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12 de outubro de 2018
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12:34

‘Espaços de integração são necessários nesse momento’: senegaleses promovem festival em Porto Alegre

Por
Sul 21
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Macodou Seye mora há quase quatro anos no Brasil. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Giovana Fleck 

Quando Macodou Seye chegou ao Brasil, em 2014, não conhecia ninguém. Nascido no Senegal, ele decidiu imigrar em busca de oportunidades de estudo e emprego. Lembra do motivo que o levou a escolher Porto Alegre: “Estava em Caxias do Sul. Não conseguia encontrar trabalho. Então, ouvi falar de Porto Alegre. Pensei que essa Porto Alegre poderia ser um porto alegre para mim. Então, cheguei aqui e achei uma vaga na construção civil.”

O Senegal é um dos 25 países com o pior Índice de Desenvolvimento Humano do mundo. Apesar de não ter sua história recente marcada por conflitos internos – como vários outros do continente africano – a falta de trabalho implicou em uma saída do país massiva, intensificada entre 2010 e 2016. Segundo dados do Centro de Atendimento ao Migrante (CAM), instituição de Caxias do Sul que acolhe muitos senegaleses como Macodou, atualmente, cerca de mil imigrantes do Senegal estão no Rio Grande do Sul.

“Aqui é o nosso país e o futuro do Brasil é o nosso futuro. Temos que fazer a nossa parte e pregar a paz”, diz Mor Ndiaye. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Dois meses depois de chegar à Capital, ele se envolveu com a Associação dos Senegaleses de Porto Alegre. Mas, mais do que isso, conheceu Mor Ndiaye – que já estava no Brasil desde 2008 e é presidente da associação. Macodou, que já tinha uma empresa no Senegal na área de eletricidade predial, se juntou a Mor e a mais outros dois amigos para abrirem o próprio negócio no setor de construção civil. “As pessoas nos dizem que somos corajosos por começar um negócio agora. Mas saímos do Senegal e chegamos até aqui. Pra quem passa por isso, abrir uma empresa não é difícil. Temos que participar economicamente. Você nunca ouviu falar que imigrantes chegam ao Brasil para roubar empregos? Queremos fazer justamente o contrário. Estamos oferecendo empregos”, define Mor.

Sobre a transição, os dois concordam que o processo é constante. Macodou falava francês, espanhol e inglês mas, apenas recentemente, passou a se sentir seguro com o português – chegando a ter um pouco de sotaque gaúcho. “Até hoje eu estou me adaptando. A cada dia eu me surpreendo aqui. Eu acho que nunca vou me adaptar de verdade”, diz Mor, rindo.

Por isso, a Associação busca integrar e aproximar os imigrantes e os brasileiros através da cultura senegalesa. “No Senegal, faz parte da nossa vida formar associações. É o que nos aproxima. Todas as comunidades senegalesas têm associações, é natural. Cada bairro tem a sua. Elas não precisam funcionar com renda própria ou com uma sede, basta termos a união. Nos associamos para ajudar uns aos outros e preservar nossa cultura”, explica o presidente.

Há oito meses, os sócios discutem como organizar um evento que fique marcado no calendário da cidade. Assim, lançaram o 1º Festival de Arte e Cultura Senegalesa, que acontecerá entre os dias 13 e 14 de outubro (sábado e domingo). “Um povo sem cultura acaba se envolvendo com violência. Infelizmente, o Brasil está passando por um momento turbulento, cheio de radicalismo. O Senegal é um dos países mais pacíficos do mundo. Temos uma consciência muito forte em relação ao diálogo e à igualdade. Por isso, entendemos que espaços de integração são necessários nesse momento, para nos aproximarmos”, diz Mor. “Aqui é o nosso país e o futuro do Brasil é o nosso futuro. Temos que fazer a nossa parte e pregar a paz.”

Com entrada franca, a programação conta com um desfile de moda, comidas típicas, exposição de arte, teatro, música, danças tradicionais, exibição de filme e a luta livre Laamb. O evento acontecerá no Memorial do Rio Grande do Sul.  O desfile apresentará 24 figurinos típicos confeccionados pelos imigrantes em Porto Alegre, cujos tecidos vieram em grande parte do Senegal. No Clube do Comércio, será oferecido um almoço no Festival de Gastronomia Senegalesa. Além disso, uma exposição de arte apresentará obras, entre quadros, artesanatos e tecidos, de Ousmane Mathurin Ndiaye, Binetou Gueye e Cristiano Barero.

Confira a programação completa: 

O quê: 1º Festival de Arte e Cultura Senegalesa

Quando: Sábado e domingo (13 e 14), das 10h às 18h

Onde: Memorial do Rio Grande do Sul (Rua Sete de Setembro, 1020 – Centro Histórico de Porto Alegre)

13 de outubro (sábado):

10h – Desfile de moda com roupas tradicionais;
12h às 14h – Festival de Gastronomia Senegalesa (Clube do Comércio);
14h – Exposição de arte senegalesa;
16h – Música tradicional e apresentação de danças típicas;

14 de outubro (domingo):

10h – Teatro e exposição;
12h às 14h – Festival de Gastronomia Senegalesa (Clube do Comércio),
14h – Apresentação da luta tradicional Laamb;
18h – Apresentação de cinema, seguido de roda de conversa com os senegaleses;

 


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