Giovana Fleck
499 é o número de apartamentos que abrigam os cerca de 1.500 moradores do Condomínio Residencial Princesa Isabel. “O número 500 poderia ser a nossa biblioteca”, brinca Maria Tiburi, moradora, subsíndica e professora de biologia de uma escola municipal de Viamão. Maria é uma das 11 mulheres que auxiliam na administração do condomínio. “Só mulheres. E não foi algo que combinamos, são as mulheres que se empenham em transformar esse lugar”, afirma Isabela Camini, vice-síndica e professora universitária na área de Educação.
Com localização privilegiada, o Condomínio Residencial Princesa Isabel, n. 500, está próximo de paradas de ônibus, além de se situar há poucos metros de acessos das principais universidades da cidade. Assim, segundo as moradores, atrai muitos jovens e estudantes que alugam apartamentos por períodos delimitados. Há, também, quem procure o condomínio por conta da proximidade com o Instituto de Cardiologia e com o Hospital Ernesto Dorneles. “Com frequência vemos crianças em tratamento médico hospedadas aqui temporariamente, a espera de um transplante sem data de doação”, conta Isabela.
BiblioGELOteca
Com mais de 400 apartamentos, o condomínio é quase uma cidade. Todos os moradores têm um mapa na cabeça para identificar os blocos, os salões, os bicicletários, as entradas e as saídas. Ao entrar pela avenida Princesa Isabel, dobrando à esquerda, uma geladeira preta com pinturas coloridas e duas travas ao lado da porta ocupa o espaço ao lado de um dos canteiros.
Dentro dela, estão algumas dezenas de livros que vieram de todos os cantos do condomínio. “Começamos o projeto com 50 livros que estavam esquecidos na administração”, conta Isabela. “Hoje, já são mais de mil distribuídos pelas geladeiras e os apartamentos.”
Segundo ela, a circulação é intensa. Os bancos que costumavam ficar vazios em determinados horários do dia passaram a virar ponto de encontro fixo. A geladeira preta divide os livros com outras duas – todas doadas por moradores. A ideia, segundo Isabela, surgiu de uma das reuniões do grupo de mulheres do condomínio. Uma delas lembrou de ter visto em paradas de ônibus de Santa Maria geladeiras em desuso funcionando como estantes de livros. “Pensamos que, por ser algo que eleva o conhecimento e aproxima as pessoas, teria tudo para funcionar no Princesa Isabel.”
As mulheres se organizaram para conseguir doações. Na tentativa de explicar o projeto aos moradores, criaram o nome ‘BiblioGELOteca’. A adesão foi instantânea: DVDs e revistas nunca estavam no mesmo lugar, assim como os romances e livros de auto-ajuda. “Se tornou comum vermos idosos que, muitas vezes, ficavam reclusos e sozinhos em casa descerem e procurarem algum título”, conta a organizadora do projeto.
Fora a inserção das geladeiras, as mulheres organizaram grupos de leitura entre as crianças. Assim, eles tiveram espaço para falar sobre o que têm lido e descobrir novas histórias.
Cila Stolzenberg trabalhou a vida toda como bancária e comerciante. Já aposentada, ela conta ter escolhido o Princesa Isabel para morar há cinco anos. “Sou um bebê aqui dentro”, brinca. Assim, passou a se dedicar ao grupo de mulheres. Junto com suas companheiras, desenvolve oficinas de jardinagem e artesanato, além de ser uma das subsíndicas. “Vemos as pessoas usufruindo, as crianças interagindo, os idosos fora de casa… É um trabalho que muda a comunidade.” “Elevar o conhecimento das pessoas as aproxima umas das outras”, resume Isabela.
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