a presidenta da Associação Nacional de Pós-Graduandos, Flávia Calé, a proposta de criação da CPI não é um ato isolado e faz parte de sucessivos ataques contra as universidades públicas que têm acontecido, em todo o país, nos últimos anos. “A gente avalia que haja uma certa ofensiva aos lugares promotores do pensamento crítico. É até um raciocínio anticientífico que existe no Brasil e que tem atacado as universidades de muitos modos, desde a restrição ao financiamento, e passam também por uma perseguição.”

Ela pondera que o estado de São Paulo concentra boa parte da pesquisa científica do Brasil, sendo somente a USP responsável por cerca de 30% da pesquisa nacional. Desde a autonomia universitária, garantida na Constituição Federal, a USP aumentou em mais de 1.100% o indicador de produção científica de publicações de trabalhos em revistas conceituadas mundialmente.

A CPI pretende também discutir a mudança no modo como é apresentada a lista tríplice para a escolha dos reitores, atualmente feita pela comunidade acadêmica, e a transferência de recursos do Estado, ambas garantidas pelo princípio da autonomia universitária.

“Alguns querem que as indicações não sejam da comunidade acadêmica e que possam ser do parlamento ou do Executivo. Isso, sem dúvida, afeta a liberdade do pensamento crítico, a liberdade de cátedra”, afirma Flávia.

Na noite desta terça-feira (23), a deputada Beth Sahão (PT) ingressou com pedido de tutela de urgência no Tribunal de Justiça (TJ-SP) para suspender o trâmite da instalação da CPI, sob a alegação de que o pedido não preenche os requisitos previstos na Constituição estadual e no regimento da Assembleia.

Ouça a reportagem na íntegra aqui.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora