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26 de janeiro de 2019
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12:07

Girls Rock Camp: “garota, use seu poder, seja o que você quiser”

Por
Sul 21
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O Girls Rock Camp reúne meninas de 7 a 17 anos. Foto: Giovana Fleck/Sul21

Annie Castro

Frases como “mostra o teu potencial”, “você pode tudo”, “nós somos tudo que quisermos ser”, escritas nas paredes do auditório, mostram o clima do Girls Rock Camp, acampamento diurno de música voltado a meninas com idades entre 7 e 17, que aconteceu na última semana em Porto Alegre. Ao redor do espaço, elas almoçam, correm, desenham, dançam e conversam. Logo elas começam a formar um semicírculo em volta dos instrumentos que estão no meio do auditório. Estava iniciando um show surpresa, organizado pelas voluntárias do evento.

Ao longo da apresentação, as meninas acompanhavam animadas enquanto os nomes das integrantes das bandas iam sendo sorteados. Era tarefa das campistas escolher e o tema que seria abordado pelas músicas. As voluntárias criavam na hora letras sobre o assunto e realizavam o show. As meninas eram a platéia, um momento raro no Camp, já que elas que são responsáveis por criar as melodias, compor as letras e até mesmo escolher o nome e o logo das bandas que fazem parte.

Tudo no evento gira em torno da ideia do faça você mesmo. Ou seja, as meninas são incentivadas o tempo todo a expressarem livremente sua criatividade, pensamentos e vontades. “Não queremos que elas necessariamente se tornem musicistas. A ideia é elas estarem em um ambiente que normalmente não é delas. Queremos que elas gostem de música, mas a ideia é a autoconfiança, elas acreditarem que podem fazer uma coisa que acharam que nunca poderiam fazer. Poderia ser um camp de skate, de futebol. A gente sabe fazer música e conheceu esse projeto”, conta Julia Barth, que participa da coordenação geral do Camp desde a primeira edição.

As meninas são responsáveis por todo o processo criativo da sua banda. Foto: Giovana Fleck/Sul21

O Girls Rock Camp é um projeto mundial. O de Porto Alegre é inspirado no modelo do Girls Rock Camp Brasil, que acontece em Sorocaba, e funciona por meio de doações, patrocínios e eventos beneficentes. Durante a última semana, o evento recebeu 60 campistas, sendo 21 delas bolsistas, teve aulas de seis tipos de instrumentos e mais de dez oficinas com diversas temáticas. Composição, defesa pessoal, história da mulher na música e produção de zine foram algumas delas.

Mais de 45 voluntárias participaram desta edição do Camp. Elas se dividiram entre as responsáveis pelas aulas, pela produção, pelas oficinas, com os cuidados com os equipamentos e sendo empresárias ou produtoras das bandas, que são formadas por seis campistas – duas guitarristas, uma baixista, uma baterista, uma no teclado e uma na voz.

Segundo Julia, além de promover a autoaceitação, o Camp também busca diminuir a competitividade entre o gênero feminino: “é muito raro banda só de mulheres. Queremos muito que isso mude e que tenha muito mais mulher, sem competitividade, cooperando uma com as outras, crescendo juntas e se ajudando”.

Essas ideias centrais também influenciam as voluntárias adultas. O relato é de casos em que elas chegaram a sair das oficinas emocionadas e chorando, pois queriam que alguém tivesse incentivado elas dessa maneira quando eram jovens. “A gente foi se libertar com 18, 30 anos, e pode fazer elas se libertarem antes de começarem a criar todas essas repressões”, diz Julia.

A noção de autoconfiança e respeito às mulheres está presente em muitas das campistas antes mesmo do início do evento. Bruna Petry Anele, voluntária do evento, que atua como empresária de uma das bandas, conta que o respeito às mulheres é algo muito forte no discurso nas meninas: “Elas entram aqui num modo de empoderamento total, sem a gente influenciar nada. Elas chegam aqui falando ‘as mulheres tem que ser respeitadas’. Só pelo ambiente elas já se sentem sem preconceito pra fazer o que elas quiserem”.

A voluntária Bruna atua como empresária de uma das bandas do Camp. Foto: Giovana Fleck/Sul21

Enquanto empresária da banda, Bruna é responsável por cuidar do bem estar das meninas, quase como uma babá que também resolve os conflitos que possam surgir durante a escolha do nome da banda, da letra da música, da cor da camiseta, entre outras coisas. O único momento em que a empresária não está com elas é quando as meninas estão nas aulas de instrução sobre os instrumentos. Bruna faz par com uma produtora, que é responsável por cuidar da música da banda, auxiliando as meninas na criação da melodia e da letra.

“Nós incentivamos elas a fazerem composições próprias, a gente não trabalha com músicas já prontas de outras pessoas. Elas criam a partir do que elas conseguem desenvolver musicalmente, com base no que elas quiserem falar, elas que decidem”, conta Julia.

Nas paredes das salas das aulas, trechos das músicas mostram a consciência das meninas sobre assuntos como feminismo e lugar da mulher na sociedade, por exemplo. “Disseram que você não pode agir assim/Disseram que você não anda como uma moça / Mas garota, vou lhe dizer / Use seu poder / Seja o que você quiser / Escute sua voz interior / Liberte sua força, e seu valor”, é uma das letras escritas na parede da sala.

Neste sábado (26), todas as bandas do Girls Rock Camp farão uma apresentação às 17h, no Bar Ocidente, onde mostrarão para o público as músicas produzidas durante o evento, com entrada que custa R$ 15,00. Segundo Julia, o momento do show é sempre algo que emociona todos que acompanharam o processo e também os que verão somente a versão final do trabalho. “É incrível como mesmo sendo muito simples o que é desenvolvido, super funciona no palco. As letras têm uma maturidade tão incrível, que nem elas conseguem ainda enxergar o tamanho disso”, afirma Julia.

Confira mais fotos:

Foto: Giovana Fleck/Sul21
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