Geral
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8 de junho de 2018
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19:17

Bebê morto após parto prematuro se torna símbolo da resistência no Largo do Paissandu

Por
Sul 21
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Vítimas do desabamento e do descaso seguem no acampamento. Foto: Vinícius Lima/RBA

Vinícius Lima
Da RBA

Raphaelly Vitória é novo nome da ocupação formada pelas famílias acampadas no Largo do Paissandu, centro de São Paulo, que nesta sexta-feira (8) completa 39 dias. O título homenageia a filha da auxiliar de cozinha Jaqueline da Silva Moraes, 24 anos, e do ambulante Rafael Alves Ribeiro, 28.

Vítima do incêndio seguido de desabamento do edifício Wilton Paes, o casal de sem-tetos perdeu o bebê logo após o parto prematuro de Raphaelly, aos 7 meses de gestação, na quarta-feira (6), em pleno acampamento.

Jaqueline entrou em trabalho de parto às 17h30. Segundo Rafael e amigos acampados, a ambulância demorou cerca de 50 minutos para chegar no local. “Minha esposa me chamou porque estava sentindo dores, quando fui ver dentro da barraca, a minha filha estava nascendo. No meio do parto, a PM interrompeu, disse que eles assumiriam a partir dali. Do nada, chega bombeiro e ambulância”, disse Rafael.

Acompanhado de um advogado voluntário, Rafael foi ao 2º DP para depor sobre o óbito. Jaqueline foi levada à UTI da Santa Casa, no bairro de Santa Cecília. No Boletim de Ocorrência de Rafael, foi comprovado que ele residia no “Prédio de Vidro”, como era popularmente conhecido o Edifício Wilton Paes. Jaqueline já recebeu alta e está num apartamento próximo ao Largo do Paissandu, emprestado por voluntários atuantes na ocupação.

Foto: Vinícius Lima/RBA

“Se alguém achava que a gente estava aqui de brincadeira, agora está vendo que a coisa é séria. Tem gente morrendo aqui na praça. Isso não é brincadeira, é a nossa vida”, enfatiza Rafael.

Segundo a Secretaria de Habitação, das 171 famílias cadastradas na ocupação antes da tragédia, 146 já estão recebendo auxílio-aluguel. Das 300 famílias que fizeram o pedido de assistência depois da tragédia, apenas 67 conseguiram comprovar algum vínculo com a ocupação. A prefeitura afirma que os pais de Rafaela não estavam no cadastro inicial, mas que foram incluídos após o ocorrido e após comprovarem com o Boletim de Ocorrência.

A ocupação segue no Largo do Paissandu, agora com um símbolo de resistência: Rafaela Vitória. Diariamente os moradores recebem doações de diversas instituições e pessoas, mas Rafael afirma, “não queremos só doações, queremos moradia. Abrigo não é lugar para a gente morar. A gente quer casa”. Outras pessoas que estão por lá enfatizam a necessidade de lonas para se proteger da chuva.

O velório de Raphaelly Vitória será nesta sexta-feira (8), no cemitério da Vila Formosa, às 21h. Segundo moradores da ocupação, “é de extrema importância a presença de outros movimentos neste dia do velório”. Ainda não existe previsão para um ato. De acordo com Rafael, “vamos esperar o luto passar, pois queremos que a Jaqueline seja uma linha de frente quando fizermos alguma coisa”.


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