Geral
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30 de janeiro de 2019
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13:54

Vazamento em Brumadinho deve atingir a bacia do rio São Francisco em duas semanas

Por
Sul 21
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No dia 15 de fevereiro, uma das bacias mais importantes para a agricultura brasileira será contaminada por rejeitos da extração de minério / Valter Campanato/EBC

Juca Guimarães
Brasil de Fato

A lama tóxica que vazou da barragem de rejeitos da extração de minério de ferro, em Brumadinho (MG), chegará à região de Três Marias, onde se encontrará com a bacia do rio São Francisco, por volta do dia 15 de fevereiro. Essa é a previsão do Serviço Geológico Brasileiro (CPRM), segundo o qual os rejeitos da extração de minério de ferro da mineradora Vale terão percorrido cerca de 300 km pela bacia do rio Paraopeba em duas semanas.

A bacia do rio São Francisco abrange 505 municípios de seis estados, onde vivem 18 milhões de brasileiros, de acordo com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

Do ponto de vista econômico, o rio conhecido como “Velho Chico” contribui para geração de energia hidrelétrica e para a fruticultura irrigada – principalmente no polo Juazeiro–Petrolina, entre Bahia e Pernambuco, onde se localiza a maior produção nacional de manga e uva para exportação.

Contexto

A qualidade da água do São Francisco, que é navegável e poderia matar a sede de milhares de nordestinos nos próximos anos, está ameaçada pelo rompimento da barragem da Mina do Feijão.

O vazamento no empreendimento da Vale aconteceu no dia 25 de janeiro, e os rejeitos tóxicos atingiram os municípios mineiros de Juatuba, São José da Varginha e Brumadinho.

“O Brasil não pode aceitar que desastres como esse aconteçam com tanta frequência. Os danos humanos e socioambientais são irreparáveis e apontam para uma urgência evidente de que é preciso repensar os modelos de desenvolvimento que desconsideram o respeito à natureza, os parâmetros de sustentabilidade. O momento é de solidariedade às famílias das vítimas e aos atingidos pelo rompimento da barragem, mas não podemos deixar de falar que a gestão dos recursos hídricos no Brasil está sucateada”, lamenta Anivaldo Miranda, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do rio São Francisco (CBHSF).

Ao todo, a bacia tem uma extensão de quase 640 mil quilômetros quadrados, entre Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe.

Além da importância na economia, por conta da produção agrícola e de energia, a bacia do rio São Francisco, com 170 afluentes, garante a sobrevivência da fauna e flora da região, que compreende três biomas – Mata Atlântica, cerrado e caatinga.

Alerta

“A tragédia de Mariana foi em 2015. Em fevereiro de 2018, houve um grande vazamento de rejeitos de bauxita em Barcarena, no Pará, e agora em Brumadinho. O CBHSF tem se empenhado na discussão sobre as questões da mineração e, no ano passado, se reuniu com representantes de outros comitês de bacias hidrográficas de todo o país para discutir o impacto de grandes tragédias ambientais nos recursos hídricos. Acredito que só vamos avançar quando envolvermos a população e os poderes públicos em todas as esferas na discussão desse problema”, acrescenta Miranda.

A massa de rejeitos tóxicos avança pelo rio Paraopeba, em Minas Gerais, com uma velocidade média de 1 km/h. Segundo o presidente do Comitê, as dimensões do impacto na bacia do rio São Francisco vão depender das chuvas. No entanto, “a morte do Rio Paraopeba é um acidente de proporções planetárias”.

Técnicos da Agência Nacional das Águas (ANA) estiveram nesta terça-feira em Juatuba para acompanhar o percurso da lama. A Vale informou que tentará conter o avanço dos rejeitos para impedir que a captação de água em Pará de Minas, localizada a 85 km da capital mineira, seja prejudica. Ao mesmo tempo, a empresa tenta propor soluções emergenciais para evitar que os danos se espalhem para além de Minas Gerais nos próximos dias.


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