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30 de janeiro de 2019
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18:24

Após confronto com a BM por falta de água, moradores da Lomba do Pinheiro vão à Justiça contra Prefeitura

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Sul 21
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Lideranças comunitárias se reuniram na terça-feira (29). Foto: Isnar Borges/Divulgação

Giovana Fleck

Historicamente, o início de janeiro registra as temperaturas mais altas do ano em Porto Alegre. Essa condição é fruto da atuação dos ventos, predominantemente do Norte, que trazem para toda a região Sul do país o ar quente e úmido. “Para nós, a situação é mil vezes pior. Vivemos esse calor sem poder contar com banho em casa, sem poder lavar nossas roupas…”, afirma Isnar Borges, líder comunitário da Vila Herdeiros, na Lomba do Pinheiro.

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Desde o início de 2019, tanto a Herdeiros quanto outras comunidades distribuídas ao longo da Lomba têm lidado com o abastecimento de água inconstante. “Só condomínios com caixas d’água maiores conseguem se manter bem. A situação piora conforme subimos o morro, quem mora mais para cima não vê água na torneira há dias. Mas, para a maioria, acabam vindo pequenas quantidades durante a noite. Durante o dia, jamais”, relata.

A Lomba do Pinheiro é uma das cinco regiões de Porto Alegre que apresentam Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) menor do que a média nacional (0.759). Segundo dados do último censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as comunidades da Lomba representam IDH de 0.683. “Sem água, tudo piora. A situação está insustentável”, afirma Borges.

O Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) afirma que a origem do problema está concentrada na Estação de Tratamento de Água Belém Novo, na Zona Sul, que chegou ao limite devido ao elevado consumo. Segundo o Dmae, a falta de recursos fez com que a autarquia não pudesse realizar reparos identificados já em 2012. Para solucionar definitivamente o problema, é necessário construir uma nova estação que abasteça, especificamente, a Lomba do Pinheiro.

Por conta da falta de perspectiva de solução imediata, as lideranças comunitárias realizaram uma reunião, na tarde da terça-feira (29). Ali, definiram que todas as famílias afetadas entrarão com processos na Justiça pedindo que as contas de água da região sejam suspensas até a resolução do problema. Segundo Borges, os moradores não pagarão a mensalidade no mês de janeiro. Além disso, planejam articular uma visita do Ministério Público Estadual e da Defensoria Pública à região na próxima semana.

Ao longo do dia, três manifestações ocorreram por conta da falta de água. Mobilizadas pelos próprios moradores, que sentiram a necessidade de mostrar sua indignação com o descaso da Prefeitura e do Dmae, os protestos fecharam ruas nas proximidades da Estrada São Francisco.

Uma das manifestações terminou por volta da meia noite, com ação da Brigada Militar. Em vídeo divulgado nas redes sociais, os policiais usam bombas de gás lacrimogêneo contra os poucos moradores que restaram na rua. “Sempre tem gente que se machuca, dessa vez não foi diferente”, diz Borges. Procurada pela reportagem, a assessoria da Brigada Militar não retornou o contato para esclarecer detalhes da ação que resultou em confronto.

Uma nova manifestação deverá ocorrer no dia 11 de fevereiro, se a situação não for normalizada. “Sairemos em carreata até o Dmae e a Prefeitura. Se nada acontecer, se a água não voltar, teremos que nos mobilizar de um jeito muito mais forte”, afirma a liderança.

 


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