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2 de outubro de 2018
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22:55

Idosos protestam contra suspensão de aulas de yoga e dança no Tesourinha

Por
Luís Gomes
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Usuários do Tesourinha protestam contra a falta de professores de Educação Física | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Luís Eduardo Gomes

Marta Tavares, 66, faz aulas de yoga terapêutica no Ginásio Tesourinha desde o início do ano. Moradora do bairro Santa Tereza, na zona sul de Porto Alegre, ela diz que resolveu testar a modalidade quando soube que as aulas eram oferecidas de forma gratuita pela Prefeitura. Ela destaca que logo percebeu os efeitos positivos dos exercícios corporais e respiratórios praticados.

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“Na primeira aula, eu senti toda a modificação no sentido de bem-estar do corpo e da mente. Na sequência, cada vez melhor, cada vez melhor. Eu não tomo nem aspirina hoje”, conta.

Ela diz que se surpreendeu tanto com os benefícios que resolveu pesquisar na internet para saber mais e descobriu que a modalidade ajuda a prevenir problemas reumatológicos, problemas musculares e nas articulações. “Faz com que a gente se sinta vivendo bem melhor, mais confiante, com mais equilíbrio. Aconselho a todo mundo”.

Na última semana, contudo, ela foi informada de que a professora de yoga seria transferida para uma escola da rede municipal. Nesta terça, Marta e um grupo de usuários do ginásio aproveitaram a abertura dos Jogos Municipais da Terceira Idade, que ocorrem a partir de hoje no Tesourinha, para protestar contra a paralisação das aulas. Durante o ato, ela produziu um cartaz pedindo o retorno da atividade.

Marta Tavares (centro) e colegas de yoga protestaram pela normalização das atividades | Foto: Guilherme Santos/Sul21

A medida faz parte de uma decisão da Secretaria Municipal de Educação (SMED) de convocar os professores de educação física que estavam ministrando aulas de esportes no ginásio e em praças e parques da cidade para atuarem nas escolas municipais. No entanto, a Prefeitura de Porto Alegre diz, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Esporte (SMDSE), que as vagas serão supridas pelos 57 professores próprios do quadro da pasta e que todas as atividades de esporte e lazer oferecidas atualmente pela Prefeitura serão mantidas.

No Tesourinha, são oferecidas para crianças e adolescentes aulas de basquete, ballet, beach tennis, futsal, ginástica artística, handebol, judô, kung fu e vôlei. Para adultos e idosos, são oferecidas aulas de alongamento, beach tennis, caminhada, capoeira, condicionamento físico, danças circulares, dança para 3ª idade, dança, dança agro, grupo de convivência, ginástica localizada, ginástica chinesa, yoga terapêutica, musculação e Tai Chi.

Elaine Gonçalves Ruiz, presidente da Aagites | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Prazo de uma semana

Elaine Gonçalves Ruiz, presidente da Associação de Amigos do Ginásio Tesourinha (Aagites), que colabora na manutenção da estrutura, diz que o ginásio está com cinco professores a menos desde a semana passada, o que inclui as atividades de dança, yoga e horários de musculação. Ela diz que, após conversa com a Prefeitura, se conseguiu evitar a transferência de professores de judô e ballet para as crianças. “Foi uma coisa que nós não estávamos preparados. Fomos avisados num dia e no outro não tinha aula”, diz.

A presidente da Aagites afirma que representantes da SMDSE pediram uma semana de trégua para que a situação fosse normalizada. Ela diz que se aulas não forem normalizadas nesse tempo, os usuários e a associação vão se organizar para fazer “um barulho mais forte”. Se a secretaria não nos trouxer professores na semana que ela pediu, aí a gente vai para frente da Prefeitura, fazer uma aula de dança, fazer a gritaria lá na frente. Como diz o outro, incomodar um pouco”.

Uma das professoras remanejadas do Tesourinha, que pediu para não ser identificada, diz que foi avisada da mudança segunda-feira da semana passada e transferida na última quarta-feira para uma escola da rede municipal. “Nós fomos todos lotados em escolas que já estavam pré-determinadas nominalmente. Ninguém pegou regência de classe, não tem ninguém dando aula de Educação Física”, diz a professora. “Se tivesse necessidade de professores de Educação Física na rede, eu até entenderia. Mas não tem, a gente está chegando nas escolas e sendo encaminhado para refeitório, coordenação de turmas, monitor de recreio”.

A professora diz que dos 1,1 mil alunos das atividades oferecidas no Tesourinha, cerca de 900 são idosos. “Vai dar uma baixa na saúde, porque aqui eles estão trabalhando com prevenção, com socialização. Muitos chegaram aqui com depressão e, formando um grupo, a pessoa começa a conviver, a depressão se ameniza”, diz.

Protesto marcou primeiro dia dos Jogos Municipais da Terceira Idade | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Maria Miguelina, 64, moradora do bairro Santo Antônio, reclama que os alunos não foram comunicados da suspensão das aulas e diz que recebeu uma ligação da Prefeitura perguntando se ela não tinha interesse em praticar alongamento. No entanto, diz não estar disposta a trocar de modalidade.

“Eu sou costureira, nunca tive condições de pagar yoga, que é bem carinho aí fora. Eu comecei a fazer aqui e melhorei muito”, diz. “É uma melhora quase incalculável para a nossa idade. Eu tinha pressão alta, não tenho mais. Eu não tomo medicamento nenhum, tô com 64 anos. Melhorou as dores. Eu tenho dores nas articulações e melhorou muito. Sem contar que a mente melhora. Dá mais vontade de se cuidar, a auto-estima melhora”.

A presidente da Aagites também concorda que mudanças do tipo não seriam bem feitas. “O yoga é um trabalho e o alongamento é outro. Não é a mesma coisa. Ninguém aceita. Como não aceita quem faz dança circular ir para outra dança. Isso vai causar uma dor, uma mágoa, uma tristeza. E onde nós vamos parar? Lá no posto”.


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