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22 de novembro de 2018
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21:24

Cine Esquema Novo chega à 11ª edição destacando “novas formas de existir e criar”

Por
Sul 21
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Era uma vez Brasília, filme de Adirley Queirós, é um dos integrantes da mostra competitiva | Foto: Terratreme Filmes/Divulgação

Débora Fogliatto

The Times They Are A Changin‘” (os tempos estão mudando), afirmam os curadores do Cine Esquema Novo. E é com essa premissa, tirada de uma canção de Bob Dylan, que o festival chega à sua 11ª edição, com uma programação que demonstra essa mudança tanto em termos de conteúdo quanto de formato. Grande parte das obras selecionadas, dentre longas, curtas, videoinstalações e performances, tem um cunho político ou social, muito atrelado ao momento pelo qual o país passa hoje, 15 anos após a primeira edição do festival.

“A produção selecionada para este ano evidentemente grita por socorro, sente dor, faz alertas, escancara absurdos e satiriza. Mas lentamente (até por representar um período da produção brasileira ligeiramente anterior ao auge da loucura instaurada nos corações e mentes dos brasileiros nos últimos meses) procura levar todo este caos para outro lugar”, explicam os organizadores Alisson Avila, Gustavo Spolidoro, Jaqueline Beltrame, Ramiro Azevedo.

A mostra competitiva, que conta com 39 filmes, sempre teve como característica refletir a sociedade brasileira e sua pluralidade. Indígenas, mulheres, LGBTs, pessoas com deficiência e imigrantes são alguns dos grupos que protagonizam as obras selecionadas. Mas temas como religiosidade, memória e ancestralidade também são abordados na mostra, que conta com filmes em diversos formatos, aprofundando a relação do cinema com as artes visuais.

Majur é um documentário sobre uma liderança indígena LGBT | Foto: Reprodução

Foram 875 inscrições – 666 curtas e médias-metragens, 103 longas-metragens e 106 videoinstalações, vídeo performances e performances de 24 Estados. Dos 39 selecionados, 35 serão exibidos na Cinemateca Capitólio, enquanto as quatro videoinstalações ocorrem no Instituto Goethe. Também recebe parte da programação a Ocupação Utopia e Luta, onde ocorre uma oficina.

Refletindo sobre as narrativas que apontam a necessidade de resistir nos tempos atuais, os curadores afirmam: “mais que resistir, nossa missão como um festival de Arte Audiovisual Brasileira foi cumprida: retratamos nossa existência. E independente de para onde nossa política levará nosso país, seguiremos existindo”.

A abertura do festival acontece nesta quinta-feira (22), com um coquetel a partir das 19h seguido pelo show da Reverba Trio intitulado “Por um punhado de trilhas”. Às 21h, ocorre a primeira exibição da Mostra Competitiva, o longa-metragem de animação “A Cidade dos Piratas”, de Otto Guerra.

O filme é uma das três produções gaúchas que integram a mostra, além de “Tinta Bruta” e “Música para quando as luzes se apagam”. Ambos com temáticas queer, o primeiro deles, dirigido por Filipe Matzembacher e Márcio Reolon, já foi premiado nos festivais de Berlim e do Rio de Janeiro. Tinta Bruta acompanha Pedro, que enquanto responde a um processo criminal, dentro do escuro de seu quarto dança coberto de tinta neon para milhares de estranhos que o assistem pela webcam.

Shico Menegat e Bruno Fernandes em Tinta Bruta | Foto: Divulgação

Já “Música”, o primeiro longa de Ismael Caneppele, é um filme que tem formato de documentário, mas flutua entre ficção e realidade. Uma autora, vivida pela atriz Júlia Lemmertz, chega em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul com a intenção de transformar a vida da jovem Emelyn em uma narrativa ficcional. Mas a adolescente escolhe para sua personagem o nome Bernardo, e cada vez mais passa a se identificar como tal.

Integrando a temática LGBT com a indígena, o documentário em curta-metragem “Majur”, de Rafael Irineu, conta a história da chefe de comunicação da Aldeia Poboré, de etnia Bororo, localizada no interior do Mato Grosso. A obra já foi premiada no Festival Internacional da Diversidade Sexual e de Gênero de Goiás e exibida no Festival de Gramado.

Também dentre as narrativas com protagonistas indígenas está “Entre Parentes”, de Tiago de Aragão, mostra a luta dos indígenas durante a 14ª edição do Acampamento Terra Livre, em Brasília, que ocorreu ao mesmo tempo em que, no Congresso, parlamentares articulavam uma agenda de retrocessos à esta população.  Já a videoinstalação em curta-metragem “À cura do rio”, de Mariana Fagundes, que retrata o ritual xamânico realizado pelo povo da etnia Krenak para salvar o Rio Doce. A obra poderá ser vista todos os dias a partir das 9h no Capitólio, assim como a videoinstalação “Bye Bye Deutschland”, de Barbara Wagner e Benjamin de Burca.

Outros destaques da programação são “Era uma vez Brasília”, de Adirley Queiroz, diretor do aclamado “Branco sai, preto fica” (2014), e “Sol Alegria”, de Tavinho Teixeira e Mariah Teixeira. Ambos se passam em diferentes realidades distópicas. O primeiro, premiado no Festival de Brasília, é uma obra de ficção científica em que um agente intergaláctico recebe, em 1959 a missão de vir para a Terra matar o presidente brasileiro Juscelino Kubitschek, mas sua nave se perde e acaba aterrissando em 2016.

“Sol Alegria” se passa em uma realidade distópica não tão distante | Foto: Reprodução/ Facebook

Já “Sol Alegria” se passa em um momento em que o país é governado por uma ditadura composta por uma junta militar, enquanto pastores corruptos pregam o apocalipse. Uma família excêntrica, estrelado pelos próprios diretores do filme – que são pai e filha – viajam pelo interior do Brasil com o objetivo final de chegar à salvo na aldeia da Falange Sol Alegria.

Além da mostra competitiva, o festival também conta com uma mostra especial. O artista convidado desta edição é o alemão Philip Widmann, que apresenta a Mostra Topographical Translations. Em sua obra, Widmann, que estará presente no festival, questiona a troca de experiência entre culturas, linguagens e presenças, assim como explora as possibilidades de uma mediação que transcende as subjetividades individuais.

Também compõe a programação a mostra Existir/Resistir, realizada pelo Duo Strangloscope, dos realizadores Cláudia Cárdenas & Rafael Schilchting, que traz à tona questionamentos e diálogos que surgem em tempos de mudança. Serão realizadas ainda duas oficinas: Câmera Causa e Crítica no Brasil Hoje, além do Seminário Pensar a Imagem, com a artista visual e professora Elaine Tedesco, o professor James Zortéa e a jornalista e professora Maria Henriqueta Creidy.

Confira a programação completa no site do evento.


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