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25 de maio de 2018
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17:26

Crise em Porto Alegre? Onda de consumo é provocada por medo de escassez

Por
Sul 21
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Na padaria Pão de Açúcar, prateleiras permaneceram cheias. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Giovana Fleck 

Prateleiras vazias, empurra-empurra, carrinhos abarrotados e funcionários sem entender nada. Quinta-feira (25) em Porto Alegre foi caótica para clientes de supermercados da rede Zaffari. Desorientados pelo medo da falta de suprimentos, provocado pela greve dos caminhoneiros no país, consumidores correram às lojas ávidos por produtos como pães de forma, papel higiênico e água engarrafada.

O episódio de ontem motiva um olhar mais atento sobre os paradigmas de abundância e escassez. Em estudo divulgado pelo Instituto Educadigital (IED), argumenta-se que o pensamento de que não há o suficiente para todo mundo dá orgiem ao medo e à disputa por dinheiro e bens materiais.

Estantes de pães nos supermercados Zaffari ficaram vazias. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Por volta das 20h, a loja localizada dentro do shopping Bourbon Country representava o que todos temiam, a escassez. Alguns clientes fotografavam as prateleiras sem produtos e legendavam as fotos com referências à atual situação da Venezuela, ou a um apocalipse. “Se baixarmos a malha de ferro, com certeza terá gente batendo na porta”, disse uma das caixas do supermercado para uma colega, rindo ao ver pessoas entrando correndo dentro da loja. Mas em nem todo lugar a situação era essa.

Escassez?

A busca por estoques de comida não chegou ao Mercado Público de Porto Alegre. “O movimento diminuiu 30%, 40%”, afirmou o proprietário da Banca Central, Genaro Laurito. Ele atribui a queda à tabela reduzida dos ônibus e à falta de combustíveis. Ainda assim, afirma que não há falta de produtos, mesmo que muitos dos salames, queijos e compotas pelos quais a banca é conhecida venham da Serra. “Ainda tem um ponto trancado por ali. Vamos ver como fica nos próximos dias”, disse despreocupado.

Apesar da Ceasa/RS (Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul) ter divulgado uma nota afirmando que está sendo afetada pela greve em sua comercialização, os estoques dos comerciantes no Mercado duram em torno de sete dias. As carnes são os produtos entregues com maior frequência. Ainda assim, as vitrines estavam cheias na manhã da sexta-feira (25).

O proprietário da Banca 11, Jorcir Almeida afirma que seus fornecedores são produtores locais, por isso não houve alteração nas entregas. Foto: Joana Berwanger/Sul21

José Carlos Vieira tem 72 anos e é funcionário da Banca 43. Trabalha no mercado desde os 12 anos. Ele diz que apenas em momentos pontuais viu uma baixa tão grande nas compras ali. “Ontem foi um fracasso. Hoje, pelo jeito, vai ser a mesma coisa. Temos 25 funcionários que ficaram parados. Nunca tinha visto eles parados por tanto tempo. As pessoas preferiram os supermercados, acho que pela proximidade [com áreas residenciais].”

Na padaria Pão de Açúcar, pães de forma, pães franceses e pães sovados – raridades no Zaffari de quinta-feira – eram abundantes. “Ontem foi muito fraco, hoje está pior ainda”,  afirmou a gerente Viviane Lenhart. “Mantemos um estoque grande de farinha, então estamos tranquilos por algumas semanas.”

Na Banca 11, também não há falta de produtos. O proprietário, Jorcir Almeida afirma que seus fornecedores são produtores locais, por isso não houve alteração nas entregas. “Enquanto tiverem combustível para os caminhões, não tem motivo para faltar nada”, completa, apontando para as frutas e verduras que transbordavam nas caixas.

“O movimento diminuiu 30%, 40%”, afirmou o proprietário da Banca Central, Genaro Laurito. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Não há mais gasolina em Porto Alegre

Segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes no Rio Grande do Sul (Sulpetro), de fato, não há mais gasolina comum e etanol nos postos de Porto Alegre. Ainda é possível abastecer com diesel, mas a reserva deve acabar em breve. “O último abastecimento foi realizado na segunda-feira. Os tanques têm capacidade para reservarem o suficiente para alguns dias”, explica o sindicato.

No entanto, a situação de alarde que fez com que os motoristas estocassem combustíveis fez com que as reservas acabassem muito antes do previsto. A partir da abertura dos bloqueios, a situação deverá se normalizar em dois ou três dias. “Os caminhões têm que entrar nas bases, receber o carregamento na refinaria, ir até a distribuidora – onde é adicionado etanol na gasolina e biodiesel no diesel – e, somente depois, vão para os postos”, informou o sindicato, por meio de sua assessoria.

Como forma de economia, os transportes coletivos de Porto Alegre seguiram com atendimento emergencial nesta sexta, com ônibus de hora em hora a partir das 8h30 às 17h, voltando ao horário regular às 19h30 até 23h30.

Outros serviços, como o recolhimento de lixo e a distribuição de água, seguem normais na Capital. Segundo a Secretaria de Serviços Urbanos, ainda não há acesso aos aterros de Minas do Leão. No entanto, foi acordado junto com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Sustentabilidade que a estação de transbordo da Lomba do Pinheiro continuará armazenando os resíduos. Os caminhões de coleta estão sendo abastecidos na sede da Carris. Não há previsão de quanto tempo deverão durar os combustíveis, mas as secretarias garantiram que o serviço deverá operar normalmente nos próximos dias.

O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) afirmou que a situação é “absolutamente normal”, não havendo motivos para a falta de água na cidade. O departamento diz, ainda, que a possibilidade do desabastecimento de químicos para o tratamento da água é falsa. Na manhã de sexta-feira, a Corsan informou que ainda não há desabastecimento de água nas cidades que atende por falta de produtos químicos para tratamento. Apesar de ter alertado para o risco de comprometimento da distribuição nas regiões Sul e Central do Estado, afirmou que já estão previstas entregas de sulfato de alumínio e cloro para atender essas áreas.

O Hospital de Clínicas divulgou na quinta-feira uma nota alertando sobre o baixo estoque de oxigênio e alimentos perecíveis para seus pacientes. Na noite do mesmo dia, no entanto, os reservatórios foram completamente reabastecidos, com previsão de durarem cinco dias. Segundo a assessoria do hospital, um novo carregamento deve chegar no início da próxima semana. Esse foi o único hospital a reportar problemas em seus estoques. Ainda assim, a Secretaria Municipal da Saúde informou que “não existe risco momentâneo de falta ou restrição de medicamentos”. “Desde o ano passado temos mantido uma política de estoques para 40 dias, sempre prevendo que ocorra alguma adversidade.” As ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) estão abastecidas, segundo a secretaria, com a reserva técnica de combustíveis.

Confira mais fotos: 

Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21
Movimento na padaria Pão de Açúcar na manhã da sexta-feira (25). Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21

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