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16 de maio de 2018
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14:49

‘Loucura não se prende’: Caminhada inicia Semana de Luta Antimanicomial em Porto Alegre

Por
Sul 21
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Manifestantes protestaram pelo fim das internações compulsórias e pelo atendimento humanizado. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Giovana Fleck

Como parte da Semana de Luta Antimanicomial, dezenas de manifestantes se reuniram para protestar contra internações compulsórias e defender o tratamento em liberdade. “Loucura não se prende, saúde não se vende!”, gritavam, em caminhada que percorreu a rua Riachuelo até a Assembleia Legislativa, onde ocorre uma audiência pública, convocada pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente e intitulada ‘Saúde mental no RS: debates e reflexões’.

O deputado estadual Adão Villaverde (PT) afirma que há uma pressão para que projetos discutidos dentro da AL sobre saúde mental tenham repercussões negativas dentro da sociedade civil. “Defendemos um tratamento humano, de relações e de cuidado. Infelizmente, nesse momento de retrocesso, certos projetos são estigmatizados como se fossem ‘de baixo valor’. O movimento da luta antimanicomial é um movimento de resistência e temos iniciativas para quebrar preconceitos sobre a loucura. Não podemos amplificar o preconceito.” Como exemplo, ele cita a Caminhada do Orgulho Louco, que surgiu de projeto sancionado em 2015 pelo governador José Ivo Sartori (MDB) e que aprovou o evento anual como parte do calendário de Alegrete.

“Defendemos um tratamento humano, de relações e de cuidado”, afirma Adão Villaverde. Foto: Joana Berwanger/Sul21

A cidade do oeste do Estado virou referência na luta antimanicomial nos últimos anos. Os Centros de Proteção Psicossocial (Caps) têm participado de um programa de ampliações de serviços da Secretaria da Saúde local, contando com suporte residencial e garantindo atendimento especializado.

Vestida de palhaça, com uma peruca branca e rosto desenhado com tinta colorida, Xica Carvalho é a musa da parada ‘Maluco Beleza’. Também é uma das agentes comunitárias dos Caps de Alegrete. Junto com outras duas colegas, ela veio para Porto Alegre para participar da semana de luta e promover a assistência em liberdade como política principal no Rio Grande do Sul. “Não convém à nossa sociedade prender gente inocente. Em Alegrete a situação é maravilhosa, mas tem que ser em todo o lugar.”

Maria Geneci Flores da Rosa, a Ge, é moradora do Residencial Terapêutico Nova Vida, o único em Porto Alegre administrado pela Prefeitura. Antes disso, passou seis anos em uma das 19 instituições psiquiátricas de Cachoeira do Sul. “Hoje, eu to aqui para que haja menos pessoas internadas. Tem que ter menos pessoas no hospital.” No cartaz que sua amiga carregava, Ge escreveu ‘Queremos liberdade’. Ela levanta sua manga e mostra a cicatriz que carrega no antebraço. “Nos seis anos que eu fiquei lá, meus parentes nunca me visitavam. Eu ficava nervosa. Eles me amarravam e me deixavam contida por dois dias. Eu tinha que fazer o que tinha que fazer na cama”, conta, apontando para o corpo onde lembra de ter sido amarrada. “Hoje, é tudo muito bom. Se eu precisar conversar com uma pessoa, eu tenho assistência. Se não, eu fico escutando minhas músicas”, resume.

A caminhada levou os manifestantes até a Assembleia Legislativa, onde participaram de uma audiência pública. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Salete de Moura é uma das funcionárias do residencial. Ela explica que o espaço conta apenas com uma casa hoje, sendo o único na Capital preparado para atender pacientes com foco na desinstitucionalização. Lá, os funcionários e médicos não usam jaleco – o ambiente é pensado para trazer o máximo de conforto e intimidade. “Os nossos ex-internos voltaram a estudar, a trabalhar. Alguns têm suas casas, outros retomaram contato com a família. Mas a demanda para isso é muito maior”, pontua. Salete conta que mobilizou funcionários e usuários do residencial para participar da manifestação para incentivar a ampliação de serviços como esse. “Qualquer um que veja as condições de um hospital psiquiátrico hoje vê que não há como reabilitar uma pessoa lá dentro. Até porque já começa errado, reduzindo o ser humano a um diagnóstico.”

Confira como foi o 18 de maio no ano passado:

Veja mais fotos:

Ge, segurando uma das placas que produziu para a manifestação. Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21
Funcionários e usuários do Residencial Terapêutico Vida Nova. Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21

 


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