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9 de maio de 2018
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15:32

Ex-funcionário da Carris acusado de desviar R$ 1,7 mi teria tirado a ideia de um filme, diz promotor

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Sul 21
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Oficiais do Ministério Público Estadual, durante o mandado de busca e apreensão realizado na casa do investigado, na Zona Sul de Porto Alegre. (Foto: MP/RS)

Giovana Fleck

“Vi em um filme”, teria respondido Ivsem Gonçalves, ao ser questionado se teria algum vínculo com a criança cujo nome usou para falsificar documentos. A conversa informal se deu entre Ivsem e o promotor de Justiça e coordenador das investigações, Flávio Duarte, durante a execução do mandado de busca e apreensão contra fraude de R$ 1,7 milhão na Carris. “Ele disse que não conhecia familiares nem nada. Baseado nesse filme, ele foi ao [Cemitério] São Miguel e Almas e procurou aleatoriamente uma lápide de alguém que teria nascido numa época similar a dele para justificar sua idade”, conta Duarte.

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No início da manhã desta quarta-feira (9), o Ministério Público Estadual cumpriu três mandados de busca e apreensão; um contra Ivsem e outros  contra seus dois filhos. “O núcleo dele”, segundo o promotor. Eles são acusados de desviar, entre 2015 e 2017, cerca de R$ 1,7 milhão da Companhia Carris Porto-Alegrense. O esquema se baseava em identidades falsas usadas por Ivsem, ex-funcionário da Companhia. O documento falso foi feito em 1996, com nome de uma criança de três anos – nascida em 1958 e falecida em 1961.

Duarte afirma que o esquema foi denunciado por um funcionário atual da Carris. A partir da denúncia, o promotor começou a examinar o cadastro de todos os servidores da companhia. Quando a ficha de identificação utilizada por Ivsem foi acessada, Duarte afirma ter lembrado que já havia visto a foto em algum lugar. Assim, foi confrontar o investigado para comprovar as semelhanças entre seu rosto e a foto no documento. “Chegamos a fazer uma perícia nas digitais do morto com as supostas digitais dele [nos documentos] e cruzaram perfeitamente.”

Com o nome falso, Ivsem teria se declarado vítima de um acidente e acabou sendo idenizado em R$ 365 mil pela Carris. Depois, falsificou a inscrição de outro falecido na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para conseguir, como advogado, ações indenizatórias em nomes inventados. No total, o MP apura cerca de R$ 1,7 milhão desviados. O dinheiro teria ido para uma conta, criada também com identidade falsa, de pessoas vinculadas a Ivsem. Logo, foram adquiridos veículos e joias no nome do morto.

Carro apreendido que está em nome de criança falecida em 1961. (Foto: MP/RS)

Segundo Duarte, as adulterações foram feitas a partir de processos já executados. Assim, bastaria apenas uma confirmação no número do processo para que se averiguasse a quem as indenizações seriam destinadas. “Ele falsificou muitos documentos, e-mails, cálculos do Tribunal de Justiça, além das próprias sentenças.” Assim, a segunda fase da investigação deverá apurar os motivos que levaram as fraudes a acontecer por tanto tempo. “Bastou trocar a administração para que – quase que de forma imediata – as fraudes fossem percebidas”, pontua.

Outra vertente da apuração do Ministério Público diz respeito à doações de campanha de Ivsem para o PMDB (hoje, MDB – Movimento Democrático Brasileiro). O promotor revele que o acusado teria feito repasses para vereadores, a partir de 2015. Além disso, antes do período de desvios apurados pelo MP, em 2014, Ivsem teria doado para campanhas do partido para o governo do Rio Grande do Sul. “Foram doações em nome próprio, em nome do morto e de pessoas para quem ele teria passado o dinheiro oriundo da fraude.” Segundo o promotor, será averiguado se isso compõe, de fato, o esquema de desvios. Segundo ele, os valores repassados para o partido seriam bem menores que o total da fraude. “Pelo menos os valores formalizados”, completa.

Por enquanto, Ivsem ainda é protagonista nas investigações. No entanto, Duarte diz que determinadas circunstâncias indicam que não haveria possibilidade de ele agir sozinho. O promotor afirma que o investigado teria confessado, enfatizando que agiu sozinho. A partir de agora, segundo Duarte, os objetos apreendidos deverão gerar novos indícios que poderão conduzir o MP a novos nomes.

 


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