Geral
|
15 de março de 2019
|
16:54

Nota técnica da Anvisa sobre glifosato ignora riscos à saúde da população

Por
Sul 21
[email protected]
Nota técnica da Anvisa sobre glifosato ignora riscos à saúde da população
Nota técnica da Anvisa sobre glifosato ignora riscos à saúde da população
Anvisa faz ainda outras duas conclusões que, na análise de Larissa, são “levianas” para constar em um documento público
(Arquivo EBC)

Rede Brasil Atual

nota técnica divulgada pela Anvisa sobre ouso de glifosato no Brasil, agrotóxico mais utilizado no país, “não é séria”, segundo análise da pesquisadora do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), Larissa Mies Bombardi, autora do Atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia.

A avaliação da Anvisa chegou a três conclusões centrais: o glifosato não se enquadra em critérios proibitivos – ou seja, a substância não seria mutagênica, carcinogênica e não afetaria a reprodução –, o risco é maior para o trabalhador rural ou para quem circula em áreas de lavoura e o risco de sua utilização estaria abaixo dos limites aceitáveis.

Desde a abertura do processo de consulta pública da Anvisa sobre o glifosato, a pesquisadora e especialista tem alertado em sua coluna na Rádio Brasil Atual sobre a manipulação de dados quanto ao uso desse tipo de substância.

Em entrevista à jornalista Marilu Cabañas nesta quinta-feira (14), Larissa destacou que as conclusões do órgão se chocam com estudos sobre os reais malefícios do agrotóxico à saúde. “Penso que é um tremendo despautério afirmar que não há esses riscos”, afirma a pesquisadora. “Esse trabalho da Anvisa desqualifica o Iarc (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer contratada pela Organização Mundial da Saúde) que admite que o glifosato é cancerígeno para os humanos”, ressalta Larissa.

A pesquisadora também fala a respeito da conclusão de que o risco é mais elevado para quem trabalha diretamente com o glifosato. “Não é preciso ser especialista para saber que o risco é maior para quem está lidando com essa substância. O que tem por trás dessa conclusão é uma estratégia clara de tentar inverter a ordem das coisas e culpabilizar a vítima”, pontua, fazendo referência a trabalhadores intoxicados pelo veneno.

Larissa critica ainda a terceira conclusão da nota, de que o uso do glifosato se encontra abaixo do “limite aceitável”. “A expressão ‘limite aceitável’ me assustou muito porque está presente no PL do Veneno. Não há a explicitação daquilo que é aceitável e do que não é, e a gente sabe que os limites de glifosato tanto na água como nos alimentos são estratosféricos no Brasil”, adverte.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora