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15 de novembro de 2018
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15:37

Lilián Celiberti conversa sobre Sequestro dos Uruguaios com crianças do projeto Boquinha

Por
Luís Gomes
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Lilian Celiberti conversou com crianças do projeto Boquinha | Foto: Flávio Damiani

Flávio Damiani

Quarenta anos depois do sequestro do casal de uruguaios e seus filhos na Rua Botafogo em Porto Alegre, um grupo de crianças do projeto social Boquinha se reúne em uma roda de conversa para falar da Operação Condor. Esta conversa, mediada pela coordenadora do Boquinha, Margareth Rossal, foi gravada num equipamento criado por outro projeto social do Polo Marista de Formação Tecnológica chamado Rádio Maleta, criada pelo técnico em informática Juliano Nascimento. Os dois projetos unidos resultaram na Rádio Boquinha Livre.

Sequestro dos Uruguaios, é como ficou conhecido o episódio em que militares uruguaios, com a colaboração de militares brasileiros, em Porto Alegre, sequestraram de forma clandestina dois ativistas uruguaios, Lilián Celiberti e Universindo Díaz, e duas crianças, Francesca de três e Camilo de sete anos, em solo brasileiro. A operação é um exemplo de cooperações entre os serviços secretos das ditaduras do Cone Sul, sob o nome de Operação Condor. Uma ligação anônima alerta dois jornalistas brasileiros, Luiz Cláudio Cunha e J.B. Scalco, da revista Veja, que descobrem em flagrante a operação. Ao cobrirem o caso, as reportagens geram a indignação da opinião pública mundial e obrigam a ditadura uruguaia a manter vivos o casal sequestrado, e devolvendo as crianças para os avós.

O viés das crianças durante a entrevista foi o de saber sobre os filhos do casal que foram separados dos pais no sequestro e, posteriormente, durante período deles na prisão. Lilián disse que Camilo sofreu um trauma profundo que se estendeu durante toda a sua adolescência, conseguindo superar só agora, na vida adulta. “Camilo se viu na condição de responsável pela irmã de 3 anos, mais nova do que ele”, lembrou Lilián, “não podendo ver e nem ter noticia dos pais”, disse ela. Um filho afastado da convivência também é a realidade de muitas crianças que participam de projetos sociais como o Boquinha.

Lilian Celiberti foi vítima do episódio que ficou conhecido como Sequestro dos Uruguaios | Foto: Flávio Damiani

Noutro trecho da entrevista, questionaram a exclusão social vivida pelas crianças em situação de rua. Lilián analisou que a sociedade tem o costume de tratar o pobre como bandido, considerando que a pessoa é pobre porque quer. “Apenas se vê a responsabilidade individual e não a coletiva”, ponderou. A busca por oportunidade é uma luta constante e por isso que as crianças que integram os projetos sociais procuram formas de convivência que favoreçam o em estar junto das famílias.

As crianças quiseram saber ainda como era a vida dela na prisão, descontraída ela disse que “em um ano e meio de solitária a única forma de sobrevivência era a comunicação” contando que se comunicava outra prisioneira, que ela nunca conheceu, por meio de batidas na parede. Criaram um código para se falarem “tipo um alfabeto” revelou. No final revelou que era permitido apenas um banho por semana “quando contei isso para o meu neto ele vibrou de alegria, afinal, criança odeia tomar banho” brincou.

Os 40 anos que marcaram a história de Lilián e Universindo é tema da exposição: “O sequestro dos uruguaios em Porto Alegre”, que fica aberta até o dia dois de dezembro na Sala Múltiplos Usos, 2º andar do Memorial do Rio Grande do Sul na Praça da Alfândega.


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